terça-feira, junho 30
mais montanhas de mimo blogosférico
Escrito/editado por Marta 1 Terráqueos
Etiquetas: blogs que leio, selos
segunda-feira, junho 29
Benuron party
Mesmo no fim das férias, fazem-se descobertas extraordinárias!
Eu conheço uma pessoa que toma Benuron como quem dá cá um halls! Um Benuron para quando não dói, um Benurom para quando há a possibilidade de doer, dois Benurons para quando dói efectivamente. A cabeça! O braço, a perna, a alma! Não importa! O importante é ter Benuron sempre à mão. Eu conheço uma pessoa que não se desloca sem Benurons no bolso, na mochila e numa terça parte da mala de viagem! Uma pessoa que inclui os Benurons na lista de super-mercado e/ou em qualquer lista que faça! Uma pessoa que oferece Benurons, como quem oferece pipocas! Uma pessoa que louva o Benuron como se fosse o deus do está resolvido! Melhor: a senhora dos remédios! Conheço uma pessoa que não precisa de médicos porque existem bulas médicas! Pessoas sui generis, digo eu, que tomo um BenuroN por ano!
Agora não conheço só uma pessoa. Conheço duas! O Pedro e o João gostam tanto, mas tanto de Benuron que resolveram organizar a Benuron party! Pelo sim e pelo não. Para prevenir! Não nos faltem noites temáticas.[Nem Benurons!] Verão adentro. Noite fora!
[as inscrições estão abertas] ENTRADA: uma caixita! Dentro da validade, claro!
Escrito/editado por Marta 22 Terráqueos
Etiquetas: benuron, gente diferente mas especial :)
faz de conta
Faz de conta que a minha secretária não está assim!
E faz de conta que o regresso não me está a custar nadinha!
Foram poucos - é certo - mas foram muito bons! E não é preciso fazer de conta quando fecho os olhos e me imagino, ainda, no pedaço de céu a que tive direito POR ESTES DIAS! Eu depois explico! Tudinho. Para já SAUDADES. Vossas. Que começarei a matar ainda hoje, ao anoitecer.
Escrito/editado por Marta 10 Terráqueos
Etiquetas: regresso férias
domingo, junho 21
Uma quadra popular, pró S. João festejar

Ó Anjo da minha guarda
Quem vos varreu o terreiro?
As cachopas de Alpedrinha
C'um raminho de loureiro.
S. João adormeceu
Debaixo da laranjeira,
Cobriu-se todo de flores,
S. João que bem que cheira.
Na noite de S.João
Vou fazer uma fogueira
Com folhas de verde louro
Com rosmaninho que cheira.
Hei-de deixar ao relento
Uma folha de figueira
Se S. João a orvalhar
Hei-de encontrar quem me queira.
Escrito/editado por Marta 20 Terráqueos
eu volto daqui a nada
Escrito/editado por Marta 12 Terráqueos
Etiquetas: férias
Queria tanto entender
« [...] No Santo Sepulcro não sentes nada. Eu não senti nada. As pessoas beijam uma lage que foi ali colocada no princípio do século XIX. Beijam a laje como se ela fosse o local exacto onde o corpo de Cristo foi depositado. Não acredito. As diferentes igrejas de índole cristã disputam o espaço do Santo Sepulcro, há uma custódia repartida, como se o espaço fosse uma criança e as igrejas os seus pais separados. Chamam-lhes Status Quo. Para que não haja lutas e desavenças as chaves do Santo Sepulcro, duas chaves, foram entregues a duas famílias muçulmanas há novecentos anos. Todos os dias, às cinco da manhã, abrem a porta velha e vão à sua vida, deixando os peregrinos e os padres fazerem a sua. Regressam às sete e fecham a igreja da discórdia.
É aqui também que se crê estar o Centro do Mundo, simbolizado por uma bacia com água. Olhei-a longamente e, aí sim, senti que perante aquela bacia tosca, de pedra velha, podia estar uma ideia maior que o Homem. O centro do mundo deveria concentrar tudo o que temos de melhor. Os turistas acotovelam-se para ver. Os franciscanos cantavam qualquer coisa. E eu fiquei ali. Queria tanto entender[...].Chegas ao Muro. Homens do lado esquerdo com os kippa na cabeça, mulheres do lado direito. As mulheres são muito novas. Andam de trás para a frente e enfiam o rosto no «Livro das Lamentações» e não lêem, debitam, e é um choro constante que impressiona e arrepia. Os cânticos fúnebres, kinot,enchem-me os olhos de lágrimas. Lembro-me da minha mãe. Saio da zona do Muro às arrecuas, para não ofender a Deus.
Deixo um recado no Muro. Trabalhei nele uma noite inteira. Não sabia o que dizer. Escrevi: Perdoa-me, devolve-me a paz que tinha quando estava no teu regaço, no seio da minha mãe. Deixa-me. Encontra-me. Não posso continuar assim. Ouve-me hoje. Ajuda.me amanhã. Não sei se acredito. Não te minto. Mas hoje ouve o meu coração e junta-o ao teu [...].
Nota 1.[excertos do e-mail que Sara envia à sua amiga Madalena, dando-lhe conta das suas impressões sobre o que viu e sentiu em Israel]
Nota 2. [livro a ler até 11 de Julho, data agendada para o jantar-tertúlia-abrótea-com-maionese-de-toranja. Senhoras e senhores é favor lerem :) Gracinha, eu já sei que o tens...alguém ofereceu ;)]
Escrito/editado por Marta 5 Terráqueos
Etiquetas: amigos, Escritores, jantares, Livros que li, Patricia Reis
Conheço o sal
Escrito/editado por Marta 5 Terráqueos
Etiquetas: Escritores, Jorge de Sena, Poemas que sinto
sexta-feira, junho 19
O solista - o poder redentor da música
Ofereceram-me um livro dele no Natal e, num ápice, devoreio-o. Lopez escreveu O SOLISTA.
O filme vem aí. Dizem. Era para Fevereiro. Li algures. Depois, Abril. Não sei. Estou atenta.
Escrito/editado por Marta 11 Terráqueos
Etiquetas: Cinema, Livros que li, O solista, Steve Lopez
Tempo de cerveja
As cervejas estão a ficar como as águas!
Complexas. Diversas. Múltiplas.
De todas as cores e sabores. Imensas.
Só falta mesmo uma cerveja para emagrecer!
Eu que há muitos anos, aprendi a gostar de cerveja numa esplanada transmontana, onde a possibilidade era só uma – Super-Bock com tremoços – fico sempre surpresa com as novas invenções. Confesso, a de sabor a pêssego não me entusiasma.
Nunca a provei. Nem faço intenção.
Gosto muito de pêssegos. E gosto muito de certa cerveja. Numa garrafa, não me convencem.
Gosto de cerveja preta. Gosto da Stout. E gosto também da Bohemia. E, claro, sempre, da Super-Bock com tremoços. Em recipientes diferentes. Entenda-se. São sabores afectivos.
Como o da Bud - para os amigos - em certos-fins-de-tarde-mais-citadinos-da-minha-vida.
E com ela, contra o tempo, chegam-me as saudades das conversas com a Cláudia. Ali na Foz. Numa esplanada qualquer frente ao mar. Aromas invadem a memória. Fermentam num coração Atlântico. Muito fundo, ao sol. No teu sorriso, uma brisa muito quente.
Escrito/editado por Marta 5 Terráqueos
Para a Malina
com saudades. das palavras. e das partilhas. só isso. ossos do ofício. [inquieto.] de blogger!
Escrito/editado por Marta 6 Terráqueos
Etiquetas: blogs que leio, musicas que ouço
quinta-feira, junho 18
Confissões inconfessáveis

Escrito/editado por Marta 9 Terráqueos
Etiquetas: confissões inconfessáveis, musicas que ouço
Quando a criança era criança
Escrito/editado por Marta 3 Terráqueos
Etiquetas: blogs que leio, Peter Handke, Poemas que sinto
quarta-feira, junho 17
Agir. Agilizar. Não?
A adopção é uma questão que me diz sempre muito. Muitíssimo.
Li na Visão sobre o caso do Martim. E, depois, por coincidência, através de um blogger que deixou aqui um comentário, descobri este blog. Gostei muito. Gostei bastante. De ler. Tantas reflexões pertinentes. Tanta falta de acção. Agir. Agilizar. Amar. Pelas crianças. Por nós. Não?
números, fonte: Visão
Escrito/editado por Marta 13 Terráqueos
terça-feira, junho 16
Abrótea com maionese de toranja
E entretanto ando às voltas com a maionese de toranja. E com a abrótea. Não me sai da cabeça. Eu numa reunião e abrótea com maionese de toranja, Eu no trânsito e abrótea com maionese de toranja. Eu no super-mercado e abrótea com maionese de toranja. Eu no cinema e abrótea com maionese de toranja... Uma obsessão!
E a culpa é da Patrícia Reis. Sim, que isto não é só escrever bem. Comover-nos. Fazer-nos rir. E sorrir. Encontrar identificações. E essas coisas que nos prendem. É preciso pensar nas papilas gustativas do leitor. «Coração, Cabeça e Estômago».
Sim, estou cansada, é certo! Mais frágil, portanto. Mas mesmo que não estivesse. Não é assim, caramba! Devia sair uma lei que obrigasse os escritores a indicarem, em nota de rodapé, a morada dos restaurantes que mencionam nos livros. Se existirem, claro. É preciso pensar nos leitores que adoram experimentar novos sabores! A Sara e o Manuel ainda por cima, nem um nem outro pediram o raio da abrótea com a maionese de toranja. Por isso, chuta para canto. Nem mais uma linha sobre o assunto. Não se faz! Juro que nas férias [para a semana], vou à procura de um restaurante que tenha na ementa abrótea com maionese de toranja. Para já, só encontrei a receita. Não é mau. Existe. Dado que um escritor tem o direito e o dever de inventar. Obviamente. E o restaurante pode nem existir de facto! Mas, no caso, o petisco não é inventado! E eu adoro peixe e maionese e toranja. E uma abrótea com maionese de toranja, já me está a saber deliciosamente. Como o livro. No Silêncio de Deus. Li-o em dois dias. Mas eu depois, digo-vos o quanto gostei. Ou o que mais gostei. Tem pérolas dentro. [Só falta mesmo o nome do restaurante]. Agora a prioridade...exactamente! Se souberem onde, é favor deixarem-me a morada. Obrigada!
Escrito/editado por Marta 15 Terráqueos
Etiquetas: abrótea, Escritores, maionese de toranja, Patricia Reis, Silêncio de Deus
Silêncio e tanta palavra
Escrito/editado por Marta 4 Terráqueos
Etiquetas: eventos, Festival do Silêncio
Quando todos os dias são segunda-feira
Escrito/editado por Marta 5 Terráqueos
Etiquetas: Cansaço
segunda-feira, junho 15
Pronome pessoal tónico; o meu lugar

Quando estou longe e a minha voz, à primeira sílaba, te dá as coordenadas do meu coração;
Quando - choras antes aqui. estou à tua espera, faço-te um chá;
Quando - vou ter contigo, temos de brindar, o momento é único;
Quando no meio da conversa me dizes - ah, é verdade, tens de ler isto, vais adorar;
Quando me trazes um doce, de qualquer lugar - esquece a dieta;
Quando me escreves uma carta [de envelope e selo] a contar as férias e a contar-te a ti;
Quando - estou apaixonado, ela é linda, estás a ver... assim como... lembras-te...;
Quando - anda daí, vamos às compras;
Quando - vais lá cozinhar, divides a cozinha com o João;
Quando vais viajar e - dá de comer ao gato; olha a água, a porta, o alarme;
Quando sonhamos alto - um dia os nossos filhos vão brincar juntos;
Quando palmilhamos a geografia das nossas infâncias, para que nada nos falte;
Quando tomamos café e são cinco minutos uma tarde inteira;
Quando partilhamos todas as histórias de que somos feitos e, ainda, a tarte de maça;
Quando filmes, livros, tupperwares e tabuleiros andam por nossas casas, como se fossem uma;
Quando descobrimos que, afinal, fomos separados à nascença e, por dentro, nem a mãe nos distingue;
Quando ligas a banda sonora das nossas viagens, estrada fora, noite adentro;
Quando se faz mais um silêncio cúmplice ou inventamos um sorriso novo;
Quando a paz de nos termos é o cordão umbilical que nunca cortamos;
Quando se me esquecer, poderás dizer quem sou - o bom e o mau;
Quando dentro do nosso abraço estamos para sempre;
É aí, exactamente aí, nesse pilar monossilábico que assenta o lugar mais acolhedor da minha gramática de afectos. Nós, é o pilar e o lugar. O pronome pessoal tónico que me faz sentir em casa. Que me fará chegar sem nunca partir. Partir, sem nunca me afastar.
[participação na tertúlia virtual]
imagem: daqui
Escrito/editado por Marta 25 Terráqueos
Etiquetas: amigos, amizade, Tertulia Virtual
sábado, junho 13
Sei, enfim, que nunca saberei de mim

o dia dos santos comemora-se no dia em que morrem.

Escrito/editado por Marta 12 Terráqueos
Etiquetas: Fernando Pessoa, Poemas que sinto; Escritores
sexta-feira, junho 12
Um bilhete para o Santo António
Uma das coisas que mais me impressionou, nalgumas igrejas em Itália foi a quantidade de pedidos/agradecimentos escritos a alguns santos. Junto desta imagem de Santo António, na igreja de Santa Maria in Trastevere, podem ver-se os numerosos bilhetes e cartas [bem como algumas fotografias] que os devotos deixam no altar.
A basílica de Santa Maria in Travestere foi, provavelmente, o primeiro local oficial de culto cristão a ser construído em Roma, tornando-se num centro de devoção à Virgem Maria.
De acordo com o meu guia da viagem «a igreja foi fundada pelo Papa Calisto I no século III, quando o cristianismo ainda era um culto minoritário. A igreja actual é, na sua maior parte, uma construção do século XII, notável pelos mosaicos, especialmente os de Pietro Cavallini. Esta igreja tem fortes ligações com a comunidade local».
De Pádua ou de Lisboa o dia, hoje, é dele! E de quem o comemora. Por mim, fico à espera do São João e, já agora, do São Pedro! Ou não fosse o mês dos santos populares.
imagem: Marta [ainda sem as dicas da Zaclis :)]
Escrito/editado por Marta 1 Terráqueos
Etiquetas: Igreja de Santa Maria in Trastevere, Santo António, viagens
Pata. Tia pata.
Quase faz de mim gato sapato! De todos, é o mais irrequieto! Corre, pula, sobe, desce, põe, tira. Tudo numa fracção de segundos. Quer a bola, quer o jogo, quer o Homem Aranha, quer os carrinhos. Quer o mundo de uma vez. Fala imenso. Mas na verdade, só a irmã o compreende! E o traduz.Troca os ÉMES pelos PÊS. E não diz os erres! Sim. Só ele e só ele tem autorização para me chamar PATA. Tia Pata! E eu derreto-me!
O meu querido Migas [Miguel] faz hoje 4 anos!
Parabéns meu amor! É muito bom crescer contigo!
Escrito/editado por Marta 9 Terráqueos
Etiquetas: amor, os meus sobrinhos são geniais
quinta-feira, junho 11
Nem todas as loucas são piedosas
Escrito/editado por Marta 7 Terráqueos
Etiquetas: Alexandre Honrado, biografias, D. Maria I, História de Portugal
Vestígios
Escrito/editado por Marta 3 Terráqueos
Etiquetas: Al Berto, Escritores, Poemas que sinto
Corrente de ar

Escrito/editado por Marta 5 Terráqueos
Etiquetas: Corrente de ar
quarta-feira, junho 10
Depois das Europeias, votem nas Aldeias
Escrito/editado por Marta 4 Terráqueos
Etiquetas: Aldeias de Portugal, blogagem colectiva
terça-feira, junho 9
Chacim - na rota [do coração] da seda
Tinha quinze anos quando me apaixonei por Chacim. E não imaginava que um dia – este – falaria desta aldeia, como sendo a aldeia da minha vida. É. E vou contar-vos porquê.
O melhor das férias grandes era a temporada na casa da tia. O ritual foi sagrado durante alguns anos. Deixar a cidade, naquela altura do ano, foi sempre um caminho com regresso. De carro ou de comboio, Trás-os-Montes era o destino. Naquela altura, era muito, muito longe. Agora, quando faço o IP4 é impossível não sorrir a cada curva cortada ao Marão. Essa estrada alcantilada que me fez vomitar a bílis e perguntar a cada vómito: “ainda falta muito?”. Depois, na adolescência, o comboio da linha do Douro embalava-me a ansiedade de chegar. Dividia o olhar entre a paisagem e um livro. Sentia-me adulta, quando a minha mãe dizia vezes sem conta “juízo, já és uma mulherzinha”. Depois acenava e eu abria a janela para ouvir pela centésima vez “obedece à tia. Porta-te bem.”. À chegada, a minha tia obliterava, sem diminutivos, o que a minha mãe dizia: “olha para ti, estás uma mulher.” E beijava-me e abraçava-me e dizia repetidas vezes “olha para ti, tão grande” E era aí, nesse instante, que eu crescia todos os meus centímetros de Verão.
As férias na aldeia onde a minha mãe nasceu foram, durante anos a fio, o mote preferido para as minhas redacções. Da primária ao ciclo. A viragem deu-se da infância para a adolescência, quando em vez das redacções comecei a escrever “querido diário, eu quero ir para Chacim e não sei como convencer a tia”.
As brincadeiras no pátio da escola ou no adro da igreja, a sombra da fonte ou da figueira da casa da tia Ana Maria, o lavar a roupa no ribeiro com as mulheres da aldeia, o partir feijões na soleira da porta dos vizinhos, o correr atrás de galinhas e perus até levantarem voo, o imitar rãs e patos e as mil e uma coisas diferentes que inventava para me entreter, um dia, deixaram de me seduzir. Os miúdos da minha idade escasseavam de ano para ano. Nesse Verão, não havia nenhum. Noutra aldeia, não muito longe dali, viviam umas primas da minha mãe. Certa tarde, eu e a tia fomos visitá-las e eu já não quis vir embora. Conheci a Jacinta e a Balsinha. E fomos todas até à Avenida, ao café do Senhor Avelino, tomar um Sumol. Chacim não era uma aldeia absolutamente quieta como a da minha mãe. Nem no pico do Verão, quando os xistos ardiam ao sol. Chacim tinha miúdos da minha idade na rua. E tinha biblioteca na Casa do Povo. Esse lugar transformista onde nalguns dias havia baile e, noutros, consultas médicas.
Convencer a tia a deixar-me ficar um fim-de-semana na casa da prima Otília não foi difícil. Difícil foi ficar mais dias.
Numa dessas tardes, na sombra contínua dos plátanos da Avenida, li pela primeira vez poemas que ainda hoje sei de cor. Fiz amigos nascidos em Chacim. Mostraram-me caminhos e montes. Levaram-me a fazer regatas de barcos de papel na Ribeira dos Moinhos. Descobri como as amoreiras já tinham sido rainhas e ouvi as primeiras histórias sobre as ruínas da fábrica da seda. À noite, no Pelourinho, enquanto as casas respiravam pelas janelas abertas, as pessoas juntavam-se para contar histórias de encantar. Foi assim que conheci a lenda de Balsamão. Foi numa dessas noites de amora, que soube o porquê do nome da Balsinha. Maria de Balsamão. Em homenagem à Nossa Senhora que, a três quilómetros dali, habita o santuário com o mesmo nome. A primeira vez que o visitei, foi num final de tarde. Um monte com olivais a perder de vista. Então, como hoje, acreditei: o silêncio nasceu ali.

Paralelamente à história factual, das fontes documentadas, as lendas resistem. De memória em memória. Relativamente à toponímia há duas versões: a do cruel rei mouro e a familiar. A família dos Chacins, cujo brasão de armas tem timbrado um javali – chacim - em português arcaico.
Ocupado sucessivamente por romanos e árabes, a lenda conta que este território foi resgatado com a batalha de Chacim e o milagre de Balsamão. Durante uma sangrenta batalha entre mouros e cristãos, Nossa Senhora terá aparecido com um bálsamo na mão, curando as feridas e revitalizando os combatentes cristãos. A refrega terá sido travada por causa de um rei mouro que obrigava todas as donzelas a passarem a noite com ele, antes de se casarem! A peleia travada e ganha pelos cristãos pôs fim a esse tributo e, desde então o povo, grato, presta culto à Nossa Senhora. E a chacina nunca mais voltou a ter lugar por aqueles montes.
De qualquer das formas, a importância do monte de Caramouro [ou de Balsamão] é incontornável quando se fala desta aldeia. O Santuário de Nossa Senhora de Balsamão, ali edificado, é um templo mariano, dirigido por padres polacos. A História dá conta que em 1733 se iniciou a construção de um hospício, contíguo à ermida, onde, em 1754 se instalou a Congregação de Balsamão. Facto que se fica a dever a Frei Casimiro Wiszynki, padre polaco em missão no nosso país.
Actualmente, apesar de ser um retiro, Balsamão figura ao lado do Solar de Chacim, entre a oferta hoteleira local. Recomendado para quem quer fugir da agitação, o convento acolheu, em 1996, Edgar Morin. O cientista social revelou ter descansado e meditado «neste local privilegiado». Por seu lado, o Solar de Chacim, fica dentro da aldeia. É um palacete convertido ao turismo de habitação. Restaurado e aprazível. Ao pequeno-almoço, entre as iguarias, encontram-se deliciosas compotas caseiras.

Depois da crise de 83, no ano de 1786 foram chamados de Turim José Maria Arnaud e seu filho, Caetano Arnaud, piemonteses, conhecedores profundos da manufactura da seda, no seu país. Depois de um período na capital, foram para Chacim, aliciados pelos bons salários. Foram contratados mais operários piemonteses, cuja mestria levou à criação de uma verdadeira escola de fiação da seda, criando fama. Ali se preparavam veludos, glacés, tafetás, cetins e pelúcias de primeira qualidade, impondo-se rapidamente por todo o reino. Em 1791, a fábrica de Chacim, melhor apetrechada e na qual o Estado investira trinta mil cruzados, era uma das melhores do reino. Mas a existência de diversos problemas levou a uma quebra na produção, acentuada pela entrada em desuso da seda. Em 1811 morre Arnaud-Pai e o Governo extingue as duas corporações de fabricantes de sedas. No entanto, Caetano Arnaud permanece em Chacim já com a fábrica quase parada. Dois anos depois, foram dadas instruções para que a Fábrica de Chacim recuperasse o trabalho ou aumentasse os rendimentos. A dada altura chegou-se ao extremo da produção da seda ser insuficiente para o consumo nacional e recorresse às exportações. Por volta de 1821, Chacim conserva ainda o filatório, mas os fundos da companhia tinham desaparecido devido à má administração que os consumia em despesa e ordenados. A trabalhar por conta exclusiva do Estado e a caminhar inexoravelmente para a ruína, a agonia dura até meados da década de quarenta do último século.

Assente na meseta ibérica, aliás como todo o distrito de Bragança, Chacim é feita de terra xistosa, encontrando-se aqui e ali, manchas graníticas, nomeadamente entre as serras de Bornes e de Nogueira. Montanha e planície coexistem num firme contraste, tornando a paisagem surpreendente. Por todo o lado há pequenos cursos de água, regatos e ribeiros. O rio Azibo murmura sempre muito perto, até encontrar o Sabor que por sua vez desagua no Douro. E tenho a impressão de que o Tua, em noites de silêncio absoluto, também se faz ouvir. Em Chacim é a Ribeira dos Moinhos que levanta a voz por entre giestas, tojos, arça e urze. Ao seu clamor, no tempo em que um pequeno aqueduto levava a água à fábrica da seda, respondiam as amoreiras, que entre os séculos XV e XVIII reinavam entre castanheiros, oliveiras, amendoeiras e outra vegetação arbórea. Ainda se encontram amoreiras em Chacim. E há uma particularmente majestosa. Devido ao Real Filatório foram rainhas sem manto, em cada palmo de terra. Hoje são apenas ícones. Provas vivas, de raiz funda de que por ali passa a Rota Europeia da Seda. Hoje, um percurso cultural e histórico; ontem uma indústria florescente.
A barragem do Azibo não fica longe dali. Por estas bandas, a praia é fluvial. Tomando a aldeia como base, as viagens ao redor de Chacim são muito diversas. As minhas preferidas são entre Maio e Setembro. Talvez porque o frio seco, dificilmente me arranca à borda da lareira. Pois é sabido que o clima, assim o caracteriza o povo, é de extremos. «Nove meses de inverno e três de inferno».
Chacim é uma aldeia, entre as aldeias de Portugal. No meu coração é a aldeia da minha vida. Uma viagem recorrente e única. Visitando-a, visito-me. Encontrando-a, encontro-me. Não é apenas o património edificado e natural; não é só a paisagem e o clima, a lenda e a história. Eu tenho em Chacim uma geografia de afectos, um património afectivo pintado à mão, no meu coração de seda. Chacim não tem apenas as ruínas da fábrica, os resquícios do bairro operário, a Pontinha, a igreja matriz, o solar, o Pelourinho, a casa do povo, a Avenida.
Chacim não tem só as suas gentes, sedas centenárias guardadas nas arcas de madeira, estórias por contar na boca dos anciãos. Montes e amoreiras. Rios e regatos.
Chacim tem a festa popular onde dei os primeiros passos de dança. Tem o mês de Agosto mais desejado da minha vida; o arraial mais animado da minha memória. Tem as ruínas da minha paixão adolescente; tem o café onde aprendi a jogar matraquilhos. Chacim tem segredos na soleira da porta da Jacinta, o parapeito da janela mais alta do mundo. O rapaz que me ensinou a jogar ao peão; os plátanos que testemunharam a minha primeira leitura de Chuva Oblíqua. Chacim tem a minha primeira inscrição numa casca de árvore; a minha tristeza do último dia de férias; a minha certeza de que o mundo acabaria, se nunca mais voltasse. Por Chacim passa a rota dos meus sentidos. Do meu sentir o mundo. Em silêncio.
Escrito/editado por Marta 41 Terráqueos
Etiquetas: Aldeias de Portugal, blogagem colectiva, Chacim
sábado, junho 6
Caderno de emoções
Veio do outro lado do mar, este caderno à flor da pele. Tem o meu nome e, dentro, tem palavras que me comoveram. Muitíssimo. E tem uma receita: Torta Mineira. Para servir gelada. E tem outra receita: Emoções em Estado Puro. Para servir quente.
É um dos lados visíveis de uma amizade que começou à mesa.
Fez-se de uma noite, uma vida inteira. Num ápice. As cumplicidades tomaram a vez do tempo.
Raras vezes acontece assim: a empatia é tal; as afinidades são tantas que fazem acontecer. Coisas boas. Fortes. Importantes. Únicas. A amizade. Ou a outra fórmula. A que não sobrevive à distância. A que não abdica do toque: o amor.
Querida Zaclis, quanto conseguir articular melhor o que sinto, eu venho aqui dizer-to. Como se fosse um segredo para o mundo escutar. Para já, estou tomada pelo “emocionês”. Uma linguagem de difícil expressão escrita, quando não temos à frente a pessoa que, no momento, queremos muito abraçar.
Mais detalhes aqui, no blog do culpado...
imagem: Zaclis, a fotógrafa que também vê com as mãos...
Escrito/editado por Marta 12 Terráqueos
sexta-feira, junho 5
As mãos da Paulina
Conhecem a psicóloga e professora de violino que faz as massagens mais extraordinárias do mundo? Eu conheço. Chama-se Paulina. E mora aqui. Porque há sempre um MODUS!
Eu, hoje, não tinha saído de lá. Aliás, eu nunca sairia de lá. Das mãos dela. DI VI NAS!
Escrito/editado por Marta 7 Terráqueos
Etiquetas: Massagens
Private joke. Melhor: blague privée!
Querida Gracinha, o teu jantar de aniversário "obrigou-me" a mudar os planos de fim-de-semana! Mas os planos fazem-se para isso mesmo. Para os contornarmos, para os alterarmos, para os [des]planearmos. Em maré de surpresas: SURPRESA :) muitos, montanhas, paletes, resmas...! Ou pensas que eu me esqueço! ;)
Escrito/editado por Marta 2 Terráqueos
Etiquetas: amigos, aniversários, jantares
Mais mimo blogosférico
Escrito/editado por Marta 2 Terráqueos
Etiquetas: blogs que leio, selos
quinta-feira, junho 4
Entre os teus lábios
Escrito/editado por Marta 10 Terráqueos
Etiquetas: Escritores, Eugénio de Andrade, Poemas que sinto
Verbo Twittar [esclarecimento à navegação]
Escrito/editado por Marta 11 Terráqueos
Etiquetas: pois não imagino
a noite pede música
vinte, vinte e cinco anos? muitos. tão poucos. nenhuns.
as tuas mãos tão iguais a esses dias.
tão iguais. tão próximas. tão perfeitas.
as tuas mãos são vinte anos de ternura e trinta dias de mar.
Escrito/editado por Marta 1 Terráqueos
Etiquetas: Músicas que ouço, The Cure
O meu olhar é nítido como um girassol
Creio no mundo como num malmequer,
Alberto Caeiro in O Guardador de Rebanhos
Escrito/editado por Marta 8 Terráqueos
Etiquetas: Alberto Caeiro, Escritores, Poemas que sinto
quarta-feira, junho 3
O melhor do mundo à fatia

Escrito/editado por Marta 13 Terráqueos
Etiquetas: bolo de chocolate
Desmentido
ps: o meu coração continuará azul esverdeado, defeito genético :)
ps2: qualquer coisa escrita neste blog sobre carros que vá para além de: é vermelho, azul, rosa, branco, também não fui eu que escrevi! já avisei :)
Escrito/editado por Marta 6 Terráqueos
Etiquetas: blogs que leio, futebol
terça-feira, junho 2
Estou [re] conquistada. Ou seja: completamente azul!

Sabia que uma vitória do meu FC Porto - um saudoso afecto de infância - sobre o Paços de Ferreira significava a sexta “dobradinha” para o clube, que acabou de ser tetra-campeão nacional. Desde logo, gostei de ver futebol à tarde, com uma luz e uma cor só possiveis durante um dia de sol, a contrastar com a habitual circunspecção do jogo à luz dos holofotes. As bancadas pintadas de azul, branco e amarelo, as cores dos dois clubes. Cheirava a festa e a Verão. O Porto ganhou, mais uma vez. Para não variar. Mas o jogo foi fraquinho, pouco intenso e sem qualidade. O Lisandro marcou logo aos 6 minutos e o seu primeiro golo em jogos de Taça (em quatro anos no Porto!) acabou por ser mesmo decisivo. O Jesualdo Ferreira conquistou a sua primeira Taça de Portugal. Valeu bem a pena ter vindo para o Porto, entre os 60 e os 63 anos ganhou mais títulos do que em toda a sua carreira anterior, no qual ganhara...nenhum. Sem ter que se aplicar muito, o Porto foi melhor, graças à superior qualidade dos seus jogadores, mas também devido a uma maior experiência nestas andanças. Basta dizer que foi a 26ª final do Porto (14 vitórias) e a estreia do Paços de Ferreira no Jamor. Mesmo assim os “amarelos” fizeram uma boa primeira parte, com mais posse de bola e remates à baliza, mostrando bom futebol e um atitude corajosa. Isto perante um Porto preguiçoso que se limitou a gerir o esforço e a vantagem no marcador, esperando o erro do adversário para decidir o jogo em contra-ataque.A segunda parte foi diferente. Para pior. Nem o estranho nevoeiro que caiu sobre o Jamor fez aumentar o ritmo de jogo, apesar do Porto ter acordado um pouco, controlando o Paços mais longe da baliza do Nuno. Desta forma, a partida tornou-se ainda menos interessante, sem ocasiões de golo, à excepção dos desperdícios do sempre irrequieto mas trapalhão Hulk.Enfim, a final da Taça não foi brilhante, mas o Porto ganhou! Mais um título (o recorde de títulos do Benfica está cada vez mais em risco...) mais uma dobradinha, mais uma festa na Avenida dos Aliados. E mais uma adepta de (re)conquistada: eu!
Escrito/editado por Marta 17 Terráqueos
Para ti, querida Graça
[minha querida Graçinha: só para te dizer que a vida foi MUITO generosa, quando te colocou no meu caminho! Beijo e TUDO de bom. Hoje e sempre! Parabéns. Muitos. Menina linda e e absolutamente querida :)]
Escrito/editado por Marta 3 Terráqueos
Etiquetas: amigos, aniversários, Sophia de Mello Breyner Andresen