quinta-feira, junho 11
Vestígios
noutros tempos
quando acreditávamos na existência da lua
foi-nos possível escrever poemas e
envenenávamo-nos boca a boca com o vidro moído
pelas salivas proibidas - noutros tempos
os dias corriam com a água e limpavam
os líquenes das imundas máscaras
hoje
nenhuma palavra pode ser escrita
nenhuma sílaba permanece na aridez das pedras
ou se expande pelo corpo estendido
no quarto do zinabre e do álcool - pernoita-se
onde se pode - num vocabulário reduzido e
obcessivo - até que o relâmpago fulmine a língua
e nada mais se consiga ouvir
apesar de tudo
continuamos a repetir os gestos e a beber
a serenidade da seiva - vamos pela febre
dos cedros acima - até que tocamos o místico
arbusto estelareo mistério da luz fustiga-nos os olhos
numa euforia torrencial
Al Berto, in Horto de Incêndio, pag. 11/12, Assírio e Alvim, 1997
imagem/pintura: Marc Chagall
Etiquetas: Al Berto, Escritores, Poemas que sinto
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3 Comments:
ah...desde que exista a euphoria...
por falar nisso o perfume não é nada mau.
beijos
.......
vou pela febre........simm
jocas maradas meninaaaaaaaa
;)
faz-se horas para passar o tempo. retida no local de trabalho por um percalço (daqueles habituais), à espera que uma reacção química se dê (se vai dando), e já sem paciência (nem sequer ponta dela) para a concentração que a papelada espalhada sobre a secretária exige, há que divagar. saltar de blog em blog, ler textos alheios, saltar uma vez mais. neste parei. gostei da simplicidade, do intimismo, da partilha. voltarei;)
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