terça-feira, março 29
Workshop de fotografia
Plano teórico: Análise de imagens;Dissertação sobre os fundamentos básicos da fotografia;Esclarecimentos técnicos e teóricos - “Encontra-te para encontrares as tuas imagens”
As diferentes visões sobre as imagens; A fotografia como expressão plástica e artística ; As teorias da imagem; O significado das imagens; O poder visual; O poder narrativo; O domínio da Luz; Saída para trabalho práctico no Parque Natural do Litoral Norte; Recomendações, conselhos técnicos e esclarecimento de dúvidas; Acompanhamento pessoal; Análise de trabalhos práticos; A edição o tratamento e a construção narrativa; Análise e crítica de imagens - “Como ir de uma fotografia a uma imagem”
Como construir um portfólio; Este workshop de curta duração, é especialmente recomendado para quem pretende adquirir os fundamentos básicos da fotografia e com isto redescobrir ou descobrir a motivação e a técnica que lhe permitirão obter resultados aceitáveis em qualquer situação de luz.
Mais informação: humbertoalmendra@gmail.com
Escrito/editado por Marta 0 Terráqueos
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Eduardo Souto de Moura: prémio Pritzker
«O atelier do arquitecto Eduardo Souto de Moura confirmou ao PÚBLICO a atribuição do prémio Pritzker 2011, o maior galardão mundial na área da arquitectura."Durante as últimas três décadas, Eduardo Souto Moura produziu um corpo de trabalho que é do nosso tempo mas que também tem ecos da arquitectura tradicional. Os seus edifícios apresentam uma capacidade única de conciliar características opostas, como o poder e a modéstia, a coragem e a subtileza, a ousadia e simplicidade - ao mesmo tempo”, pode-se ler no comunicado emitido pelo júri do prémio.".
Fonte: Público
Escrito/editado por Marta 0 Terráqueos
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segunda-feira, março 28
Ah, todo o cais é uma saudade de pedra!
Ah, todo o cais é uma saudade de pedra!
E quando o navio larga do cais
E se repara de repente que se abriu um espaço
Entre o cais e o navio,
Vem-me, não sei porquê, uma angústia recente,
Uma névoa de sentimentos de tristeza
Que brilha ao sol das minhas angústias relvadas
Como a primeira janela onde a madrugada bate,
E me envolve com uma recordação duma outra pessoa
Que fosse misteriosamente minha.
[...]
Alvaro de Campos
Escrito/editado por Marta 2 Terráqueos
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Fernando Pessoa, plural como o Universo
A exposição “Fernando Pessoa, plural como o Universo”, que é uma realização da Fundação Roberto Marinho e da Secretaria de Cultura do Governo do Estado de São Paulo através do Museu da Língua Portuguesa, foi visitada em São Paulo por mais de 250.000 pessoas no período de agosto de 2010 a fevereiro de 2011».
Fonte aqui
Escrito/editado por Marta 2 Terráqueos
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domingo, março 27
Tenho um decote pousado no vestido e não sei se voltas
mas as palavras estão prontas sobre os lábios como
segredos imperfeitos ou gomos de água guardados para o verão.
E, se de noite as repito em surdina, no silêncio
do quarto, antes de adormecer, é como se de repente
as aves tivessem chegado já ao sul e tu voltasses
em busca desses antigos recados levados pelo tempo:
Vamos para casa? O sol adormece nos telhados ao domingo
e há um intenso cheiro a linho derramado nas camas.
Podemos virar os sonhos do avesso, dormir dentro da tarde
e deixar que o tempo se ocupe dos gestos mais pequenos.
Vamos para casa. Deixei um livro partido ao meio no chão
do quarto, estão sozinhos na caixa os retratos antigos
do avô, havia as tuas mãos apertadas com força, aquela
música que costumávamos ouvir no inverno. E eu quero rever
as nuvens recortadas nas janelas vermelhas do crepúsculo;
e quero ir outra vez para casa. Como das outras vezes.
Assim me faço ao sono, noite após noite, desfiando a lenta
meada dos dias para descontar a espera. E, quando as crias
afastarem finalmente as asas da quilha no seu primeiro voo,
por certo estarei ainda aqui, mas poderei dizer que, pelo
menos uma ou outra vez, já mandei os recados, já da minha
boca ouvi estas palavras, voltes ou não voltes.
Maria do Rosário Pedreira
poema desviado daqui
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Poema de los dones/Poema dos dons
esta declaración de la maestría
de Dios, que con magnífica ironía
me dio a la vez los libros y la noche.
De esta ciudad de libros hizo dueños
a unos ojos sin luz, que sólo pueden
leer en las bibliotecas de los sueños
los insensatos párrafos que ceden
las albas a su afán. En vano el día
les prodiga sus libros infinitos,
arduos como los arduos manuscritos
que perecieron en Alejandría.
De hambre y de sed (narra una historia griega)
muere un rey entre fuentes y jardines;
yo fatigo sin rumbo los confines
de esta alta y honda biblioteca ciega.
Enciclopedias, atlas, el Oriente
y el Occidente, siglos, dinastías,
símbolos, cosmos y cosmogonías
brindan los muros, pero inútilmente.
Lento en mi sombra, la penumbra hueca
exploro con el báculo indeciso,
yo, que me figuraba el Paraíso
bajo la especie de una biblioteca.
Algo, que ciertamente no se nombra
con la palabra azar, rige estas cosas;
otro ya recibió en otras borrosas
tardes los muchos libros y la sombra.
Al errar por las lentas galerías
suelo sentir con vago horror sagrado
que soy el otro, el muerto, que habrá dado
los mismos pasos en los mismos días.
¿Cuál de los dos escribe este poema
de un yo plural y de una sola sombra?
¿Qué importa la palabra que me nombra
si es indiviso y uno el anatema?
Groussac o Borges, miro este querido
mundo que se deforma y que se apaga
en una pálida ceniza vaga
que se parece al sueño y al olvido.
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O melro Coentrão
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sábado, março 26
Procurei-te em vão pela terra
[...]
Procurei-te em vão pela terra,
perto do céu, por sobre o mar.
Se não chegas nem pelo sonho,
por que insisto em te imaginar?
Cecília Meireles
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Cimo de Vila
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...queria tanto, tanto estar lá...
«Maria Gabriela Llansol é provavelmente a mais inclassificável das escritoras portuguesas. Escreveu “nas margens da língua” e “fora da literatura”, e viveu vinte anos no exílio da Bélgica, onde colheu inspiração para uma Obra sem paralelo na literatura portuguesa.
O núcleo principal da sua Obra inicia-se com duas trilogias (Geografia de Rebeldes e O Litoral do Mundo) que ensaiam uma releitura da história intelectual e espiritual da Europa, com recurso à metamorfose ficcional de uma ampla galeria de figuras, das beguines medievais e dos místicos flamengos e ibéricos a Camões, de Hölderlin a Nietzsche ou de Bach a Fernando Pessoa. Depois disso, envereda por uma “ordem figural do quotidiano” em cerca de vinte livros reveladores de uma escrita visionária e intensa de grande originalidade, que lhe valeu por duas vezes o Grande Prémio de Romance e Novela da APE, e que faz jus ao prognóstico de Eduardo Lourenço segundo o qual “Llansol será o próximo grande mito literário português, por paralelo com o próprio Pessoa”. Deixou um imenso espólio manuscrito de milhares de páginas inéditas, em curso de publicação (Assírio & Alvim).
Organização Espaço Llansol».
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sexta-feira, março 25
Os observadores estrangeiros...
Agustina Bessa-Luís, in 'Dicionário Imperfeito'
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Sei fazer versos...
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quinta-feira, março 24
Não te chamo para te conhecer
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quarta-feira, março 23
Viagem nunca feita
Foi por um crepúsculo de vago outono que eu parti para essa viagem que nunca fiz.
O céu — impossivelmente me recordo — era dum resto roxo de ouro triste, e a linha agónica dos montes, lúcida, tinha uma auréola cujos tons de morte lhe penetravam, amaciadores, na astúcia do seu contorno. Da outra amurada do barco (estava mais frio e era mais noite sob esse lado do toldo) o oceano tremia-se até onde o horizonte leste se entristecia, e onde, pondo penumbras de noite na linha líquida e obscura do mar extremo, um hálito de treva pairava como uma névoa em dia de calor.
O mar, recordo-me, tinha tonalidades de sombra, de mistura com figuras ondeadas de vaga luz — e era tudo misterioso como uma ideia triste numa hora de alegria, profética não sei de quê.
Eu não parti de um porto conhecido. Nem hoje sei que porto era, porque ainda nunca lá estive. Também, igualmente, o propósito ritual da minha viagem era ir em demanda de portos inexistentes — portos que fossem apenas o entrar-para-portos; enseadas esquecidas de rios, estreitos entre cidades irrepreensivelmente irreais. Julgais, sem dúvida, ao ler-me, que as minhas palavras são absurdas. E que nunca viajastes como eu.
Eu parti? Eu não vos juraria que parti. Encontrei-me em outras partes, noutros portos, passei por cidades que não eram aquela, ainda que nem aquela nem essas fossem cidades algumas. Jurar-vos que fui eu que parti e não a paisagem, que fui eu que visitei outras terras e não elas que me visitaram — não vo-lo posso fazer. Eu que, não sabendo o que é a vida, nem sei se sou eu que vivo se é ela que me vive (tenha esse verbo «viver» o sentido que quiser ter), decerto não vos irei jurar qualquer coisa.
Viajei. Julgo inútil explicar-vos que não levei nem meses, nem dias, nem outra quantidade qualquer de qualquer medida de tempo a viajar. Viajei no tempo é certo, mas não do lado de cá do tempo, onde o contamos por horas, dias e meses; foi do outro lado do tempo que eu viajei, onde o tempo se não conta por medida. Decorre, mas sem que seja possível medi-lo. É como que mais rápido que o tempo que vimos viver-nos. Perguntais-me a vós, de certo, que sentido têm estas frases; nunca erreis assim. Despedi-vos do erro infantil de perguntar o sentido às coisas e às palavras. Nada tem um sentido.
Em que barco fiz essa viagem? No vapor. Qualquer. Rides. Eu também, e de vós talvez. Quem vos diz, e a mim, que não escrevo símbolos para os deuses compreenderem?
Não importa. Parti pelo crepúsculo. Tenho ainda no ouvido o ruído férreo de puxar a âncora a vapor. No soslaio da minha memória movem-se ainda lentamente, para enfim entrarem na sua posição de inércia, os braços do guindaste de bordo que havia horas haviam magoado a minha vista de contínuos caixotes e barris. Estes rompiam súbitos, presos de roda por uma corrente, de por cima da amurada onde esbarravam, arranhando, e depois, oscilando, se iam deixando empurrar, empurrar, até ficarem por cima do porão, para onde, súbitos, desciam (...), até, com um choque surdo e madeirento, chegarem esmagadoramente a um lugar oculto no porão. Depois soavam lá em baixo o desatarem-os: em seguida subia só a corrente chincalhante no ar, e recomeçava tudo, como que inutilmente.
Eu para que vos conto isto? Porque é absurdo estar-vos a contá-lo, visto que é das minhas viagens que disse que falaria.
Visitei Novas Europas e Constantinopolas outras acolheram a minha vinda veleira em Bósforos falsos. Vinda veleira espantais? É como vos digo, assim mesmo. O vapor em que parti chegou barco de vela ao porto [...] Que isto é impossível dizeis. Por isso me aconteceu.
Chegaram-nos, em outros vapores, notícias de guerras sonhadas em Índias impossíveis. E, ao ouvir falar dessas terras tínhamos importunamente saudades da nossa, deixada tão atrás quem sabe se naquele mundo.
Bernardo Soares in Livro do Desassossego, pag. 480/1, Assírio & Alvim, 2001
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terça-feira, março 22
Dernières nouvelles d'un nouveau monde en train de naitre
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Por isso, não me peças algoritmos
[Ainda hoje. Porque amanhã, posso estar irremediavelmente frágil.
E os teus olhos estão de outra cor.]
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segunda-feira, março 21
...mais mimo blogosférico...
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Etiquetas: selos
Meu Amor, meu Amor, é Primavera!...
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domingo, março 20
Palavras que disseste e já não dizes
imagem: marta
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Etiquetas: Pedro Tamen, Porto
hoje a minha cidade acordou assim
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Etiquetas: José Saramago, Porto
sexta-feira, março 18
Catarina Machado
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quinta-feira, março 17
A infância de Herberto Helder
Escrito/editado por Marta 8 Terráqueos
Etiquetas: José Tolentino Mendonça
quarta-feira, março 16
Nenhum Lugar
Maurício abriu a boca para dizer alguma coisa, mas não soube que responder à distraída irreverência do condutor. Acabou por morder o lábio inferior, arrependido logo por ter falado, como se ao fazê-lo tivesse quebrado um pacto óbvio e necessário entre os dois homens que sulcam a noite na surda profundidade do deserto, como se o deserto fosse o caminho certo que os libertava de qualquer desvio do qual, suspeitava, não havia regresso, por não haver a onde regressar.
Depois disso, não se atreveu a dirigir-lhe a palavra, e limitou-se apenas a insistir uns minutos mais com o olhar no espelho retrovisor. Contudo, o taxista não voltou a procurá-lo. Imutável, olhava em frente, para a estrada interminável. Finalmente, Maurício desistiu e ocupou-se a observar o céu rígido e abundante através da janela. Não queria pensar em nada. As distâncias absorviam-no, como se o facto de tudo estar ou parecer distante o situasse num desterro intransitável entre ele e os seus pensamentos. Sem esforço foi-se deixando estar, inclinado sobre a janela, a olhar as fugidias figuras dos arbustos e das pedras e a sentir o frio da noite na testa apoiada no vidro.»
[Ricardo Romero, Nenhum Lugar; trad. Patrícia Louro, Deriva, Setembro 2010]
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A Divina Pestilência
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Às vezes tenho medo, muito medo.
imagem: Claudia Pinto
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terça-feira, março 15
Música e Poder
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segunda-feira, março 14
Café do Molhe
(ou talvez não tenhas sido
tu, mas só a ti
naquele tempo eu ouvia)
porquê a poesia,
e não outra coisa qualquer:
a filosofia, o futebol, alguma mulher?
Eu não sabia
que a resposta estava
numa certa estrofe de
um certo poema de
Frei Luis de Léon que Poe
(acho que era Poe)
conhecia de cor,
em castelhano e tudo.
Porém se o soubesse
de pouco me teria
então servido, ou de nada.
Porque estavas inclinada
de um modo tão perfeito
sobre a mesa
e o meu coração batia
tão infundadamente no teu peito
sob a tua blusa acesa
que tudo o que soubesse não o saberia.
Hoje sei: escrevo
contra aquilo de que me lembro,
essa tarde parada, por exemplo
Manuel António Pina in Ao Porto, Colectânea de Poesia sobre o Porto, pag. 163, Publicações Dom Quixote, 2001
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hoje seria dia do seu aniversário
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