quarta-feira, março 21

Ciclos de Música e Poesia


Ciclos de Música e Poesia 27 de Março, 21h30

Terceiro concerto e recital pertencentes aos Ciclos de Música e Poesia de 2012, com João Xavier, piano, seguidamente o Recital de Poesia "4-3-3" com apresentação de Isaque Ferreira e convidado João Ricardo Pateiro.

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terça-feira, fevereiro 7

Follow them...

Tirem o me e coloquem o them! Se estiverem por Lisboa, metam pernas ao caminho...
e sigam-nas... até ao Instituto Cervantes.
Eu se estivesse  por lá, contava os dias...

segunda-feira, março 21

Meu Amor, meu Amor, é Primavera!...


[...]
 
Pus rosas cor-de-rosa em em meus cabelos...

Parecem um rosal!

Vem desprendê-los!


Meu Amor, meu Amor, é Primavera!...



Florbela Espanca


imagem: Carl Larsson

quarta-feira, março 16

A Divina Pestilência


[Dia 21 de Março, às 18 horas, na Bibioteca Eduardo Lourenço, apresentação da obra "A Divina Pestilência" de João Rasteiro]

segunda-feira, março 14

Café do Molhe


Perguntavas-me

(ou talvez não tenhas sido

tu, mas só a ti

naquele tempo eu ouvia)



porquê a poesia,

e não outra coisa qualquer:

a filosofia, o futebol, alguma mulher?

Eu não sabia



que a resposta estava

numa certa estrofe de

um certo poema de

Frei Luis de Léon que Poe



(acho que era Poe)

conhecia de cor,

em castelhano e tudo.

Porém se o soubesse


de pouco me teria

então servido, ou de nada.

Porque estavas inclinada

de um modo tão perfeito


sobre a mesa

e o meu coração batia

tão infundadamente no teu peito

sob a tua blusa acesa


que tudo o que soubesse não o saberia.

Hoje sei: escrevo

contra aquilo de que me lembro,

essa tarde parada, por exemplo



Manuel António Pina in Ao Porto, Colectânea de Poesia sobre o Porto, pag. 163, Publicações Dom Quixote, 2001

imagem: Edward Hopper

sábado, março 12

Foz do Arelho ou Primeiro Poema do Pescador


[...]
Um pequeno lugar onde Camilo Pessanha voltava sempre
talvez pelo sol e as espadas frias
talvez pelas orquestras e os vendavais
ou apenas os restos sobre a praia
«pedrinhas conchas pedacinhos d'osso»
e nada mais.

Um pequeno lugar onde se pode ouvir a música
o vento o mar as conjunções astrais
um pequeno lugar do mundo
onde à noite se sabe
que tudo é como as luzes que cintilam
um breve instante
e nada mais.

Manuel Alegre


imagem: Margarida Carneiro

segunda-feira, fevereiro 28

Pedro Tamen

«O escritor Pedro Tamen venceu o prémio Correntes d'Escritas com a obra de poesia O Livro do Sapateiro, editado pela D. Quixote. O júri do prémio literário Casino da Póvoa reuniu-se no dia 22 de Fevereiro de 2011 atribuindo por maioria o galardão.»

domingo, fevereiro 20

Segredo

Esta noite morri muitas vezes, à espera

de um sonho que viesse de repente

e às escuras dançasse com a minha alma

enquanto fosses tu a conduzir

o seu ritmo assombrado nas trevas do corpo,

toda a espiral das horas que se erguessem

no poço dos sentidos. Quem és tu,

promessa imaginária que me ensina

a decifrar as intenções do vento,

a música da chuva nas janelas

sob o frio de fevereiro? O amor

ofereceu-me o teu rosto absoluto,

projectou os teus olhos no meu céu

e segreda-me agora uma palavra:

o teu nome - essa última fala da última

estrela quase a morrer

pouco a pouco embebida no meu próprio sangue

e o meu sangue à procura do teu coração.

Fernando Pinto do Amaral


imagem: Rui Nuno Rodrigues

quarta-feira, fevereiro 9

Qualquer caminho leva a toda a parte

[...]
Qualquer caminho leva a toda a parte
Qualquer caminho
Em qualquer ponto seu em dois se parte
E um leva a onde indica a estrada
Outro é sozinho.
[...]
Fernando Pessoa

imagem: João Paulo Coutinho

domingo, fevereiro 6

Sobre o Poema


Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.

Fora existe o mundo.
Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
— a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.

E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.

— Embaixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.

— E o poema faz-se contra o tempo e a carne.

Herberto Helder

quarta-feira, janeiro 26

Bailias


sexta-feira, janeiro 14

Pudesse eu não ter laços nem limites

Pudesse eu não ter laços nem limites
Ó vida de mil faces transbordantes
Para poder responder aos teus convites
Suspensos na surpresa dos instantes!

Sophia de Mello Breyner Andresen

domingo, janeiro 9

Poema transitório


[...]
é preciso partir
é preciso chegar
é preciso partir é preciso chegar...
Ah, como esta vida é urgente!
... no entanto
eu gostava era mesmo de partir...
e - até hoje – quando acaso embarco
para alguma parte
acomodo-me no meu lugar
fecho os olhos e sonho:
viajar, viajar
mas para parte nenhuma...
viajar indefinidamente...
como uma nave espacial perdida entre as estrelas.

Mario Quintana

quarta-feira, dezembro 29

Receita de ano novo


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, dezembro 23

Atravessei contigo a minuciosa tarde

Atravessei contigo a minuciosa tarde
deste-me a tua mão, a vida parecia
difícil de estabelecer
acima do muro alto
folhas tremiam
ao invisível peso mais forte
Podia morrer por uma só dessas coisas
que trazemos sem que possam ser ditas:
astros cruzam-se numa velocidade que apavora
inamovíveis glaciares por fim se deslocam
e na única forma que tem de acompanhar-te
o meu coração bate

José Tolentino Mendonça

fotografia: Sonja Valentina

sábado, dezembro 4

Esqueço do quanto me ensinaram


Deito-me ao comprido na erva.
E esqueço do quanto me ensinaram.
O que me ensinaram nunca me deu mais calor nem mais frio,
O que me disseram que havia nunca me alterou a forma de uma coisa.
O que me aprenderam a ver nunca tocou nos meus olhos.
O que me apontaram nunca estava ali: estava ali só o que ali estava.

Alberto Caeiro, in Fragmentos

sexta-feira, dezembro 3

fazer bom e expressivo


Acaba mal o teu verso,
mas fá-lo com um desígnio:
é um mal que não é mal,
é lutar contra o bonito.

Vai-me a essas rimas que
tão bem desfecham e que
são o pão de ló dos tolos
e torce-lhes o pescoço,

tal como o outro pedia
se fizesse à eloquência,
e se houver um vossa excelência
que grite: - Não é poesia!,

diz-lhe que não, que não é,
que é topada, lixa três,
serração, vidro moído,
papel que se rasga ou pe

-dra que rola na pedra...
Mas também da rima «em cheio»
poderás tirar partido,
que a regra é não haver regra,

a não ser a de cada um,
com sua rima, seu ritmo,
não fazer bom e bonito,
mas fazer bom e expressivo...

Alexandre O'Neill

quarta-feira, dezembro 1

Não partas já. Fica até onde a noite se dobra


Não partas já. Fica até onde a noite se dobra
para o lado da cama e o silêncio recorta
as margens do tempo. É aí que os livros
começam devagar e as cores nos cegam
e as mãos fazem de norte na viagem. Parte apenas
quando amanhã se ferir nos espelhos do quarto
em estilhaços de luz; e um feixe de poeiras
rasgar as janelas como uma ave desabrida.
Alguém murmurará então o teu nome, vagamente,
como a gastar os dedos na derradeira página.
E então, sim, parte, para que outra história se
invente mais tarde, quando os pássaros gritarem
à primeira lua e os gatos se deitarem sobre
o muro, de olhos acesos, fingindo que perguntam.

Maria do Rosário Pedreira

sábado, novembro 27

Regresso

[clicar na imagem para aumentar]
Hoje, às 16 horas. Um livro de poesia. De Victor Oliveira Mateus.

segunda-feira, novembro 22

Mas que sei eu das folhas no outono

Mas que sei eu das folhas no outono

ao vento vorazmente arremessadas

quando eu passo pelas madrugadas

tal como passaria qualquer dono?

Eu sei que é vão o vento e lento o sono

e acabam coisas mal principiadas

no ínvio precipício das geadas

que pressinto no meu fundo abandono

Nenhum súbito lamenta

a dor de assim passar que me atormenta

e me ergue no ar como outra folha

qualquer. Mas eu sei que sei destas manhãs?

As coisas vêm vão e são tão vãs

como este olhar que ignoro que me olha.

Ruy Belo


[poema desviado do blog do Pedro Rolo Duarte, a quem sou imensamente grata]