Citam-se as brincadeiras habituais do irresponsável: apagar lanternas, lamparinas, candeeiros, fifós para assombrar a Noite; despir as árvores dos belos vestidos de folhagens, deixando-as nuinhas.
Pilhérias de evidente mau gosto; no entanto, por incrível que pareça, a Noite suspira ao vê-lo e as árvores do bosque rebolam-se contentes à sua passagem, umas desavergonhadas.
A caçoada predilecta do Vento é meter-se por baixo da saia das mulheres, suspendendo-as com malévola intenção exibicionista.
Truque de seguríssimo efeito nos tempos de antanho, traduzindo-se em risos, olhares oblíquos e cobiçosos, contidas exclamações de gula, ahs! e ohs! entusiásticos.
Antigamente, porque hoje o Vento não obtém o menor sucesso com tão gasta demonstração: exibir o quê, se tudo anda à mostra e quanto mais se mostra menos se quer ver?
Quem sabe, as gerações futuras lutarão contra o visível e o fácil, exigindo, em passeatas e comicios, o escondido e o dificil.
Jorge Amado in "O Gato Malhado E A Andorinha Sinhá - Uma História De Amor", Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2004,
2 Comments:
Belo texto de Jorge Amado, Marta.
"Quem sabe, as gerações futuras lutarão contra o visível e o fácil, exigindo, em passeatas e comicios, o escondido e o difícil."
Eu, como nunca tive nada fácil mesmo, acabei me acostumando. Ao se chegar ao topo da montanha, arduamente escalada, o prazer é indescritível. Quando me é dado algo fácil que eu não tenha que lutar, fico até na dúvida. Prefiro o mistério e a dificuldade.
Beijos
Carla
Estou de acordo com a CARLA !
E que adianta VER se não SENTIRMOS?
Inútil VENTO...
Magnífica postagem !
Como é MARCA da MARTA.
Um beijo murmurado entre as palavras do Jorge Amado.
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