Uma lâmina de ar
Atravessando as portas. Um arco,
Uma flecha cravada no outono. E a canção
Que fala das pessoas. Do rosto e dos lábios das pessoas.
E um velho marinheiro, grave, rangendo o cachimbo como
Uma amarra. À espera do mar. Esperando o silêncio.
É outono. Uma mulher de botas atravessa-me a tristeza
Quando saio para a rua, molhado, como um pássaro.
Vêm de muito longe as minhas palavras, quem sabe se
Da minha revolta última. Ou do teu nome que repito.
Hoje há soldados, eléctricos. Uma parede
Cumprimenta o sol. Procura-se viver.
Vive-se, de resto, em todas as ruas, nos bares e nos cinemas.
Há homens e mulheres que compram o jornal e amam-se
Como se, de repente, não houvesse mais nada senão
A imperiosa ordem de (se) amarem.
Há em mim uma ternura desmedida pelas palavras.
Não há palavras que descrevam a loucura, o medo, os sentidos.
Não há um nome para a tua ausência. Há um muro
Que os meus olhos derrubam. Um estranho vinho
Que a minha boca recusa. È outono.
A pouco a pouco despem-se as palavras.
Joaquim Pessoa
segunda-feira, setembro 27
Outono
Etiquetas: Joaquim Pessoa, poemas
Subscribe to:
Enviar feedback (Atom)
7 Comments:
que texto magnífico Marta... frases luminosas... ao ler, sente-se o Outono... lindo! filipe
Tão lindo! O poema e essa imagem, completam-se.
bjo
Cris
Já o braseiro do Verão se extinguiu, deixando no ar, ainda, um rasto...
Que lindíssima escolha a tua!
Beijinho, Marta.
Maravilha de texto Marta! Me identifiquei por total. E que linda foto a ilustrar suas belas palavras.
Bjs
Que poema lindo!
é magnífico sim, filipe.
sem sombra de dúvida, Cris.
Ana, querida Ana, que bom foi vê-la aqui :)
não são as minhas palavras, de forma nenhuma. o autor do poema é JOAQUIM PESSOA.
isso e muito mais, Gabrielle.
abraços, marta
gosto muito de Joaquim Pessoa. Lembrei-me de um dos seus poemas. que mais gosto,
"Não vou pôr flores de laranjeira no teu cabelo
Nem fazer explodir a madrugada nos teus olhos......"
Muito bom este Outono. Foto com cores bem quentes
Soube bem este post. Obrigada
Post a Comment