segunda-feira, setembro 20

Não sabes, leitor, como estou rodeada de silêncio


II
Não sabes, leitor, como estou rodeada de silêncio
há uma ave onde este texto se apoia.
fecho os olhos, e o poema traz para este lugar
o búzio dos cofres.

escrevo em filigranas de ar
secretas harpas de sombras
onde as primeiras letras ousam pousar.
durante anos treinei o lúmen do coração
em cântaros de sol subindo os primeiros degraus

depois habituei-me à confidência das aves
pousada na inteligência dos bosques
movidos a vento e água,
acácia entre mãos

por último a ciência da respiração
no sumo das auroras

Maria Azenha in de amor ardem os bosques, poesia, 2010

3 Comments:

Carla Farinazzi said...

Que lindo, Marta, "de amor ardem os bosques". Lindo, lindo.
"Não sabes, leitor, como estou rodeada de silêncio". Adorei, obrigada.

Um beijo

Carla

António Conceição said...

Notável! Absolutamente notável!
É praticamente impossível escrever um poema mais idiota do que este!

"escrevo em filigranas de ar/
secretas harpas de sombras/
onde as primeiras letras ousam pousar." - Estou impressionado! Eu, nem que tentasse durante mil anos, nunca conseguiria três versos com significado tão absolutamente nenhum.
E, ainda por cima, como ela candidamente nos confessa, é um poema de uma senhora completamente mouca que vive mergulhada no silêncio.
Só espero que a ave em que o texto se apoia seja um peru ou uma ema ou outra ave assim, de grande porte. Caso contrário, corre-se o risco de o bichito ficar com uma asa partida.
Fico sempre espantado com a quantidade de amadores que pensa que ser poeta e fazer poesia é alinhar uma sequência de metáforas sem qualquer sentido.

Marta said...

pronto! durou pouco tempo!

Prof. Funes...

já destilou o seu mau feitio todo, hoje?
tá feliz?
[são retóricas, obviamente]
não responda nem passe aqui tão cedo, pf]