quarta-feira, março 21

por vezes



por vezes pousam pássaros de fogo nos meus ramos


e eu digo:

chove a última rosa em novembro

Maria Azenha

imagem: Cecília Murgel

segunda-feira, setembro 20

Não sabes, leitor, como estou rodeada de silêncio


II
Não sabes, leitor, como estou rodeada de silêncio
há uma ave onde este texto se apoia.
fecho os olhos, e o poema traz para este lugar
o búzio dos cofres.

escrevo em filigranas de ar
secretas harpas de sombras
onde as primeiras letras ousam pousar.
durante anos treinei o lúmen do coração
em cântaros de sol subindo os primeiros degraus

depois habituei-me à confidência das aves
pousada na inteligência dos bosques
movidos a vento e água,
acácia entre mãos

por último a ciência da respiração
no sumo das auroras

Maria Azenha in de amor ardem os bosques, poesia, 2010

de amor ardem os bosques I


A solidão era eterna
e o silêncio inacabável.
Detive-me com uma árvore
e ouvi falar as árvores.

Juan Ramón Jiménez





[depois do título - de amor ardem os bosques - é este o poema que se lê. na página anterior, assinala-se que o meu livro é o número 13 de uma tiragem de 250 exemplares. sorte.
é este o livro de poesia pelo qual ando apaixonada. a desfolhá-lo num e noutro canto da casa, na rua, num e noutro passeio, na minha memória, como se fossem regressos. ando grata, também. ao leitor silencioso que uma noite resolveu quebrar o silêncio para me falar deste livro. só ainda não lhe agradeci - um obrigada electrónico, ao menos - porque apaguei o e-mail. ando, também, um pouco menos ignorante. agora sei quem é Maria Azenha. um templo de palavras. vénia.

espanto, silêncio, paixão. só que num novo abecedário. como se antes
ninguém soubesse de que ardem os bosques]