
Eu e a Cristina.
Um sonho louco. Louquíssimo. Extremissimamente louco. Enfim - um sonho. Não havia nuvem que nos segurasse, nem paraíso que nos satisfizesse. Estávamos loucos, pronto. Para quê mais frases? A manhã era terna e sabia bem passear assim.
Conheci Cristina na 24ª página. Os olhos que lhe inventei roçaram os meus e o corpo colou-se perfeitamente. Senti que a podia ajudar e as nossas mãos, em se dando, formavam um cometa. Os nossos lábios traziam o Universo quando se tocavam.
Ela não tinha aonde se agarrar e eu, apercebendo-me disso, tentei trazê-la à realidade com muito amor, devagarinho. Soltaram-se-lhe os sentimentos da garganta e contou-me as partes da sua vida que mais a tinham marcado.
Foi uma experiência curiosa, até porque tinha sido eu a imaginar as situações. Conclui então que a análise não estava má, embora enfermasse de uma certa falta de sequência. Mas era no pormenor do acontecimento que eu recolhia a imagem que depois reproduzia por escrito.
E havia dias de vento forte!
E havia dias de um sol aconchegador!
E os jornais (com raras excepções) começavam a encher de mentiras os leitores desprevenidos.
E as ameaças aumentavam constantemente!
E as bombas eram diárias!
E morriam pessoas que eu e a Cristina conhecíamos bem!
Comecei a interessar-me por Cristina. Ela era muita gente. E eu gostava muito da gente. Comecei a amá-la. Profundamente. Apaixonadamente. Com sinceridade. Tinha direito a isso. Era tão novo como a minha idade.
(...)
Alberto Augusto Miranda in Outubro de um Século, Edição Autor, p. 65 e 66, 1981
Imagem: Cometa Tempel 1; NASA/JPL-Caltech/UMD
5 Comments:
E quantas vezes a imaginação é a água para a sede do desejo? E quantas vezes a imaginação nos realiza o sonho que a realidade nos proíbe? Que bom ter a liberdade e a capacidade para imaginar.
eu também a conheci! e também viajo com ela, não há melhor que a imaginação
A Marta vai-me perdoar a observação.
Pelo pouco que tenho visto aqui, pois o seu blog ainda é recente, é para mim uma mulher/menina/menina/mulher de indescutível bom gosto.
Este texto, por exemplo, é o que quiser menos vulgar.
Mas onde vai buscar estes 2 "estranhos" livros da sua vida?
Para mim é um mistério, confesso-lhe eu. Este autor, por exemplo, não conheço.
Satre conhecia-lhe a filosofia; outras obras; desconhecia-lhe aquele livro.
Mas vou procura-lo.
Obrigado e não deixe esta sua VIDA.
Pas[ç]sos e Dalaila
como alguém disse
«a imaginação é mais importante que o conhecimento» :)
e...eu concordo!
Tu também és muita gente. Marta.
E nós também te GOSTAMOS por isso.
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