sexta-feira, abril 29
Qual seria o melhor treino intelectual para o aspirante a escritor?
Digamos que ele devia enforcar-se por ter descoberto que escrever bem é tremendamente difícil. Depois, devia ser esquartejado sem piedade e forçado por si próprio a escrever tão bem quanto possível para o resto da vida. Pelo menos, teria logo a história do enforcamento para começar.
E quanto àqueles que ingressaram na vida académica? Considera que os muitos escritores que ganham a vida no ensino comprometeram as suas carreiras literárias?
Depende daquilo a que chamar comprometer. Usa a palavra no sentido da mulher que está comprometida? Ou trata-se do compromisso do estadista? Ou do compromisso que se estabeleceu com o merceeiro ou com o alfaiate no sentido de lhe pagar um pouco mais mas apenas mais tarde? Um escritor que escreve e ensina deve ser capaz de fazer as duas coisas. Há muitos escritores competentes que já provaram que isso é possível. Eu sei que não seria capaz de o fazer e admiro aqueles que o conseguem. Creio, no entanto, que a vida académica poderia colocar um ponto final na experiência exterior, o que poderia talvez limitar um maior conhecimento do mundo. O conhecimento, contudo, requer uma maior responsabilidade por parte do escritor e torna a escrita mais difícil. Tentar escrever algo com um valor intemporal é uma ocupação a tempo inteiro, mesmo que a tarefa de escrever propriamente dita ocupe apenas algumas poucas horas por dia. Um escritor pode ser comparado com um poço. Há tantos tipos de poços quanto escritores. O importante é ter boa água no poço, e é melhor tirar dele uma quantidade regular do que usar uma bomba de água, secá-lo e esperar que ele volte a encher-se. Reparo que estou a afastar-me da questão, mas é que a questão não era lá muito interessante.
Sugeriria a um jovem escritor que trabalhasse num jornal? Que importância teve a sua formação no The Kansas City Star?
No Star éramos obrigados a aprender a escrever uma frase declarativa simples. O que é útil para toda a gente. O trabalho de jornal não prejudica um jovem escritor e pode mesmo ajudá-lo se ele sair de lá a tempo. Esta frase é uma das mais poeirentas de que há memória e peço desculpa por isso. Mas quando as perguntas são velhas e gastas você arrisca-se a receber de volta respostas gastas e velhas.»
[Ernest Hemingway, Entrevistas da Paris Review; trad. Carlos Vaz Marques, Tinta da China, Outubro 2009]
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quinta-feira, abril 28
quarta-feira, abril 27
Comunidade de Leitores Almedina
Desviado daqui.
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[S]hort [M]essage [S]ervice de utilidade restrita
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Etiquetas: coisas minhas
Amável senhora, não cante
Amável senhora, não cante
Canções tristes sobre o fim do amor;
Afaste a tristeza e cante
O quanto basta o amor que passa.
Cante o longo e profundo sono
Dos falecidos amantes, e como
Na sepultura todo o amor repousará:
Por ora o amor está cansado.
James Joyce, in Poems and Shorter Writings, Faber and Faber, 2001, p. 40.
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sexta-feira, abril 22
A estrada branca
Atravessei contigo a minuciosa tarde
deste-me a tua mão, a vida parecia
difícil de estabelecer
...acima do muro alto
folhas tremiam
ao invisível peso mais forte
Podia morrer por uma só dessas coisas
que trazemos sem que possam ser ditas:
astros cruzam-se numa velocidade que apavora
inamovíveis glaciares por fim se deslocam
e na única forma que tem de acompanhar-te
o meu coração bate
José Tolentino Mendonça, in A Estrada Branca, Assírio & Alvim
Escrito/editado por Marta 7 Terráqueos
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Tudo isto seria um caminho terrivelmente intimista...
[...] A Quaresma é o contrário daquilo que, às vezes, se faz passar. Uma estação tristonha e austera, onde predominam as privações e os jejuns soturnos, que ninguém nos explica de modo satisfatório. Uma quadra lilás, cheia de imperativos que nos roem por dentro, mais como uma remorso do que uma sementeira de alegria.
A Quaresma é o contrário disso. Quaresma sugere palavras vivas: conversão, reconciliação, renascimento...Quaresma é a primavera que Deus oferece à Igreja, para que todos acordemos da paralisia dos nossos invernos interiores e desatemos a florir.
Quaresma é redescobrir a juventude com uma energia que trazemos na alma, a possibilidade real de recomeçar, de ser melhor outra vez e ainda outra vez. Não é um ritual de ano a ano, é um abanão ao nosso modo de viver, para que nos desinstalemos e compreendamos que Deus não nos quer amarrados a uma ‘vidinha’ que não reflecte nada de grade ou apreciável: nem Amor, nem, justiça, nem esperança.
A Quaresma é, assim, uma aposta divina nas nossas histórias humanas, ás vezes demasiado humanas.
E por ser tão importante não é uma receita, é uma proposta de caminho (...).
Estamos em construção!
Às vezes enchemo-nos de coisas supérfluas que só atravancam. Falsos projectos, muitos preconceitos, críticas fáceis, invejas, orgulho, egoísmo qb. E terminamos como um joguete nas mãos das nossas emoções mais superficiais. (...).
Tudo isto seria um caminho terrivelmente intimista se não nos mandasse ao encontro dos outros. [...]
José Tolentino Mendonça
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quinta-feira, abril 21
A volúpia de um olhar sobre o mundo
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quarta-feira, abril 20
[S]hort [M]essage [S]ervice de utilidade pública
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Etiquetas: blogs que leio, Tiago Taron
In case of loss, please return to... [ parte 2]
- Olá. Perdeste a tua agenda. Está comigo.
Agradeci repetidas vezes, de diversas formas, até se voltar a fazer um pequeno silêncio.
- Falas francês, perguntou?
- Não.
- Onde estás?
- Em Bruxelas e tu?
- Também. Posso deixar a agenda em algum lugar, se quiseres.
- Dá-me uma sugestão, vou lá buscá-la... Já sei. Uma livraria. Conheces a livraia Orfeu, uma livraria...?
- Sim, a que horas?
-Cinco, está bem?
- Sim, disse, lacónico, e desligou, depois de um. ok. bye.
Fiquei sem perceber se deixaria lá a agenda ou se estaria lá com a agenda. De qualquer forma, sentei-me a escrever um bilhete para entregar contra a recuperação do Moleskine Diary. Ainda me parecia não ter agradecido o suficiente, sobretudo de não ter revelado bem a minha gratidão. Escrevi em inglês e, depois, pedi a uma amiga belga para me traduzir o agradecimento para francês. Meia dúzia de linhas que passei a limpo no computador, nos dois idiomas, imprimi, dobrei a folha e meti-a dentro de um livro, na carteira.
Enquanto me dirigia para a Rue du Taciturne, pensei que poderia haver mais do que uma livraria com aquele nome, pensei em mil desencontros físicos e de linguagem. Pensei que não faria sentido deixar um bilhete a uma pessoa que mesmo deixando lá a agenda, não voltaria lá a buscar um bilhete que desconhecia ter ficado lá. Pensei em enviar uma mensagem para o número que tinha gravado a dizer que iria deixar um bilhete. Enquanto caminhava, a cada passo, ocorria-me uma ideia diferente.
Estavam duas pessoas na livraria. Detive-me em frente de alguns livros, olhei em volta e na falta de algum sinal, dirigi-me ao balcão para perguntar se alguém tinha entregue uma agenda. Após indagação, não. Não havia nenhuma agenda à minha espera. Dirigi-me para a porta sem saber imediatamente o que fazer. Espero, telefono, telefono, espero. E um homem alto, muito alto, de cabelos grisalhos e encaracolados pôs fim às minhas dúvidas, quando, mesmo à porta, perguntou, Marta?
Fiquei tão contente que pensei, se não fosses tão alto dava-te um abraço.
Mas disse, muito obrigada. Estava a pensar em ligar-lhe.
Retirou a agenda do bolso, de um casaco muito confortável, e deu-ma.
Disse outra vez muito obrigada. E ele disse:
- Bom, não fui eu que a encontrei. Foi a minha a minha irmã, quando a levei ao aeroporto.
- O importante é que ligou. Foi muito gentil em ter tido esse cuidado.
- Na verdade, eu não ligaria. A minha irmã é que insistiu para que ligasse. Disse que a agenda tinha muitas coisas escritas e que podiam ser importantes. Já tenho a agenda comigo há quatro dias. A minha irmã já me ligou duas vezes a perguntar se eu tinha telefonado a dizer que tinha a agenda.
- Mesmo assim, estou imensamente agradecida. Entregue, por favor, este bilhete à sua irmã. Afinal, em parte, é a ela que devo a recuperação da agenda. E sim, para mim, é muito importante tê-la de volta.
Fez-se outro pequeno silêncio, mas não tão silencioso como o que aconteceu ao telefone, porque havia os gestos. Eu a esticar a mão para me despedir, ele a olhar em volta como se eu fosse um pássaro.
- E o café? A minha irmã disse que eu podia ficar com a recompensa, se telefonasse.
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terça-feira, abril 19
[S]hort [M]essage [S]ervice de utilidade restrita
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Etiquetas: SMS
[S]hort [M]essage [S]ervice de utilidade particular
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Etiquetas: SMS
[S]hort [M]essage [S]ervice de utilidade particular
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Etiquetas: SMS
segunda-feira, abril 18
Use o poema para elaborar uma estratégia
Use o poema para elaborar uma estratégia
de sobrevivência no mapa da sua vida. Recorra
aos dispositivos da imagem, sabendo que
ela lhe dará um acesso rápido aos recursos
da sua alma. Evite os atolamentos
da tristeza, e acenda a luz que lhe irá trazer
uma futura manhã quando o seu tempo
se estiver a esgotar. Se precisar de
substituir os sentimentos cansados
da existência, reinstale o desejo
no painel do corpo, e imprima os sentidos
em cada nova palavra. Não precisa
de dominar todos os requisitos do sistema:
limite-se a avançar pelo visor da memória,
procurando a ajuda que lhe permita sair
do bloqueio. Escolha uma superfície
plana: e deslize o seu olhar pelo
estuário da estrofe, para que ele empurre
a corrente das emoções até à foz. Verifique
então se todas as opções estão disponíveis: e
descubra a data e a hora em que o sonho
se converte em realidade, para que poema
e vida coincidam.
Nuno Júdice
Escrito/editado por Marta 4 Terráqueos
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Lembro-me perfeitamente...
Lembro-me perfeitamente, meu amigo, de quando pela primeira vez vi o Templo de Diana. Era em Setembro, eu viera fazer exames, conhecia o Templo dos livros, das fotografias. Ignoro ainda se o monumento se alinha entre as belas obras de arte, essas perante as quais estamos todos autorizados a comover-nos. Ignoro-o, porque hoje sei que o milagre pode surgir quando menos o suspeitamos: uma frase musical de um tocador ambulante, o assobio de quem passa, um talo de erva que irrompe de uma juntura de pedras, podem alvoroçar-nos como a mais pura e evidente aparição de beleza. Subi a rua que vai da Praça, mal reparei então na Sé, obscurecida a um canto, cheguei enfim à acrópole onde se ergue o Templo. Catorze colunas nuas levantam-se para os astros banhadas da lua quente que iluminava o largo. Viam-se as estrelas por entre elas, o espaço habitava a sua irrealidade, irradiava essa mão de pedra à sua infinitude. Suspenso de memória e de uma obscura interrogação, ali fiquei algum tempo, tocado dessa indistinta surpresa que é o halo do limiar da vida, a anunciação das origens. Tenho visitado o Templo a outras horas de lua; mas jamais o alarme me visitou assim puro e fulminante, talvez porque o sabê-lo, o procurá-lo, lhe velava uma pouco a face - talvez porque ele só reconhece a verdade de quem não está prevenido, de quem vem desarmado dos combates diurnos.
Vergílio Ferreira, in Carta ao Futuro
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domingo, abril 17
You know when I said I knew little about love?
Yvaine in STARDUST
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Etiquetas: Cinema
sexta-feira, abril 15
quinta-feira, abril 14
A Short History of Crying
Escrito/editado por Marta 4 Terráqueos
Etiquetas: teatro
a explicação dos continentes...
[...fa bu lo so... sou fã............................ice age.........................obrigada Silvia :)]
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Etiquetas: filmes de animação
quarta-feira, abril 13
Os livros. A sua cálida...
Terna, serena pele. Amorosa
Companhia. Dispostos sempre
A partilhar o sol
Das suas águas. Tão dóceis
...Tão calados, tão leais.
Tão luminosos na sua branca e vegetal cerrada
Melancolia.
Amados
Como nenhuns outros companheiros
Da alma. Tão musicais
No fluvial e transbordante
Ardor de cada dia.
Eugénio de Andrade
Escrito/editado por Marta 2 Terráqueos
Etiquetas: Eugénio de Andrade
segunda-feira, abril 11
domingo, abril 10
Poema destinado a haver domingo
E a cor dum navio em movimento
E como ave, ficar parada a vê-la
E como flor, qualquer odor no vento.
Basta-me a lua ter aqui deixado
Um luminoso fio de cabelo
Para levar o céu todo enrolado
Na discreta ambição do meu novelo.
Só há espigas a crescer comigo
Numa seara para passear a pé
Esta distância achada pelo trigo
Que me dá só o pão daquilo que é.
Deixem ao dia a cama de um domingo
Para deitar um lírio que lhe sobre.
E a tarde cor-de-rosa de um flamingo
Seja o tecto da casa que me cobre
Baste o que o tempo traz na sua anilha
Como uma rosa traz Abril no seio.
E que o mar dê o fruto duma ilha
Onde o Amor por fim tenha recreio.
Natália Correia in Poesia Completa, Publicações Dom Quixote, 1999
Escrito/editado por Marta 4 Terráqueos
Etiquetas: Natália Correia
sábado, abril 9
João Vaz de Carvalho vence na categoria caricatura
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Etiquetas: Exposições
sexta-feira, abril 8
In case of loss, please return to... [ parte 1]
In case of loss, please return to: e lá escrevi o meu nome e o contacto. As a reward: $ e deixei o sorriso e o just one coffee com o ponto de exclamação. E nunca mais me lembrei que o tinha feito, até ao dia em que, chegada ao hotel, dei conta que a tinha perdido.
Há anos que é assim. Eu e as agendas de papel com um elástico em volta. Quase sempre um Moleskine Diary de capas pretas, onde enfio a minha vida, a vida feita de planos, de ideias, de frases - só essa - as experiências com as canetas que vou comprando e perdendo e experimentando na pouca gramagem das folhas pérola.
Tirando o dia em que me roubaram a carteira, no comboio, nunca tinha sentido tão profundamente a ausência da minha agenda. Já passaram vinte anos e ainda hoje recordo a angústia de me ver sem ela, acima de tudo. Sem essa espécie de certidão de passado recente que nos vamos passando diariamente. Onde atestamos, dia após dia, que andamos cá. O único lugar onde me dá a sensação de que o passado se pode resgatar a qualquer momento, num folhear de páginas.
No hotel, sem indicações precisas para o dia seguinte, tentava soluções. Era o imediato a preocupar-me. Mas depois, enquanto tentava adormecer, pensava em todas as coisas escritas aqui e ali, nesta e naquela página. Tudo o que não conseguiria recuperar, ao contrário da calendarização da formação, agendada até ao final do ano.
A última vez que tinha pegado na agenda foi para consultar o nome da rua do hotel. Foi no aeroporto. Pedi uma água lisa, sentei-me, aconcheguei a mala e peguei na agenda. O telefone tocou. Voltei a abrir a agenda. Disse, não, não. Outro dia, esse não posso. Pousei a agenda e o telefone.
Fiquei a observar as pessoas, os trajectos, os trejeitos, os trajes. Tudo à minha volta. O telefone voltou a tocar e eu sim, sim, cheguei bem, enquanto me levantava com o nome da rua na cabeça, até ao táxi. Italiana? Perguntou o taxista. Não. Portuguesa. E eu para ali a moer aquele “já vivido”. Em Barcelona tinha sido igual, em Londres, também. Em Dusseldorf, duas vezes. A entoação a converter a palavra na pergunta, curta e curiosa com que me recebiam mal entrava no táxi.
Foi no aeroporto. Não tinha dúvidas, agora. Deixei a minha agenda numa cafetaria de um não lugar onde passam centenas de pessoas, onde cruzam olhares de todas as latitudes. Em que mãos poderá estar o meu coração de capa preta, com catorze centímetros de altura e nove de largura? Mudo ou quase mudo, se fosse encontrado pelo mais generoso dos estrangeiros que não soubesse uma sílaba de português. Foi aí que me lembrei da tarde de Janeiro em que preenchi os campos In case of loss, please return to e o As a reward: $. e lembrei-me, ainda, que nessa mesma página escrevi:
as minhas palavras ficam demasiado longe dos teus lábios para que as possas sentir.
Escrevi em português, obviamente. Que é a minha língua. E como esta, tinha dezenas de frases, dias à frente, dias atrás, na agenda. Não me lembrava de mais nenhuma ideia. Só desta. Talvez por ser mais do que uma ideia. Inteiramente, só me ocorria aquela frase. E o que me fez sorrir foi a possibilidade de, por aqueles dias, alguém telefonar para me fazer chegar o Moleskine. Pensei: dou a morada e peço o imenso favor de a enviarem à cobrança. Antes, agradeço mil vezes.
Acho que adormeci a pensar nisso, em como há filmes geniais a imitarem a vida.
Escrito/editado por Marta 10 Terráqueos
Etiquetas: coisas minhas
A filosofia do jazz
Texto desviado daqui
com um imenso obrigada à CS por me dar a conhecer este caminho...
Escrito/editado por Marta 2 Terráqueos
Etiquetas: blogs que leio
FMI?
Escrito/editado por Marta 1 Terráqueos
Etiquetas: blogs que leio
quinta-feira, abril 7
Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim
Escrito/editado por Marta 3 Terráqueos
Etiquetas: Sophia de Mello Breyner Andresen
Parabéns, António!
Escrito/editado por Marta 6 Terráqueos
Etiquetas: aniversários, os meus sobrinhos são geniais
quarta-feira, abril 6
Sinais de Fogo: a invenção de um poeta
A primeira vista, o seu romance póstumo e inacabado, Sinais de Fogo, parece escapar a esta estética, ou antes, poética da urgência. A urgência aqui parece diferida e diferida para sempre. Mas só a história interna da escrita de Sinais de Fogo, se historicisticamente lida, pode sugerir essa excepção ao que foi sempre, nele, exigência de vida e regra de escrita. Das três ou quatro vagas de composição de que resultou o inacabado texto Sinais de Fogo nenhuma delas escapa ao ritmo imperioso, e não poucas vezes imperial, que Jorge de Sena impôs sempre à sua criação. Nem lentas agonias, nem torrenciais explosões seguidas de remorso ou arrependimento. Houve sempre em tudo quanto Jorge de Sena escreveu uma mistura muito sua de voluntarismo e de extremo domínio do que em outros tomaríamos como irrepresível inspiração. Todavia, neste seu primeiro e único romance, talvez pelas contingências da sua elaboração, há como que duas tonalidades ou dois ritmos que fazem desta epopeia iniciática de uma geração – mas sobretudo da recriação quase num tempo sem passado de um destino extraordinário de criador – um longo rio com duas águas de cor diferente. Impressão tanto mais estranha quanto o tempo da história contada em Sinais de Fogo é um tempo breve, na ordem da cronologia exterior e só tempo de intensidade incomum enquanto vivência do narrador e personagem. A essas duas cores corresponde a um nível mais profundo o descentramento de Sinais de Fogo entre o essencialmente anedótico, por mais interessante que seja, desde a descrição das amizades juvenis à peripécia rocambolesco-revolucionária em que o personagem principal se encontra envolvido, até a história passional de Jorge e de Mercedes, com ela entrelaçada mas vivendo de uma vida própria e configurando um romance no interior do romance.
Voluntariamente datado ou inscrito entre referências da história política portuguesa e peninsular (começos da Guerra Civil espanhola e reforço da componente fascista do regime de Salazar) paradoxalmente, Sinais de Fogo é uma ficção sem data. Se tem uma é a do olhar do narrador, não como jovem, confrontado com os mistérios, as repugnâncias, as contradições políticas ou ideológicas de uma época precisa, mas como autor em plena maturidade que evoca como se estivesse no presente da sua escrita (de 1964 a 1967) o momento da sua iniciação na vida e sobretudo naquela particular maneira de estar nela que o convertiria em Poeta. Jorge de Sena transporta-se – e transporta-nos – para o passado como se fosse um presente, tumultuoso, estranho, cruel e mágico, um presente fluindo em si mesmo, envolto na sua própria opacidade, com personagens que não têm ainda mais perspectiva do que a da romanesca aventura em que estão envolvidos. Todo esse lado de ressurreição de uma peripécia histórico-individual importa pelo talento com que Jorge de Sena, quase fotograficamente, sem nostalgia inútil, como se estivesse ainda vivendo a sua aventura, a restitui. Por momentos, o detalhe, a micro-história quase se fecha sobre si mesma, a perspectiva geral perde nitidez, mas o nosso interesse fixa-se na multidão das personagens da saga do autor em vias de inventar a sua vida, personagens com algo de imprevisível ou de fantástico como é natural na adolescência ou fora dela no mundo pícaro em que o nosso herói evolui.
Mas não é como “quadro”, pintura de uma época, mesmo de uma tomada de consciência histórica e ideológica de um período conturbado da vida portuguesa que Sinais de Fogo merece o título de “grande livro” mais ainda do que de “grande romance”. Jorge de Sena, já notável poeta nos anos 40, não teria podido então descrever com a acuidade rara com que o faz em Sinais de Fogo o labirinto amoroso, espaço de fúria, de êxtase, mas sobretudo de busca do que não se encontra ou encontrado sossobra [sic! Deve ler-se soçobra] no dilaceramento, antes de se ter convertido no homem de experiencia longamente amadurecida pelos anos e pela imersão no imaginário romanesco do Ocidente que lhe foi familiar como a ninguém mais da sua geração. Todavia esse peso de memória e conhecimento antes o teria talvez manietado do que servido se a sua violência imaginativa, a sua audácia não o tivessem levado como que a esquecer pouco a pouco a peripécia exterior da sua aventura para o deixar nu e desarmado diante do seu próprio destino antevisto e desejado com uma veemência profética como o do futuro autor de tudo quanto fará dele uma personalidade única das letras portuguesas do nosso século. Posterior no tempo da escrita, Sinais de Fogo é a crónica-romance da invenção de si como Jorge de Sena, como grande poeta, mas igualmente como autor de textos inesquecíveis que são os contos Super Flumina Babilonis ou o Físico Prodigioso. Mas o que nestes contos nos aparece já como inscrita numa espécie de espaço mítico da nossa ficção, descobre aos olhos do leitor de Sinais de Fogo as suas raízes, ou melhor, o seu enraizamento num combate simultaneamente espiritual e sensual, cruel e delicado, simples e complexo, assumido com uma vontade de desnuamento, de clarificação da sua relação consigo e com os outros e o mundo de uma força sem exemplo nas nossas letras. Jorge de Sena não desceu ao inferno das suas pulsões e dos seus terrores para resgatar uma Euridice mediadora entre ele e o mundo, mas para libertar nele o prisioneiro que pedia um mundo para submeter ao seu génio desabrido o seu pavor. Sinais de Fogo é o memorial dessa travessia que não tem outro fim que o de descobrir em si os dons que nele o redimam de uma solidão humana para o deixarem a braços com a musa mais exigente e cruel que todas as solidões, musa que lhe exigirá todo o tempo eterno da sua futura vida. Dessa travessia saiu o Poeta capaz de converter os estigmas da sua vida real em sinais de fogo. Mais do que um dos raros grandes romances de amor da nossa literatura – paradoxalmente parca em romances de amor – Sinais de Fogo é a incomplacente biografia de um poeta destinado pelos deuses a sagrar-se poeta pelas suas próprias mãos, como o Indesejado, rei sem mais coroa que a imaginária. A raros como a Jorge de Sena a ficção serviu de reino para ser nele o filho das suas próprias obras e o rei de si mesmo.
Eduardo Lourenço
Escrito/editado por Marta 2 Terráqueos
Etiquetas: Eduardo Lourenço, Jorge de Sena, livros da minha vida
domingo, abril 3
Física Aplicada
parten de puntos divergentes, dispersos en un plano,
lugares que se ignoran entre sí,
y a la velocidad del entusiasmo
emprenden la aventura, se ponen en camino,
van por ahí remando en aguas turbias,
van por ahí escuchando el vasto germinar de las semillas,
al acecho, en sigilo, ahuecando la tierra a la esperanza,
suponiendo que trazan trayectorias de curso irregular,
cada cual a su amor, virando al viento,
quebradas trayectorias cuyo sentido puede
al mínimo temblor girar hacia el vacío,
suponiendo el afán, la búsqueda, la sed,
el ensueño del goce, la ilusión y la ausencia,
calculemos, a golpe de intuición,
cuántas veces tendrán las trayectorias
que cruzarse en el brillo de unos ojos,
unos labios que invitan, unas manos que asienten,
para incendiarse a un tiempo, hombre y mujer, sembrar la tierra
de llamas como ráfagas de lluvia.
Eduardo Garcia
[ in ARQUITRAVE, revista colombiana de poesia. para ler com tempo e com demora...
com um imenso obrigada a Harold Alvarado Tenorio . ler também aqui]
Escrito/editado por Marta 1 Terráqueos
Etiquetas: Arquitrave, Eduardo Garcia, Harold Alvarado Tenorio
O gato lembra-se sempre de ti nos intervalos
O gato lembra-se de ti nos intervalos. Espera
de olhos acesos as histórias que nos contas.
Passeia-se inquieto sobre o meu parapeito e eriça
o pêlo, cúmplice, quando pressente que regressas.
Chegas sempre de noite. Sei quem és e ao que vens
e ofereço-te o silêncio de um pequeno quarto recuado.
as sombras das traseiras na minha pele, o tempo
de repetir um gesto inevitável. Ouço-te contar
a mesma lenda com lábios sempre novos. Aprendo-a
e esqueço-a. Nunca a saberemos de cor, o gato e eu.
Depois partes. Levas contigo a tua voz, mas a música
fica. Eu fecho as portas de vagar. O gato mia baixo
à janela. Ninguém acena: guardamos com os outros
o segredo das tuas visitas. Ambos. O gato e eu.
Maria do Rosário Pedreira in A Casa e o Cheiro dos Livros, pag. 36, Gótica, 2002
Escrito/editado por Marta 1 Terráqueos
Etiquetas: Maria do Rosário Pedreira
[S]hort [M]essage [S]ervice de utilidade restrita
a correr no meu dicionário quer dizer "com imensa vontade de chegar aqui".
na verdade, corro muitas vezes a passo de caracol.
volto a focar-me. para desfocado já chega o coração e o país.
deixo-vos com mais dois poemas e com votos de uma excelente semana.
se for urgente, enviarei SMS.
urgente no meu dicionário quer dizer "com imensa vontade de chegar a ti".
perdão. aqui]
Escrito/editado por Marta 3 Terráqueos
Etiquetas: coisas minhas
O tempo...
Virginia Woolf, in Orlando
Escrito/editado por Marta 1 Terráqueos
Etiquetas: Virginia Woolf
sábado, abril 2
a noite pede musica
...para quem, como eu, gosta de ouvir música de olhos fechados...
Escrito/editado por Marta 1 Terráqueos
A menina e o pássaro encantado
Era uma vez uma menina que tinha um pássaro como seu melhor amigo. Ele era um pássaro diferente de todos os demais: era encantado. Os pássaros comuns, se a porta da gaiola ficar aberta, vão-se embora para nunca mais voltar. Mas o pássaro da menina voava livre e vinha quando sentia saudades… As suas penas também eram diferentes. Mudavam de cor. Eram sempre pintadas pelas cores dos lugares estranhos e longínquos por onde voava. [...]
Ruben Alves in A menina e o Pássaro Encantado
Escrito/editado por Marta 1 Terráqueos
Etiquetas: Ruben Alves
A Fada Dorinda e a Bruxa do Mar
[...esta é uma das histórias preferidas da Francisca...]
Escrito/editado por Marta 0 Terráqueos
O Incrivel Rapaz Que Comia Livros
[...uma das histórias preferidas do meu sobrinho Miguel...]
Escrito/editado por Marta 3 Terráqueos
Dia Internacional do Livro Infantil
copy/past
«Quem não conhece contos como o Patinho Feio, O Soldadinho de Chumbo, A Pequena Sereia, A Princesa e a Ervilha...
O seu autor é Hans Christian Andersen. Este escritor nasceu a 2 de Abril do ano de 1805 e como a contribuição da sua obra é tão importante, na data do seu nascimento comemora-se o Dia Internacional do Livro Infantil.
No âmbito deste dia deixamos como sugestão a visita a um site excelente com contos de Hans Christian Andersen. Podes consultá-lo aqui
Boas leituras!
Aproveitamos para convidar todos os leitores e amigos para visitar a Mostra de Bibliotecas Escolares da Rede Concelhia de Faro, “ As Imagens têm Texto”, no Fórum Algarve, de 2 a 4 de Abril, no âmbito do Mês da Leitura.
Esta iniciativa realiza-se através de uma parceria estabelecida entre a Direcção Regional de Educação do Algarve, o Fórum Algarve, a Biblioteca Municipal de Faro e o Grupo de Trabalho da Rede de Bibliotecas Escolares do Concelho de Faro.
O piso 0 do Fórum Algarve, vai transformar-se durante os próximos dias 2,3 e 4 de Abril numa Biblioteca Escolar. Pretende-se divulgar a Rede de Bibliotecas sensibilizando a comunidade, em particular as famílias, para a importância que este programa desempenha no suporte às aprendizagens, no desenvolvimento de competências de informação, na formação de leitores e na promoção de hábitos de leitura. Contamos consigo!»
Escrito/editado por Marta 0 Terráqueos
Etiquetas: Dia Internacional do livro infantil
[S]hort [M]essage [S]ervice de utilidade restrita
Escrito/editado por Marta 3 Terráqueos
Etiquetas: SMS