quarta-feira, abril 27

Amável senhora, não cante

XXVIII



Amável senhora, não cante

Canções tristes sobre o fim do amor;

Afaste a tristeza e cante

O quanto basta o amor que passa.



Cante o longo e profundo sono

Dos falecidos amantes, e como

Na sepultura todo o amor repousará:

Por ora o amor está cansado.


James Joyce, in Poems and Shorter Writings, Faber and Faber, 2001, p. 40.

[Versão de HMBF, de onde poema e imagem foram desviados]

quinta-feira, março 5

Marilyn leu Ulisses?


Um querido amigo - um querido amigo? - não, um queridíssimo amigo, oferereceu-me, pelo aniversário, o livro «Mulheres que lêem são perigosas». Na página 147 encontra-se esta fotografia de Marilyn a ler Ulisses. O texto que acompanha a fotografia de Eve Arnold, reza assim:
«A pergunta é quase inevitável: "Ela leu ou não leu?" Marilyn Monroe, a sex symbol loura do século XX leu o Ulisses, de James Joyce, um ícone novecentista da cultura intelectual e o livro que é para muitos o maior romance moderno, ou estava apenas a fingir?
Porque, como atestam outras imagens da mesma sessão fotográfica, é o Ulisses que Marilyn a ler aqui. Richard Brown, um professor de literatura, quis tirar o caso a limpo. Trinta anos depois da sessão fotográfica, escreveu à fotógrafa, que devia saber a resposta. Eve Arnold respondeu que Marilyn já estava a ler o Ulisses quando se encontraram. Marilyn tinha afirmado que lhe agradava o estilo do livro; que o leria em voz alta para o compreender melhor, mas que era difícil. Antes da sessão, Marilyn estava a ler o Ulisses enquanto Arnold preparava a película. E foi assim que ela foi fotografada. Não precisamos alimentar a fantasia do professor e imaginar que Marilyn continuou a ler Ulisses, se matriculou numa faculdade e abandonou a sua vida de estrela de cinema para aprofundar os seus conhecimentos acerca de Joyce e que, já como professora reformada, recordou os dias fascinantes da sua juventude. Mas podemos seguir os conselhos do professor e ler o Ulisses como Marilyn fez: não de seguida, do princípio ao fim, mas episodicamente, abrindo o livro em páginas diferentes e lendo pequenos trechos. Talvez chamássemos a este modo desorganizado de ler o "método Marilyn". Seja como for, o professor Brown recomenda-o aos seus alunos.»

[...eu nunca o li, confesso... mas também o professor Brown, nunca foi meu professor.]
Imagem: do meu livro