o dia começa e o corpo nos renasce
Regresso recém-nascido ao teu regaço
minha mais funda infância meu paul
Voltam de novo as folhas para as árvores
e nunca as lágrimas deixaram os olhos
Nem houve céus forrados sobre as horas
nem míseras ideias de cotim
despovoaram alegres tardes de pássaros
O sol continua a ser o único
acontecimento importante da rua
Eu passo mas não peço às árvores
coração para além dos frutos
Tu és ainda o maior dos mares
e embrulho-me na voz com que desdobras
o inumerável número dos dias
Ruy Belo , Obra Poética, vol. 1, Presença, Lisboa, 1981
3 Comments:
Deve ter sido difícil para Ruy Belo afastar-se da religião, mas as suas dúvidas e sofrimento tiveram estes maravilhosos frutos. Há uma série de poemas muito bons em que existe uma interessante ambiguidade (pelo menos para quem não sabe muito sobre a sua vida): estará a referir-se a Deus ou à pessoa amada?
Poema muito "Belo". sem dúvida...
gostei muito de (re)ler. aqui...
beijos
É lindo e triste e tão repelto de uma certa urgência que desconheço ou, talvez, que reconheço e me distancio.
Post a Comment