domingo, dezembro 11

Casa cheia!


Mais uma vez, casa cheia na FNAC do Norteshopping, na passada sexta-feira, para mais uma apresentação do livro "Lúcio Feteira: das Origens à Glória". Pormenores aqui , no blog do autor.

quarta-feira, novembro 30

Anotem aí na agenda, por favor...


Apresentação do livro
 Lúcio Feteira: A História Desconhecida - das Origens à Glória, Vol. I
Miguel Carvalho

Lisboa - FNAC Chiado, dia 4 de Dezembro, às horas

Porto - FANC Norteshopping, dia 9 de Dezembro, às 22 horas

segunda-feira, novembro 28

O livro de que se fala


Estava uma tarde de sol em Vieira de Leiria. Boa para passear pela praia do Liz! E, mesmo assim, o auditório estava lotado no dia em que o livro Lúcio Feteira - A História Desconhecida: Das origens à Glória [ Volume I] deu à estampa. Interessante observar as pessoas que o compravam. Abriam-no de imediato como quem procura com urgência algo que lhes pertence. Alguns estacavam na árvore genealógica. Outros, retiam-se nas imagens. Outros, ainda, enquanto a sessão de apresentação não começava, encostavam-se a um canto, com luz, a ler. O certo, é que a vontade de entrar naquela história transbordava. Procuravam falar com o autor e pediam autógrafos antes e depois de todos os oradores falarem. Primeiro, Paulo Vicente, vice-presidente da Câmara da Marinha Grande, um discurso sentido que emocionou. Depois, Francisco Oneto Nunes, antropólogo, "filho da terra", como disseram, após ter feito o trabalho monográfico sobre Vieira. Conhecedor do terreno, falou de cátedra sobre as relações de poder e do poder simbólico naquela comunidade. Pelo meio, a pedido do autor, leu-se o fax enviado por Olímpia Feteira, filha do milionário e cabeça-de-casal da herança.  E, por fim, Miguel Carvalho falou. Agradeceu, explicou como tinha chegado ali, ao livro de que se fala. É um retrato, disse. Fruto de uma investigação jornalística e de uma curiosidade natural pela figura de Tomé Feteira, que se foi adensando. De resto, quando a revista Visão o enviou a primeira vez a Vieira  de Leiria, até foi a contragosto! Explicou que este livro é também uma forma de devolver aquela terra uma parte das suas memórias. E isso era tão visível, logo ali, só pela avidez com que muitos se atiraram às páginas, sem precisarem do conforto do sofá. E não eram apenas mãos macias, eram também mãos calejadas, muitas mãos abertas pelo trabalho mais duro.
Miguel Carvalho terminou a sua intervenção, reiterando o convite a todos que queiram dar o seu contributo para o próximo volume.E, mais uma vez e sempre, com a coluna vertebral que em nenhuma situação deixa no cabide, disse: "para já têm o primeiro volume. Tirem as vossas conclusões e mais do que julgarem um homem e um tempo julguem-me a mim".

quinta-feira, novembro 24

Já está nas livrarias... e não se consegue parar de ler...


[...]  Dos cabarets à pintura, do ballet ao cinema, da escultura à fotografia, a comunidade russa contamina a França, de Cannes a Paris, com seus talentos, encantos, misérias e cheiro a mofo.


A capital é a nova casa de mulheres fatais, sofisticadas, ex-condessas e ex-damas da corte russa.

Músicos russos seduzem os parisien...ses com as suas melodias tradicionais. Antigos generais czaristas, engalanados como no tempo do Império, são agora porteiros da lendária vida noturna de Paris.

Todas as noites gera-se uma azáfama considerável na margem direita do Sena.

Homens de fraque e mulheres copiando as roupas e trejeitos das atrizes famosas confluem para a Rua de Liége, 3, onde uma enorme porta de grossa madeira cravada na parede simula o imaginário de um castelo. Entre os habitués do Cabaret Shéhérazade está Lúcio Feteira.

A porta abre-se num estalido.

Lá dentro, um cenário oriental com o charme da decadência acolhe a alta sociedade cosmopolita de Paris.

Tecidos luxuosos forram os tetos, em balão, e descem pelas paredes.

Pelas mesas, envoltos em névoas de fumo de cigarros, repousam os melhores champanhes em baldes de gelo.

O ambiente é sumptuoso, desde os trajes típicos dos empregados ao mobiliário. A Rússia czarista sobrevive no Shéhérazade num cenário de ceias pantagruélicas, com orquestras e balalaicas em fundo.

Lúcio viveu os seus últimos anos de juventude sem compromissos, sem regras e sem perder muito tempo a pensar no futuro.

«Fui muito feliz em Paris», recordará, melancólico.

Naqueles loucos anos 20, diverte-se até ao amanhecer, rodeado de tentações e fazendo as amizades mais improváveis, entre elas a do príncipe Carol, da Roménia, cúmplice de madrugadas e perdições, pouco dado aos rigores do matrimónio e famoso pela sua desconcertante vida amorosa.

Embriagado de boémia e rodeado de companhias que desafiam a libido, Lúcio demorará ainda uns meses a cair na realidade.

Mas o pecúlio acumulado na odisseia africana estava a finar-se e Feteira começa a perceber o estreito caminho em que se havia metido.

Embora relutante em abandonar uma vida de fausto, toma a decisão de embarcar no Sud-Express e regressar a Portugal.

Despede-se dos amigos e dos romances, compra o bilhete e parte. [...]

Miguel Carvalho in Lúcio Feteira, A História Desconhecida, pag. 101, QuidNovi, 2011

domingo, novembro 20

...e a data apróxima-se...


[...pré-lançamento nacional, Vieira de Leiria, já no próximo dia 26...]

...sobre o livro pode ler-se aqui, por exemplo...

domingo, outubro 30

Está quase a chegar às livrarias

SINOPSE

«A 8 de dezembro de 2009, Rosalina Ribeiro, secretária e amante do milionário Lúcio Tomé Feteira, foi assassinada no Rio de Janeiro, no Brasil. O crime trouxe à luz do dia a violenta disputa da incalculável fortuna do industrial nascido em Vieira de Leiria. «O caso da herança Feteira», até aí assunto de advogados e tribunais, saltou então para as páginas da Imprensa e para o horário nobre das televisões.

Quem foi Lúcio Feteira? Que segredos e mistérios atravessaram a sua existência? O que se esconde por detrás da sua riqueza? Porque lhe chamavam génio, louco e perigoso? Que histórias e tragédias marcaram a família? Quem foram as mulheres da sua vida? Em que polémicas e conspirações se envolveu? Porque quiseram matá-lo?

Com recurso a dezenas de entrevistas e testemunhos, centenas de documentos inéditos e milhares de páginas de arquivos públicos e privados, esta é a primeira parte da história nunca contada de um homem poderoso, fascinante e controverso, que morreu à beira de celebrar cem anos, idolatrado e odiado.»

Lúcio Feteira – A história desconhecida, Miguel Carvalho, Volume 1, Das origens à glória, 304 páginas, Quidnovi Editores


APRESENTAÇÕES

  • Vieira de Leiria - 26 de Novembro (sábado), às 16.30, no auditório da Junta de Freguesia.
A apresentação fica a cargo de Paulo Vicente, vice-presidente da Câmara Municipal da Marinha Grande, e de Francisco Oneto Nunes, antropólogo e professor do ISCTE

  • Lisboa -  4 de Dezembro (domingo), às 17 horas, com apresentação do jornalista Mário Zambujal

  • Porto -  9 de Dezembro (sexta),  às 22 horas, na Fnac do Norteshopping, com apresentação do jornalista, Carlos Daniel

terça-feira, fevereiro 22

Rui Rio na Almedina


«A sessão da Comunidade de Leitores da Almedina no próximo sábado, 26, tem um convidado especial: Rui Rio. Porquê o convite ao Presidente da Câmara do Porto para participar numa tertúlia literária? Simples: Rui Rio publicou em 2002 um livro que reúne algumas das suas principais reflexões sobre a política nacional e autárquica, cujas temáticas mantêm enorme actualidade. Nas páginas de «A Política in situ» (Porto Editora) fala-se das grandezas e misérias da actividade política através de temas que continuam na ordem do dia: financiamento partidário, leis eleitorais, o papel do Estado, o poder mediático, a herança do 25 de Abril, o estatuto dos deputados, a Justiça, a noção de interesse colectivo, a crise de valores, Lisboa e o País, entre outros. Podemos concordar ou não com as opiniões e posturas de Rui Rio, mas ninguém negará a importância deste debate numa altura em que o próprio autarca admite estar em risco o regime saído da Revolução dos Cravos, em 1974 (ver notícia de hoje no jornal «I»). Sábado, a partir das 17 horas, no Arrábida Shopping, lá estaremos, na livraria do costume».
Desviado daqui

sábado, janeiro 15

O regresso da Comunidade

A Comunidade de Leitores está de volta! É o terceiro ciclo. Mas o cenário não muda: Almedina do Arrábida Shopping. Nem o cenário, nem o dinamizador das tertúlias: Miguel Carvalho. Livros em volta. Olhares atentos. Mote: cidade do Porto.

«Aqui fica, pois, a lista definitiva dos participantes e as respectivas datas das sessões. Creio que os convidados garantem, pelo menos, uma ampla variedade de abordagens: da política à poesia, da religião às tradições populares, das memórias à escrita de um Porto sentido. Os interessados em participar devem fazer uma inscrição gratuita na Livraria Almedina do Arrábida Shopping».

Anotem, s.f.f.

Últimos sábados do mês – 17 horas

JANEIRO (dia 29)
JOEL CLETO
Livro: Lendas do Porto (Quidnovi)
FEVEREIRO ( dia 26)
RUI RIO
Livro: A Política In Situ (Porto Editora)
MARÇO (dia 26)
CARLOS TÊ / MANUELA BACELAR
Livro: Cimo de Vila (Afrontamento
ABRIL (dia 30)
D. MANUEL CLEMENTE (Bispo do Porto)
Livro: Porquê e Para Quê – Pensar com Esperança o Portugal de Hoje (Assírio & Alvim)
MAIO (dia 28)
FILIPA LEAL (+ sessão de poesia)
Livros: A Cidade Líquida e Outras Texturas, O Problema de Ser Norte e a Inexistência de Eva (Deriva Editores)
JUNHO (dia 25)
ALFREDO MENDES
Livro: Porto – Naçom de Falares (Âncora)
Fonte: aqui

imagem: Claudia de Sousa Dias

segunda-feira, novembro 15

Prémios Gazeta entregues hoje

[Miguel Carvalho]

«Reunido na sede do Clube de Jornalistas, o Júri dos Prémios Gazeta decidiu atribuir o Grande Prémio Gazeta 2009 a Miguel Carvalho, da revista Visão, pelo seu trabalho “Os segredos do Barro Branco”, centrado em Joaquim Ferreira Torres, controversa figura ligada à oposição violenta ao 25 de Abril e assassinado em Agosto de 1979.
Com base numa investigação em que aos testemunhos actuais de pessoas que de algum modo estiveram ligadas a Joaquim Ferreira Torres se junta um aprofundado trabalho de recuperação de variada documentação, parte da qual inédita ou pouco explorada, Miguel Carvalho traça o perfil, o percurso, os relacionamentos e os contextos que acabaram por conduzir o protagonista ao trágico desenlace final. Numa linguagem concisa e num estilo fluido, Miguel Carvalho devolve-nos, reconstrói e enriquece a memória de um passado demasiado recente para poder ser esquecido ou ignorado, o que reveste “Os segredos do Barro Branco” de uma inegável actualidade.
Fonte: AQUI
Também pode espreitar aqui

domingo, novembro 7

Estão todos convidados

Amanhã, dia 8, às 21.30, na Fundação Cupertino de Miranda, no Porto.
Lançamento do novo livro do professor Hélder Pacheco.
«Ao contrário do que possa parecer, não será um evento clubístico, nem oficialmente comprometido, mas sim uma ocasião para falarmos desses laços que unem a cidade, o clube e um certo grito de revolta que atravessa gerações e classes», escreve o jornalista Miguel Carvalho, convidado a apresentar-nos o livro. Não faltem!

sábado, agosto 28

As sete vidas do Porto


[só quem sente o Porto, o escreve assim...]
«Os portuenses trocaram o marasmo e a morrinha pela movida. Bares, galerias, lojas e eventos agitaram ruas e deram glamour a quarteirões decadentes. O Porto está no mapa e a Baixa na moda. Falta. habitá-la. Há vida para além dos copos?

Sentado numa das mesas do Café Piolho, horas antes de a Praça Parada Leitão se transformar no habitual enxame das noites de sábado, o radialista Álvaro Costa folheia o Financial Times. A leitura das páginas salmão recorda-lhe uma evidência: agora, já não precisa de andar com uma lupa à cata de notícias sobre o Porto na Imprensa internacional. Dos jornais de referência às sedutoras Wallpaper e Monocle "têm sido publicadas muitas e boas coisas. Isto está a mexer!".

Nas artérias das redondezas borbulha esse novo burgo, renascido da oratória da lamúria. Arranham-se guitarras para os concertos de rua do Porto Sounds e reservar mesa para jantar pode ser um martírio antes do mergulho nas seduções que a noite tece. "Mistura de Antuérpia, Bruges e Amesterdão, com uma pitada de Dublin", eis a cidade que salta agora aos olhos, "sem mortos nem feridos", diz Álvaro Costa.

Baixa é conceito vago, não se sabe onde começa e acaba.

Das janelas da Rua da Torrinha saem sons de violinos desencontrados. Nas Galerias Lumière, dão-se os últimos retoques nos preparativos para mais um flashback musical até o dia raiar. No Espaço 77 da Travessa de Cedofeita fritam-se os rissóis que vão aconchegar os estômagos líquidos e dançantes da Casa de Ló ou do Pherrugem. O Rádio deixou a sua gruta em Miragaia e botou corpo: agora é esplanada, bar e discoteca com varanda para a Praça Filipa de Lencastre, desassossego das almas noctívagas e dos hóspedes do Hotel Infante Sagres (conta-se que, no início da movida, um sheik árabe terá saído desaustinado do quarto, a meio da noite, enfurecido com o marulhar da onda tripeira).

Na Rua da Galeria de Paris, a Meca do momento, a tarde cai lenta no bar-restaurante com o mesmo nome, rodeado de armários antigos que guardam velhos rádios, brinquedos, cartazes de cinema e outras memórias feitas relíquias.

Mas a noite não tarda e entupirá a rua.

Quase defronte, a Casa do Livro espera nova enchente madrugada dentro, enquanto o piano descansa de outras folias tardias.

Em dias de semana, o ritmo do camartelo e o corrupio de camiões com entulho anunciam um processo de renovação em curso na Rua do Almada, que já foi "dos ferreiros. Na artéria freak, onde o restaurante Cão Que Fuma ainda é, para alguns, ponto de partida para a noite, refazem-se fachadas e pintam-se casas para alugar e vender. Isto, anos depois da chegada da loja-galeria-livraria-bar Maria Vai com as Outras e das montras de vinis, de mobiliário vintage, de artesanato urbano, de vestuário, da seita da lomografia e outras devoções.

Design arrojado de interiores, espírito inventivo e filosofias não convencionais associadas aos negócios determinam cultos, diferenciam lugares, impõem estilos. "O Porto tem hoje espaços com um cuidado estético e um conceito associado que são quase imbatíveis", sugere Pedro Araújo, que abriu o Cafe au Lait no silêncio sepulcral da hoje incontornável e ruidosa Galeria de Paris. "Da arquitetura ao mobiliário, da música às bebidas, quis dar personalidade e coerência ao lugar", justifica o dono deste café-bar, moderno e antigo q.b., frequentado por senhoras "chá das cinco ", profissionais liberais e estudantes wireless, conforme as vagas do dia.

Noite dentro, com o cartão de consumo obrigatório abolido na maioria dos espaços bebíveis, o Porto, mais democrático, desagua em definitivo na rua, entrando e saindo dos sítios quando e como lhe dá na telha.

Para Álvaro Costa, este bulício deu à Baixa um ar de "centro Erasmus rock & roll", com ritmos e traços "da geração digital" a refletirem-se em "movimentos artísticos e tendências que vão do sítio x à maluqueira z". Não faltam o toque bourgeois, decorações e postura retro chic, ares de "capitalismo copofónico " e figuras como Rui Moreira, da Associação Comercial do Porto, "o nosso Bernard Henri-Lévy. Tão confortável a pensar a cidade, a comer uma francesinha ou a tomar café em Tóquio". A urbe vive "o seu PREC tardio. O 25 de Abril está ainda muito fresco, mas lá chegará o 25 de Novembro", antecipa o animador da emissora pública.
E, NO ENTANTO, MOVE-SE...
Foi tudo muito rápido. Mas não tão rápido assim.
Há uns anos, Álvaro Costa punha o pé fora do edifício da RDP na então deprimente Rua Cândido dos Reis e já sabia que ia encontrar "a puta que, todos os dias, prometia deixar a vida" e dar de caras com o "seu" Hitler Manson, "uma dessas figuras de cérebro avariado que vagueiam pela cidade com discursos a norte de Hitler e a sul de Charles Manson".

Nesse tempo, a Baixa era ainda "vida de esquina", recorda o jornalista. Sucediam-se, como na canção, ruelas e calçadas de "pedras sujas e gastas". Lampiões "tristes e sós" iluminavam prédios devolutos, moribundos armazéns de tecidos e o caminhar de uns quantos "fantasmas" inseguros.

Da animação gerada pela Capital Europeia da Cultura, em 2001, nem rasto. O Porto estivera in, é verdade, mas o novo executivo camarário estava out e com a ressaca de obras do evento para pagar. Acabadinho de chegar ao município, Rui Rio prometera guerra aos interesses instalados, pondo-se a jeito: "Ainda não me chamaram inculto, mas pouco falta." Chamaram-lhe isso. E muito mais.

O fascínio da Invicta sobrevivia, lá fora, à custa do habitual tom sépia, ilustrado com o Vinho do Porto, o Douro, as pontes e o casario da "pitoresca cidade" em cascata, vestida com aquilo a que alguns chamam "o charme da decadência ". Desafinado do eterno postal, só o quinteto Universidade, Arquitetura, Serralves, Casa da Música e FC Porto galgava fronteiras e impressionava a exigente e seleta Europa da champions league.

Contestado, La Féria ocupava, entretanto, o Rivoli. Famílias varreram a naftalina da toillete e voltaram a incluir o teatro na agenda. "Não sofro de complexos de intelectualismo. Por isso, no confronto com a cidade só para alguns, ainda bem que ganhou a cidade para todos", refere Hélder Pacheco, historiador do Porto.

Algo nunca visto anunciava-se, porém, no horizonte. [...]»

[este magnífico texto do jornalista Miguel Carvalho, continua AQUI.

sexta-feira, julho 9

Eu, Mariana


[...e por falar em textos em que apetece fintar o fim.
para que não terminem.
fiquem com este. do Miguel Carvalho.]

«Lembro-me dos sons da liberdade chegarem de noite, pela calada, arranhados como uma canção usada. A verdade, naqueles anos, tinha um preço alto e era uma palavra que entrava em casa através de vozes raras e roufenhas. Pousávamos uma cafeteira em cima do rádio velho, a fazer de antena, e sintonizávamos o Portugal livre, que existiria longe da vista, mas nunca longe demais para os nossos sonhos.

Tinha 19 anos e era muito bonita, sabes?

Não punha pé na rua sem as sobrancelhas arranjadas com minúcia e um par de horas diante do espelho. Com a idade e os avessos da vida, a gente habitua-se ao desuso do corpo e dos caprichos. Mas ainda hoje morro de saudades do meu corte de cabelo soixante-huitard, falsamente despreocupado, do meu vestidinho de manga curta e saia acima do joelho, com pequenos e rebeldes quadrados coloridos a cinza e preto, e o sapatinho branco de fivela, de fino e curto tacão. Nos meses frios, não largava a boina – já devia ser tique revolucionário – e o meu amado casaco de gomos, que usava com calça branca. Havia ali um ar vagamente queque, é verdade. E sim, os rapazes rondavam-me, mas eu sempre à míngua de tempo para eles, exceptuando um outro «namorico», de amar e largar.

sexta-feira, novembro 20

2ª edição para Aqui na Terra

«Já é oficial: o “Aqui na Terra” vai para segunda edição. A boa notícia junta-se a outra: em cinco meses, fizemos já dez apresentações do livro, “à deriva, com o rumo certo”. E feitas as contas, juntamos mais de 400 pessoas em diversas sessões e tertúlias, muitas vezes a horas ditas impraticáveis. Verificamos que, afinal, há por esse País fora, quem queira ser cúmplice de palavras e ideias…aqui na terra. Entretanto, as apresentações no Alentejo transitam para Janeiro. Até porque, até meados de Dezembro, serão agendadas sessões em Espinho, São João da Madeira, Vieira do Minho e, possivelmente, Lisboa. A 15 de Dezembro sai nova fornada. E enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar…»

[...lê-se no blog do autor. em alguma das sessões agendadas voltarei a estar. antes do Natal... é que não há melhor presente do que um livro e um livro autografado, então, é a cereja...depois da capa...]

quinta-feira, outubro 29

Aqui na Terra, país fora


Depois do Porto, Guimarães, Viana do Castelo, Chaves, Castelo de Paiva, Alvito, Braga, "Aqui na Terra", de Miguel Carvalho, é apresentado, amanhã, às 21.30h, na Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco, em Vila Nova de Famalicão. «As palavras ditas estarão por conta da minha querida Cláudia Sousa Dias (socióloga e bibliomaníaca assumida) e do padre Salvador Cabral», diz o autor, no seu blog [de onde também retirei a imagem]. É. A "pão de forma" anda pelo país fora... com o "Aqui na Terra" com o país dentro... A não perder. Claro!

sexta-feira, outubro 9

II edição da comunidade de leitores Almedina

clicar na imagem para ver a agenda

«Portugal morreu? Em que sentido? É este o ponto de partida para a primeira das sessões da segunda série da Comunidade de Leitores da Livraria Almedina, do Arrábida Shopping
Começa hoje, às 17 horas, e o mote da tertúlia - A Morte de Portugal - é dado pelo título de um livro do escritor Miguel Real. O autor estará presente na próxima sessão, dia 31.
«Como há tempos se escreveu na Imprensa, o livro de Miguel Real faz o diagnóstico “do Portugal forjado nos seus pesados complexos. Da riqueza à pobreza, da euforia à depressão, dos senhores de um império a europeus de periferia. Uma visão sobre o fim de um certo país.”. Um bom tema, portanto, para debater entre períodos eleitorais…
Miguel Real é o pseudónimo do professor e escritor Luís Martins. Nascido em Lisboa, em 1953, tornou-se sintrense por adopção. É licenciado em Filosofia e Mestre em Estudos Portugueses com uma tese sobre Eduardo Lourenço. A sua extensa obra abrange o ensaio, o romance e o teatro – este último em colaboração com Filomena Oliveira – e já foi galardoada com diversos prémios:
1979 – Prémio Revelação de Ficção da APE/IPLB com O Outro e o Mesmo;
1995 – Prémio Revelação de Ensaio Literário da APE, para Portugal – Ser e Representação;
2000 – Prémio LER/Círculo de Leitores para A Visão de Túndalo por Eça de Queirós;
2005 – Prémio Fernando Namora da Sociedade Estoril Sol para A Voz da Terra.
Uma bolsa do programa “Criar Lusofonia” do Centro Nacional de Cultura, permitiu-lhe seguir, em 2001, o itinerário do Padre António Vieira pelo Brasil, do qual resultou um diário e material para o romance O Sal da Terra, cuja publicação, em simultâneo com o ensaio O Padre António Vieira e a Cultura Portuguesa, coincidiu com a comemoração dos 500 anos do nascimento do jesuíta luso-brasileiro, em 2008.
Para além de escritor, especialista em cultura portuguesa e crítico literário, Miguel Real é professor de Filosofia na Escola Secundária de Mem Martins e membro, desde sempre, da equipa da biblioteca.
Tem publicadas várias obras, entre as quais “A Morte de Portugal” (Campo das Letras), “O Último Negreiro” (Quidnovi) e “A Ministra” (Quidnovi).
imagem: Almedina

terça-feira, setembro 15

Aqui na Terra, na estrada

era tão simples. eu ao volante de uma "pão-de-forma". na bagagem estantes com Aqui na Terra, do Miguel Carvalho. e um punhado de amigos. claro. depois, era só arrancar Portugal fora... e seria este o meu novo trabalho. a levar todos os livros às pessoas.
se souberem de uma vaga avisem :)
enquanto o sonho não se torna realidade, fica a agenda para os próximos dias. anotem aí s.f.f.

18 de Setembro - Guimarães - Associação Convívio, 21:30. Largo da Misericórdia. Com Esser Jorge, Carlos Mesquita e DJ Mike
19 de Setembro - Viana do Castelo - ATL Descansa a Sacola, 16:00. Rua General Luís do Rego, 215. Com João Ogando.
23 de Setembro - Chaves - Sr. Pastel Café. 21:30. Rua do Sol.
imagem: Google

sexta-feira, agosto 28

Saia um filme, sff


Já tenho aqui ao lado a Visão desta semana mas ainda vou falar da outra. A que saiu a semana passada. [É que não há forma de a dona deste blog me contratar definitivamente...] Os segredos do Barro Branco, uma reportagem do Miguel Carvalho. E que reportagem! Excelente. Com muita investigação, claro. Lê-se e, depois, apetece mesmo o filme. Tem os ingredientes todos! Todinhos. Nem sequer faltam dicas para o guarda-roupa da época. Nada. Nada. Tá lá tudo. Só falta mesmo quem faça sair o filme. Que a partir da reportagem, escreve-se o guião. Oram leiam, se ainda não leram. Alguns excertos e, creio eu, não restam dúvidas.


«Joaquim Ferreira Torres, industrial e financiador da rede bombista de extrema-direita, foi assassinado a 21 de Agosto de 1979. A morte serviu conveniências privadas e políticas. Mentores e autores não foram descobertos. O crime prescreveu. Trinta anos depois, a VISÃO traz a público novos dados e documentos.

Esta é a história de um homem controverso, de fortuna suspeita, que tentou cair nas graças do fascismo, deu dinheiro à oposição democrática, tirou comunistas da cadeia e ajudou “pides” e empresários a fugir. Um dia, ameaçou “abrir o saco” e calaram-no. A tiro. Por Miguel Carvalho Naquela manhã, Joaquim Ferreira Torres levantou-se mais tarde do que o habitual. Normalmente, estaria a pé às seis horas. Mas o jantar terminara para lá da meia-noite e ele havia passado a madrugada com dores na coluna. Estava, contudo, bem-disposto ao pequeno-almoço. Era Verão e a família mudara da vivenda das Antas, no Porto, para a sua Quinta de Vila Nova, em Penafiel. A mulher, Elisa, ia para as termas de São Vicente, ali perto. O marido continuava a fazer o percurso diário entre a casa e a fábrica têxtil de que era proprietário, em Famalicão, ignorando o significado da palavra férias.Apesar de discreto e reservado, regressara uma das últimas noites carregando uma mala com mil contos, fruto de um negócio com ciganos. Atarefado, nem deu importância ao facto de naquele período alguém lhe rondar a quinta, questionando os caseiros sobre as suas rotinas. Estranhara apenas as avarias no telefone, quase sempre ao final da tarde. O aparelho parecia ter vontade própria e os técnicos tardavam em descobrir o defeito.Tal não o impediu de marcar o referido jantar. Encomendara uns melões no restaurante Tanoeiro, em Famalicão, onde almoçava amiúde. O tenente-coronel Oliveira Marques e a esposa eram esperados à noite, vindos de Lisboa. Torres juntou à mesa a mulher, o “Quinzinho” - sobrinho que criou como verdadeiro filho desde os onze meses após a morte de um irmão - a irmã Sãozinha e o cunhado Mota Freitas, major da PSP, entre outros familiares. Antes e depois da refeição, os homens reuniram no escritório. Oliveira Marques foi embora já passava da meia-noite. Quando acordou, mal dormido, Torres vestiu uma camisa, casaco e calças claras, tipo caqui. Apertou o cinto de cabedal vermelho e calçou uns sapatos castanho claros picotados, de pala. No pulso, um Ómega de ouro. Num dedo, o anel, também em ouro, com brilhante de sete quilates. Guardou a carteira com umas dezenas de contos e numa pequena pasta preta colocou vários documentos, cerca de 42 mil pesetas e duzentos marcos. No casaco, levava a inseparável caneta em ouro e a agenda, recheada de contactos. Na lista, nomes de homens de negócios, policias e militares de várias patentes, velhos conhecidos do antigo regime, cónegos, políticos e cadastrados. O industrial fez-se à estrada no seu Porsche vermelho 911 T, por volta das oito horas. Em Paredes, comprou os três matutinos do Porto e seguiu viagem. Três quilómetros à frente, na estrada nacional que liga Paredes a Paços de Ferreira, talvez vendo um rosto familiar, abrandou. Numa emboscada de execução tipicamente militar, desconhecidos, munidos de armas pouco habituais no País, disparam contra ele vários tiros, atingindo-o sobretudo no crânio. Torres tombou, morto, para o lado direito do condutor. Passavam quinze minutos das oito horas do dia 21 de Agosto de 1979. O Porsche contava mais de 77 mil quilómetros. Duas jovens iam comprar vinho quando deram o alerta. Joaquim Ferreira Torres tinha 54 anos, negócios menos claros, fortuna invejável e ligações íntimas a meios políticos, económicos e militares. Aguardava, em liberdade condicional, a repetição do julgamento da rede bombista de extrema-direita. Garantira que “abriria o saco” sobre os segredos e cumplicidades desse tempo. A morte ficou conhecida como “o crime do Barro Branco”, lugar onde o calaram para sempre.


A ascensão, “à americana”


Até ali, ele tinha granjeando fama e fortuna vindo do nada e do esquecimento, ao estilo do mito americano. Nascera no simbólico 13 de Maio, em 1925, em Rebordelo, Amarante, um de 17 irmãos. Fez o ensino básico e vendeu carvão em Vila Pouca de Aguiar, onde o pai trabalhou nas minas. Também passou madeiras para Espanha, clandestino. Foi marçano numa loja de mercearias finas e, no final dos anos 40, já andava por terras transmontanas, de bicicleta ou motorizada, como comissionista e vendedor de rifas, ganhando bom dinheiro com sorteios de chocolates e navalhas.Em Murça, conhece Elisa, da aldeia de Noura, com quem haveria de casar. A rapariga trabalhara numa padaria e era governanta. “Uma lasca de mulher, muito cobiçada”, diz quem a conheceu. Namoram pelos quintais. E ela é sua cúmplice nas fugas à polícia que metiam saltos pelos telhados e esconderijos em tonéis de vinho. Os mandados de captura contra ele sucediam-se. E do tribunal de Chaves desapareceria, mais tarde, o seu registo criminal, que incluiria um historial considerável de abusos de confiança.Nos anos 60, já negociante de vinhos em Rio Tinto, Torres abre em Angola armazéns “com tudo do bom e do melhor para comer e beber”, segundo um antigo inspector da PIDE. As relações e os negócios fluem. A partir de 1964, Sousa Machado, empresário, recorre a ele para fazer face a problemas económicos na Companhia Mineira do Lobito e nos hotéis Presidente e Panorama, em Luanda. Ao longo de anos, pedirá montantes da ordem dos 200 mil contos, empréstimos cuja totalidade não liquidará até à morte do amigo. O filão, porém, é o tráfico de diamantes e divisas. Torres conhece Tschombé que, com ajuda da CIA e de diversos mercenários, tenta a secessão da província diamantífera do Katanga, no Congo. Quando o líder africano cai em desgraça, Salazar – que lhe cedera armas – dá refúgio aos familiares. Mas será o homem de negócios de Amarante a velar pelos interesses dos herdeiros de Tschombé. E pelos seus, claro.Torres regressara com uma fortuna incalculável.Deposita lingotes de ouro na banca e dedica-se à especulação bolsista, mantendo laços com amigos de África. Os bancos disputam-no e negoceia, fazendo-se caro. “Já ganhei mais mil contos!”, ouviam-no, ao telefone, com gestores e administradores. Entre outros investimentos, compra terrenos, uma tipografia, uma casa de câmbios e chegará a ser dono de 27 quintas no Norte do País. Passeia-se num Jaguar 4.2, anda de Porsche e num Mercedes amarelo 350 SLC, desportivo. É amigo do banqueiro Pinto de Magalhães e do empresário Xavier de Lima, quase dono de Setúbal, a quem ajudaria a recuperar a fortuna. É avalista de negócios no turismo e outras áreas. Credor dele, Sousa Machado abre-lhe portas nos meios políticos e militares. Hábil e desconfiado, anota tudo. Dos 110 contos que gasta nuns botões de punho a uma pulseira para a mulher no valor de 90 contos. O círculo íntimo sabe apenas o estritamente necessário. É de fúrias e impõe rotinas de forma quase militar, sem transigências. Rigoroso, manda repetir textos à máquina por causa de vírgulas. Na ascensão meteórica, cultiva gostos a preceito. Os fatos e sapatos são feitos às dúzias, por medida, nas melhores lojas de Santa Catarina, no Porto. De Londres, traz tecidos, sem falar mais do que o português. Em casa, cultiva uma decoração imponente e aparatosa, com móveis franceses, que convidados classificam como “neo-barroco da burguesia”. Os jantares são opíparos e a garrafeira não destoa. Comprara mais de cem garrafas de Barca Velha, ao preço de muitos ordenados da época. Preferia colheitas de 64 e 65. Ou um Faustino I, Rioja, de 66. Se acompanhassem uma perdiz cozinhada pela mulher, tanto melhor.Conquistado o estatuto financeiro, ao ritmo de “pronto-a-vestir”, Torres procura a legitimação social que lhe faltava. Os seus ciúmes tinham um nome: Gonçalves de Abreu, comendador, dono de um império industrial, figura prestigiada, presidente da Câmara de Amarante. A autarquia e uma comenda eram o seu sonho. Ele esmera-se. Em finais dos anos 60, compra a fábrica têxtil Silma, em Famalicão à família do destacado anti-fascista e comunista Lino Lima. Por mais de uma vez fará uso dos seus contactos para tirar o advogado dos calabouços da PIDE. Na Silma, onde a sirene marcava os ritmos das gentes de Brufe e Calendário, Mário Sousa, Maria de Sousa e Maria da Glória somaram 66 anos de trabalho. “O senhor Torres foi um bom patrão. Tinha as suas manias, mas pagou sempre os ordenados, mesmo quando esteve preso e fugido”, contam. A sindicalista Ondina Coutinho travou com ele braços-de-ferro, a doer. “Nada era dado sem luta. Mas tivemos condições de fazer inveja na região”.
[...]
Colecciona medalhas de benemérito e benfeitor. Mas antes de tudo isso, já tinha um convite irrecusável… A comenda que não veioTorres é nomeado para presidir à Câmara de Murça em 1971. Influências de um amigo salsicheiro a quem emprestara dinheiro. As verbas que faltavam ao município e que o Estado, somítico, não libertava, tinha-as ele. A terra dá um salto, ganha urbanidade. Oferece a cada morador um balde de plástico para o lixo que uma viatura camarária recolhe diariamente. Na rua, homem cénico que era, gesticula e dá ordens. “Exercia o mando, tinha dinâmica e visão”, assinala José Gomes, antigo presidente da autarquia. Manda electrificar aldeias, abrir caminhos, construir estradas. Aparece de surpresa nas freguesias e, “quando a verba se encontra esgotada, abre a bolsa e resolve os problemas”, contava o seu vice-presidente.
Deu vida a lugares isolados, escolas. “Foi um santo homem. Quem não é agradecido é melhor não andar neste mundo”, rende-se o lojista Alfredo Meireles. Adianta dinheiro que o Estado lhe pagará depois, aos bochechos. Cria uma extensão da sua fábrica têxtil, dá terrenos pessoais para a construção de casas e inaugura uma piscina de fazer inveja na região. “Com ele, Murça seria a Suíça de Trás-os-Montes”, crê José Gomes. [...]»

E é assim, até ao fim. De ler e pedir aos realizadores portugueses: saia um filme, sff!
imagem : google


terça-feira, agosto 11

5 estrelas e 6 meninos Jesus

« [...] A reportagem, ensina-se nas escolas, é o género mais nobre do jornalismo. E o lugar-comum deve ser evitado no jornalismo."A reportagem é o género mais nobre do jornalismo" já é um lugar-comum. Mas convém fixá-lo na hora de ler "Aqui na Terra", de Miguel Carvalho, pois terá pela frente 118 páginas da melhor reportagem que se faz em Portugal e nenhum lugar-comum. Apenas retratos de um país onde, mostra o autor, anda mesmo tudo ligado», escreve Ricardo Marques na Actual, do Expresso. E dá-lhe 5 estrelas. Ao livro.
É um livro 5 estrelas e 6 meninos Jesus! Abençoado, portanto! [mas disso eu já sabia...;)]

quarta-feira, julho 15

Aqui na Terra - imagens





Foi uma noite absolutamente fabulástica. De família, amigos, leitores. De beijos abraços, de palavras sábias e emotivas, de autógrafos. Muitos. Cem livros vendidos. Num ápice! Muita comoção. Muitos sentires. Sentidos. Foi lindo! Digo eu, daqui, do meu coração. Em bicos de pés, para me verem sorrir. Tão lindo, tão nosso, de todos. A desaguarmos numa francesinha. Ou não fosse uma noite feliz, no Porto. Onde se abrigam afectos. Afectos para sempre.

segunda-feira, julho 13

Aqui na Terra - lançamento do livro

Esqueçam a capa. Vamos directos ao miolo. É lá que vivem as histórias, que um dia foram reportagens, na sua maioria, da revista Visão e duas do semanário Independente. [Já extinto, como sabemos.] Há uma história inédita. Mas inéditas, vendo bem, são todas porque, de certa forma, são textos reescritos, limados contra o tempo e com espaço. O espaço que só um livro pode dar, porque um livro é um caudal de margens amovíveis. Ao contrário de uma reportagem. E, de certa forma são, também, todas inéditas, porque nunca antes coabitaram entre as capas de um livro. O livro chama-se Aqui na Terra e o autor é jornalista.

Miguel Carvalho é jornalista, mas podia ser antropólogo. Tem alma de. De João Pina Cabral. Por exemplo. O método das entrevistas para, em antropologia, fazer histórias de vida afina, aqui e ali, com o do jornalismo. Há diferenças, claro. E nem o Miguel Carvalho é antropólogo nem o Aqui na Terra é um diário de campo. É muito mais. No entanto, ao lê-lo não consegui deixar de traçar um paralelo. Nem deixar de pensar que estas histórias também tem «aromas de urze e de lama». Adiante.

As histórias de Miguel Carvalho não são sobre uma comunidade específica ou em extinção, ou, ou, ou... Não. O seu “trabalho de campo” foi realizado numa “comunidade” maior. Um país: Portugal. Com muitas histórias dentro. Muitos rumos. Onde o passado recente é memória colectiva. Onde a actualidade está tecendo História. Onde as pessoas são actores, sem hipótese de serem secundários. O papel principal cabe a cada entrevistado.

«O pecador Os últimos dias do padre Max, assassinado em 1976.O altar Em busca dos milagres que Fátima nunca viu. O cónego O sacerdote que não chegou a ser estátua. A seita O hipermercado da fé da Igreja Universal. A purificação Segredos que a vida encerra nos cemitérios. A celebração A aldeia refractária, orgulhosa da sua identidade. O pastor A vida de Hermínio Carvalhinho, antes e depois da fama. A cruz Viagem às profundezas da terra-mártir: Castelo de Paiva. O ritual A estrada da vida à boleia de um motorista de carreira. A agonia O definhamento das aldeias sem crianças. O santuário Homens que erguem o templo das massas. O martírio A ressaca de gerações numa vila do interior. A aparição O homem que ressuscitou ao passar a fronteira. A devoção À procura de Torga, no centro da terra. A via-sacra O fadário de João Correia, vida debaixo da ponte. A romaria O repórter desencontrado em Vilar de Mouros. A religião A aventura no País dos cançonetistas que entram no ouvido. O imaculado O Zeca Diabo português, de língua afiada e bofetada ligeira.»

Aqui na Terra fala-nos de pessoas. Homens. Terráquios. Dá-nos a conhecer episódios do país da última década em múltiplas frentes. O Portugal multitemático como a vida. A vida que supera sempre a ficção. A vida de um país em [foto] grafias tipo passe. Individuais, nítidas, a conferirem identidade a cada reportagem. São testemunhos ímpares. Documentos únicos. Histórias singulares que fazem o Portugal colectivo. Perfulgente. Baço. Comovido. Esquecido. Saudoso. Penitente. Trabalhador. Devoto. Amador. Aleijão. Sofrido. Bizarro. Contente. Sei lá. Muito Portugal.

Esqueçam a capa. Ou não. Não esqueçam. Porque de facto, após a leitura, dá-se a epifania: este Portugal por dentro, escrito por Miguel Carvalho é divino.
Divino e humano. Demasiado humano.



Muito importante: AQUI NA TERRA, editado pela Deriva, é lançado hoje, dia 14 de Julho, às 21.30, no espaço MAUS HÁBITOS, no Porto. A obra será apresentada por Nuno Higino, professor de Sociologia, escritor e antigo pároco de Marco de Canaveses e Zaclis Veiga, Professora de Fotojornalismo e jornalista brasileira. Estão convidados. Sei que sim.

imagem [fotografia da capa] Lucília Monteiro