segunda-feira, novembro 15

Prémios Gazeta entregues hoje

[Miguel Carvalho]

«Reunido na sede do Clube de Jornalistas, o Júri dos Prémios Gazeta decidiu atribuir o Grande Prémio Gazeta 2009 a Miguel Carvalho, da revista Visão, pelo seu trabalho “Os segredos do Barro Branco”, centrado em Joaquim Ferreira Torres, controversa figura ligada à oposição violenta ao 25 de Abril e assassinado em Agosto de 1979.
Com base numa investigação em que aos testemunhos actuais de pessoas que de algum modo estiveram ligadas a Joaquim Ferreira Torres se junta um aprofundado trabalho de recuperação de variada documentação, parte da qual inédita ou pouco explorada, Miguel Carvalho traça o perfil, o percurso, os relacionamentos e os contextos que acabaram por conduzir o protagonista ao trágico desenlace final. Numa linguagem concisa e num estilo fluido, Miguel Carvalho devolve-nos, reconstrói e enriquece a memória de um passado demasiado recente para poder ser esquecido ou ignorado, o que reveste “Os segredos do Barro Branco” de uma inegável actualidade.
Fonte: AQUI
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sexta-feira, novembro 12

Reportagens premiadas


«O jornalista do PÚBLICO Luís Villalobos e a jornalista da Rádio Renascença (RR) Filomena Barros foram os vencedores da edição deste ano do Prémio de Jornalismo do Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão Social, promovido pela Comissão Europeia. Luís Villalobos foi premiado pelo artigo Há 243 mil famílias em Portugal sem acesso a contas bancárias, publicado na edição impressa e online do PÚBLICO. Filomena Barros venceu com o trabalho Comboio dos Direitos, transmitido na RR.»
Fonte: aqui

sábado, agosto 28

As sete vidas do Porto


[só quem sente o Porto, o escreve assim...]
«Os portuenses trocaram o marasmo e a morrinha pela movida. Bares, galerias, lojas e eventos agitaram ruas e deram glamour a quarteirões decadentes. O Porto está no mapa e a Baixa na moda. Falta. habitá-la. Há vida para além dos copos?

Sentado numa das mesas do Café Piolho, horas antes de a Praça Parada Leitão se transformar no habitual enxame das noites de sábado, o radialista Álvaro Costa folheia o Financial Times. A leitura das páginas salmão recorda-lhe uma evidência: agora, já não precisa de andar com uma lupa à cata de notícias sobre o Porto na Imprensa internacional. Dos jornais de referência às sedutoras Wallpaper e Monocle "têm sido publicadas muitas e boas coisas. Isto está a mexer!".

Nas artérias das redondezas borbulha esse novo burgo, renascido da oratória da lamúria. Arranham-se guitarras para os concertos de rua do Porto Sounds e reservar mesa para jantar pode ser um martírio antes do mergulho nas seduções que a noite tece. "Mistura de Antuérpia, Bruges e Amesterdão, com uma pitada de Dublin", eis a cidade que salta agora aos olhos, "sem mortos nem feridos", diz Álvaro Costa.

Baixa é conceito vago, não se sabe onde começa e acaba.

Das janelas da Rua da Torrinha saem sons de violinos desencontrados. Nas Galerias Lumière, dão-se os últimos retoques nos preparativos para mais um flashback musical até o dia raiar. No Espaço 77 da Travessa de Cedofeita fritam-se os rissóis que vão aconchegar os estômagos líquidos e dançantes da Casa de Ló ou do Pherrugem. O Rádio deixou a sua gruta em Miragaia e botou corpo: agora é esplanada, bar e discoteca com varanda para a Praça Filipa de Lencastre, desassossego das almas noctívagas e dos hóspedes do Hotel Infante Sagres (conta-se que, no início da movida, um sheik árabe terá saído desaustinado do quarto, a meio da noite, enfurecido com o marulhar da onda tripeira).

Na Rua da Galeria de Paris, a Meca do momento, a tarde cai lenta no bar-restaurante com o mesmo nome, rodeado de armários antigos que guardam velhos rádios, brinquedos, cartazes de cinema e outras memórias feitas relíquias.

Mas a noite não tarda e entupirá a rua.

Quase defronte, a Casa do Livro espera nova enchente madrugada dentro, enquanto o piano descansa de outras folias tardias.

Em dias de semana, o ritmo do camartelo e o corrupio de camiões com entulho anunciam um processo de renovação em curso na Rua do Almada, que já foi "dos ferreiros. Na artéria freak, onde o restaurante Cão Que Fuma ainda é, para alguns, ponto de partida para a noite, refazem-se fachadas e pintam-se casas para alugar e vender. Isto, anos depois da chegada da loja-galeria-livraria-bar Maria Vai com as Outras e das montras de vinis, de mobiliário vintage, de artesanato urbano, de vestuário, da seita da lomografia e outras devoções.

Design arrojado de interiores, espírito inventivo e filosofias não convencionais associadas aos negócios determinam cultos, diferenciam lugares, impõem estilos. "O Porto tem hoje espaços com um cuidado estético e um conceito associado que são quase imbatíveis", sugere Pedro Araújo, que abriu o Cafe au Lait no silêncio sepulcral da hoje incontornável e ruidosa Galeria de Paris. "Da arquitetura ao mobiliário, da música às bebidas, quis dar personalidade e coerência ao lugar", justifica o dono deste café-bar, moderno e antigo q.b., frequentado por senhoras "chá das cinco ", profissionais liberais e estudantes wireless, conforme as vagas do dia.

Noite dentro, com o cartão de consumo obrigatório abolido na maioria dos espaços bebíveis, o Porto, mais democrático, desagua em definitivo na rua, entrando e saindo dos sítios quando e como lhe dá na telha.

Para Álvaro Costa, este bulício deu à Baixa um ar de "centro Erasmus rock & roll", com ritmos e traços "da geração digital" a refletirem-se em "movimentos artísticos e tendências que vão do sítio x à maluqueira z". Não faltam o toque bourgeois, decorações e postura retro chic, ares de "capitalismo copofónico " e figuras como Rui Moreira, da Associação Comercial do Porto, "o nosso Bernard Henri-Lévy. Tão confortável a pensar a cidade, a comer uma francesinha ou a tomar café em Tóquio". A urbe vive "o seu PREC tardio. O 25 de Abril está ainda muito fresco, mas lá chegará o 25 de Novembro", antecipa o animador da emissora pública.
E, NO ENTANTO, MOVE-SE...
Foi tudo muito rápido. Mas não tão rápido assim.
Há uns anos, Álvaro Costa punha o pé fora do edifício da RDP na então deprimente Rua Cândido dos Reis e já sabia que ia encontrar "a puta que, todos os dias, prometia deixar a vida" e dar de caras com o "seu" Hitler Manson, "uma dessas figuras de cérebro avariado que vagueiam pela cidade com discursos a norte de Hitler e a sul de Charles Manson".

Nesse tempo, a Baixa era ainda "vida de esquina", recorda o jornalista. Sucediam-se, como na canção, ruelas e calçadas de "pedras sujas e gastas". Lampiões "tristes e sós" iluminavam prédios devolutos, moribundos armazéns de tecidos e o caminhar de uns quantos "fantasmas" inseguros.

Da animação gerada pela Capital Europeia da Cultura, em 2001, nem rasto. O Porto estivera in, é verdade, mas o novo executivo camarário estava out e com a ressaca de obras do evento para pagar. Acabadinho de chegar ao município, Rui Rio prometera guerra aos interesses instalados, pondo-se a jeito: "Ainda não me chamaram inculto, mas pouco falta." Chamaram-lhe isso. E muito mais.

O fascínio da Invicta sobrevivia, lá fora, à custa do habitual tom sépia, ilustrado com o Vinho do Porto, o Douro, as pontes e o casario da "pitoresca cidade" em cascata, vestida com aquilo a que alguns chamam "o charme da decadência ". Desafinado do eterno postal, só o quinteto Universidade, Arquitetura, Serralves, Casa da Música e FC Porto galgava fronteiras e impressionava a exigente e seleta Europa da champions league.

Contestado, La Féria ocupava, entretanto, o Rivoli. Famílias varreram a naftalina da toillete e voltaram a incluir o teatro na agenda. "Não sofro de complexos de intelectualismo. Por isso, no confronto com a cidade só para alguns, ainda bem que ganhou a cidade para todos", refere Hélder Pacheco, historiador do Porto.

Algo nunca visto anunciava-se, porém, no horizonte. [...]»

[este magnífico texto do jornalista Miguel Carvalho, continua AQUI.

quinta-feira, maio 7

i*... o que é que Obama anda a ler...


Não lhe perguntei. Infelizmente. Mas alguém perguntou por mim. Dizem que é ÍSSIMO. Eu ainda não o li. Li, aqui, uma entrevista exclusiva com o Senhor Presidente. E li mais coisas. A correr. Ainda não vi a versão papel do novo diári*o. O design, assim, à primeira parece-me muito apetecível. Mas preciso ver com as mãos. E só depois poderei emitir a minha opinião. Para já, fiquei-me pelo on line. E dou-me por agradecida... porque o meu dia - nem vos digo nem vos conto - não fica por aqui, hoje! Aliás, isto vai piorar. Que, no caso, é como quem diz, melhorar!Sim, porque em época de crise, mesmo que tenhamos de trabalhar por três, temos de agradecer! E cá estou eu a fazê-lo. Sem nenhuma ironia. Apenas temo, porque gosto da vossa companhia, ter de me afastar. Por um período de tempo. A ver vamos.
De qualquer modo, o Grupo Lena está de parabéns. Com este novo jornal, criou 100 postos de trabalho, num sector que, ainda há uns meses, despedia aos magotes! Tomara que lhes corra tudo bem. E, sabem que mais, eu gosto do Grupo Lena. Estou à vontade para o dizer. Pois não tenho a mínima ligação às empresas. Nem sei exactamente quem são as pessoas. Mas, ao longo dos anos, por diferentes motivos tenho lido - como direi - sobre projectos que concretizaram em diversas frentes e, tenho para mim, que tem líderes de visão e acção. E são portugueses. E não só! Agora, não tenho tempo de explicar porquê. Mas estava capaz de abrir um Grupo Lena Fã Clube! Depois, com tempo, explico tim tim por tim tim!

* não é gralha... :) versão on line aqui

terça-feira, maio 5

Informação tipo pizza


É assim, mais ou menos, como escolher os ingredientes para a pizza! Ora eu quero uma notícia daqui, daqui e daqui. Eu, cá por mim, só escolhia as boas!
A iniciativa é da TIME. O conceito é MINE: my magazine, my way. Pode escolher até 36 ingredientes - perdão - páginas! Depois o que escolher ler, de todas as revistas do grupo, é-lhe enviado por mail. Os primeiros 30 mil leitores nos Estados Unidos, podem também receber a sua própria revista por correio. Uma forma de contrariar a máxima bad news, good news :)

quinta-feira, fevereiro 26

Do jornalismo... hoje


«Chegou ao jornalismo em 1972, entrou no Diário de Notícias em 1977. A Controlinveste quer dispensá-lo. Nos últimos cinco anos, pelo menos 180 jornalistas perderam o emprego na área de influência do Porto. Está em marcha um "processo de desertificação" na área dos media».



É este o lead que nos faz avançar com avidez para a prosa de Ana Cristina Pereira. A jornalista entrevistou o jornalista Alfredo Mendes «Despedido num minuto e meio - dois minutos, vá lá».

(...)

«Até à década de 90, trabalhar no DN foi "exaltante". Com a saída do PÚBLICO, concorrente directo, o diário "começou a perder identidade. Depois, "entrou numa estratégia de ziguezague: quer ser tudo»

(...)

«Não era o único jornalista do pacote. Dentro dos 122 profissionais que a Controlinveste quer dispensar, estão 75 jornalistas - do Jornal de Notícias, do Diário de Notícias, do 24 Horas, d`Jogo e de outras pequenas publicações: 54 na zona de influência do Porto. Motivos avançados: "Desequilíbrio económico-financeiro num mercado em queda", "necessidade de reestruturar a empresa, nomeadamente eliminando postos de trabalho redundantes e adequando o nível de recursos humanos à actividade desenvolvida e à evolução tecnológica".

Pelo mundo inteiro a imprensa tem perdido leitores. Em tempo de crise, o investimento em publicidade, é um dos primeiros a ressentir-se, como refere o director do centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho, Manuel Pinto. E a publicidade é "vital" para a viabilidade dos media".

(...)

«Dos importantes títulos de imprensa do Norte, mantém-se hoje, como seu baluarte e com um forte enraizamento social, o Jornal de Notícias, lembra Carlos Lage, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte. O comércio do Porto morreu em 2005 (...) e o Primeiro de Janeiro transformou-se numa caricatura do que era (32 jornalistas despedidos em Agosto de 2008).

Nos últimos cinco anos, pelo menos 180 jornalistas da área de influência do Porto perderam o emprego (...) o ano passado o Expresso dispensou dois; há dois anos o Público, dispensou 11 - o que implicou acabar com as delegações em Braga, em Aveiro e em Vila Real.

Estará o Norte a tornar-se irrelevante? "Não, o Porto, o Norte, não é irrelevante. O Porto e o Norte estão é a merecer pouca atenção dos media", reponde o presidente do Sindicato dos Jornalistas, Alfredo Maia. "Todo o Portugal real - que tem a ver com as regiões, com as localidades - está".

No final dos anos 80, havia uma dinâmica de descentralização, lembra Joaquim Fidalgo. Depois, o país recuou. Se cairmos de pára-quedas numa reunião de autarcas e outras personalidades, veremos como isso é verbalizado. O centro de todas as decisões está em Lisboa, resume Armindo Abreu, presidente da Câmara de Amarante.

(...)

Este "processo de desertificação", na opinião de Carlos Lage, "deve suscitar preocupação e ponderação". "Não existem sociedades sem espaço público, nem vontades ou destinos colectivos, sem voz. Uma informação pública construída a partir de uma base social ou geográfica única é tão inaceitável e danosa como a que é construída por um código ideológico e de opinião exclusivista", diz.

Haverá muito quem ache que a "informação está tão disponível, que há tantas agências, tanta Net, que não é preciso ter jornalistas onde as coisas acontecem", admite Fidalgo. Mas a tecnologia não substitui o contacto com as pessoas". Não se pode "fazer adequada cobertura à distancia". Alfredo Mendes não podia estar mais de acordo: "Como é que os jornais podem ser uma alternativa à televisão, à Internet? Fazendo o jornalismo de "rabo-sentado", seguindo a grelha da televisão, indo à Internet? Estão a basear-se demasiado na Internet. Não há ligação ao público. Vão a Nova Iorque buscar ideias, mas não vão à Praça da Liberdade, à Avenida dos Aliados».

(...)

Não será fácil recomeçar aos 53 anos: "Aumenta a esperança média de vida e um jornalista com mais de 40 anos é para abater".

Proliferam cursos de Comunicação Social. Todos os anos, centenas de jovens tentam entrar na profissão. Alfredo Mendes desanima perante o que chama "estratégia chinesa": "Em vez de se ter profissionais com experiência, com qualidade, nos quadros das empresas, tem-se estagiários a trabalhar à borla. E sai um jornalismo padronizado, sem memória, sem génio e sem arte. E as redacções transformam-se em espaços frios, tristes".


[a entrevista pode ser lida na íntegra no PÚBLICO de hoje. O rapaz da mercearia, ali do lado - a quem roubei o jornal - já me tinha dito. «Ela escreve...» e escreve. Eu, para ler, coloquei o coração no bolso. Que faz frio. apesar do sol. é que ler tão bem escrito, o que está tão mal feito, dói ainda mais. obrigada Ana Cristina Pereira. digo eu, entre parêntesis.]