terça-feira, abril 14

Cotidiano nº 2


Há dias em que eu não sei o que me

passa

Eu abro o meu Neruda e apago o sol

Misturo poesia com cachaça

E acabo discutindo futebol



Mas não tem nada, não

Tenho o meu violão...



Acordo de manhã, pão sem

manteiga

E muito, muito sangue no jornal

Aí a criançada toda chega

E eu chego a achar Herodes natural



Mas não tem nada, não

Tenho o meu violão...



Depois faço a loteca com a patroa

Quem sabe nosso dia vai chegar

E rio porque rico ri à toa

Também não custa nada imaginar



Mas não tem nada, não

Tenho o meu violão...



Aos sábados em casa tomo um porre

E sonho soluções fenomenais

Mas quando o sono vem e a noite

morre

O dia conta histórias sempre iguais



Às vezes quero crer mas não consigo

É tudo uma total insensatez

Aí pergunto a Deus: Escute, amigo

Se foi para desfazer, porque é que

fez


Vinicius de Moraes in Livro de Letras, pag. 139, Companhia da Letras, 1991
imagem: Fernando Penim Redondo

domingo, abril 12

Dias de [procurar a] sorte

...ora procurem lá, um de quatro folhas :)
imagem: Celina Mendes

Dias de pontes...para a vida

imagem: Marta

Dias do mesmo rio, noutro lugar

imagem: Celina Mendes

Dias de novos caminhos

imagem: Celina Mendes

Dias de segredo

imagem: Filipe Pereira

Dias de liberdade

imagem: Filipe Pereira

Dias de culto

Igreja de Almendra. Vila de amêndoas. Doces. Vila de amigos. Queridos. Vila de tradições. Senhora do Campo. A padroeira. A sua festa comemora-se por estes dias.
Em Almendra o Compasso Pascal não vai às casas. «Há mais de 40 anos... menina! É verdade! Já não há padres suficientes. O nosso, é nosso e de mais sete freguesias aqui ao redor. Anda sempre a correr e já tem mais de 70 anos!», explica-me a Senhora Dona Conceição.

imagem: Filipe Pereira

sábado, abril 11

Dádiva II

[a postar em condições adversas! depois conto! porque a rede falta a qualquer momento! deixo-vos com esta bela música que me acompanha em pleno parque natural do Douro Internacional...]

Dádiva


Tomai e recebei!

sexta-feira, abril 10

Deve ter 237 anos [II]


[cont.] E, mesmo incrédula, anotei: o coração não é um lugar seguro. E o adivinhador de passados perguntou-me como o tinha encontrado. E eu disse-lhe que tinha sido ele o primeiro encontrar-me. E ele disse que acreditava. E pediu desculpa por não o saber. Pois só sabia adivinhar o passado das outras pessoas. Não o dele. E, então, pedi-lhe ajuda. Expliquei-lhe que tinha inventado um abraço e andava preocupada. Porque apesar de ser passado, continuava a dá-lo todos os dias. A alguém que também tinha inventado. Ele sorriu. E eu corei. E perguntei-lhe se podia ajudar-me a deixar de dar esse abraço. E ele disse que era muito difícil. E pedi-lhe que procurasse nas gerações inteiras de palavras que o habitam, uma solução.
E ele anotou: abraço inventado. Em pessoa inventada. Urgente. [cont.]
Imagens: Sanithna Phansavanh

quinta-feira, abril 9

A Páscoa pelos rituais

[Para a Cristina. Onde quer que esteja]

Naquele tempo, a Páscoa chegava-me pelos rituais. A casa era o primeiro. Saia tudo do lugar. Para ficar tudo no mesmo lugar. A Cristina começava, pelo menos, quinze dias antes. Abriam-se as janelas, demoradamente. O sol entrava, demoradamente, na sala de estar, voltada para o terraço. E as cortinas ondulavam serenas nos reposteiros altos. As pratas brilhavam mais. As toalhas brancas cheiravam mais a linho. E a louça Vista Alegre era, ainda, mais alegre. E os copos de cristal tilintavam mais. E a minha mãe chamava mais vezes pela Cristina. E ela corria pela casa toda. De uma ponta à outra. Uma azáfama. Até ficar tudo puro e sagrado como água benta. A dispensa, ao lado da cozinha, cheirava a pão-de-ló e a doces de ervas e açucar. E na sala de jantar, a mesa abria-se e o carrinho de chá ficava vazio, para pousar as travessas. A cozinha era, então, poucos dias antes, um reino de pequenos saberes. E sabores. No quintal, a terra revolvia-se e os canteiros tinham muitas flores. Até os peixes vermelhos, no lago, pareciam novos. O pessegueiro, todo cor-de-rosa, vestia-se de novo. Como todos os anos, por aquela altura. O limoeiro ainda tinha limões e as pereiras já não tinham peras. E o quintal cheirava a tangerinas. Depois, a Páscoa, chegava também pelas roupas novas. Para mim e para os meus irmãos. A Cristina também tinha roupa nova e um avental novo. E ficava tão feliz! E nós com ela. Porque a Cristina sorria como se fosse a mulher mais feliz do mundo. Mesmo quando partia alguma coisa, lá em casa. Sorria. E pedia desculpa. E dizia, foi sem querer, minha senhora. E a minha mãe dizia que ela não tinha juízo nenhum. E eu pensava que ter juízo não era importante. Quando se sorria assim. Com a boca. E com os olhos. E com as mãos. Naquele tempo, o que eu mais queria, era sorrir, assim, como a Cristina. Por dentro e por fora. Depois, no dia de Páscoa, de manhã, muito cedo, íamos para o quintal, eu e os meus irmãos. E a minha mãe, à nossa frente, escolhia as flores e os arbustos que podíamos usar para fazer a passadeira para o Compasso passar. E, mais tarde, a minha mãe confiou-me essa tarefa. E eu, com uma tesoura, cortava, com muito cuidado, as flores mais débeis. Tirávamos-lhes as pétalas e fazíamos uma espécie de pot porri. E as nossas mãos ficavam com o cheiro da Primavera. Depois espalhávamos tudo, em desenhos pouco geométricos, deste o portão, até à porta do halle da entrada. O vinho do Porto já estava na mesa do centro da sala de estar, quando ao longe se ouvia a sineta do compasso pascal. Depois, a minha mãe colocava dinheiro num envelope e pousava-o junto da taça das amêndoas. O meu pai arranjava o nó da gravata e colocava um cartão de visita, dentro do envelope. A minha mãe, voltava a abrir o envelope, e tirava o cartão. E dizia que quando se dá, ninguém precisa saber quem deu. E voltava a fechar o envelope. Definitivamente. E o tilintar da sineta agudizava-se mais e mais, até o som de metal entrar todo dentro da casa. Os meus pais beijavam a cruz. Eu e os meus irmãos e a Cristina beijávamos a cruz e o Senhor Padre dizia sempre algumas palavras, como se rezasse. Benzia-nos a nós e aos móveis e a tudo em volta. Depois bebiam um cálice de vinho, despejavam as amêndoas para um saco de pano e pegavam no envelope. A sineta voltava a manifestar-se, estridente, até à próxima casa. E depois, antes do almoço, íamos à missa. E quando voltávamos o meu pai ficava a ler o jornal como se fosse um dia qualquer. Os meus irmãos brincavam. A minha mãe e eu púnhamos a mesa. Uma mesa nova, como as nossas roupas. E com flores no centro. Da cozinha, a Cristina fazia caretas, quando a minha mãe não via. E sorria. Como se fosse a mulher mais feliz do mundo. Como se soubesse que em todas as Páscoas, mesmo as que não me chegam pelos rituais, eu me lembraria sempre
do seu sorriso.
[Boa Páscoa! Estimados visitantes, deste mini planeta:)]

Imagem: José Pedro S. do Amaral

quarta-feira, abril 8

Deixa-me ser

Deixa-me ser assim só/ Ser nuvem, ser dó/Ser vento, ser norte/ Ser alma, ser sorte/ Ser dia nenhum/ Deixa-me ser margem/ Do rio que sou/ Ser rua estreita/ De qualquer viela/Ser barco à vela/ Do mar que não vejo

Imagem: Armindo Moreira

Jogo do Galo


Simples e divertido!

Sabias que...

...o Parque da Cidade para além de ser um espaço verde, tem espaço para andar de bicicleta?

Um coelho - anão...é verdade!

[A partir de hoje, tudo pode acontecer! Cedi e, agora, pronto! Mas como não ceder a um pedido da E.? Não tenho blog e tal... (um sem-blog é como um sem-terra, já repararam, claro!) e preciso Marta querida, querida Marta (aqui eu ainda não sabia o que ela ia pedir, mas já tinha decidido que sim) que publiques este texto, no teu blog, que escrevi para o Alfredo, (eu pensei, assim, tipo, é uma carta de amor, apaixonou-se...) o coelho da minha irmã!!!! Ganhou um prémio e ela está tão feliz e... pronto. Como não publicar o texto sobre o Alfi... (para os amigos ) e ...pelos amigos! Sim. A partir de hoje tudo pode acontecer. Neste blog! Deixo-vos, com o texto da E.]

Agora, confesso-me, até eu gosto do Alfredo. Eu, que resisti a todas as suas tentativas de aproximação. Eu, que só não o comi, porque me restam alguns princípios e algum (pouco) bom senso. Eu, que numa tentativa de o diminuir, sempre lhe chamei rato – ou ratazana – às vezes. O Alfredo é um coelho. Um senhor coelho. Agora, o mais medalhado elemento da família F. Discreto, com gostos muito próprios e vincados por cabos e carregadores de telemóveis. É um coelho receptivo às novas tecnologias. Propenso a saltar para os teclados dos computadores e com as suas patinhas (sim, agora já não são patorras), a escrever frases inteiras de carinhos coelheiros. Eu, comum mortal da raça humana, não poderei nunca entender os seus saltos mortais para trás do sofá, ou o porquê de insistir em comer folhas de papel, cartão e fichas eléctricas. Tão pouco, o seu descontrole intestinal que chega a ser assustador. Intrigam-me também as suas poses de múmia, quando entra em transe e nem um tufão o faz mexer. Aliás, foi num desses seus momentos Zen, que a máquina fotográfica captou o instante que viria a ser premiado. Tenho tido vários arrufos com o Alfredo. Verdadeiros braços/patas de ferro. Ele, às vezes, irrita-me solenemente. Faz barulhos estranhos enquanto tento escrever. Olho para ele, enfurecida, e ele cala-se. Volto a escrever, e ele recomeça... Salta que é uma coisa louca! E, diga-se, só estou com ele aos fins-de-semana. A primeira vez que o vi, não consegui perceber muito bem onde começava e onde acabava. Ou melhor, qual era a parte dianteira e traseira. Talvez o problema não seja dele. Não deve ser de certeza. Até porque ele já ganhou um prémio de beleza e eu não. Apesar disso, temos algumas características em comum: somos Sagitários, somos roda baixa, gostamos de cenouras, gostamos de escrever, e a mãe dele até tem o mesmo nome que eu. O pai chama-se Patusco, o que me leva a crer, que terá também algumas semelhanças com o que o futuro me reserva. De resto, o Alfredo é o Alfredo. Um coelho-anão, que ontem conseguiu fazer-me rir quando a tarde ameaçava dilúvios. Alfredo, estou contigo! E faço o apelo: vamos eleger este coelho como o melhor do ano! Todos juntos, em nome desse sentimentalismo coelheiro que nos une, nesta altura da Páscoa! Bem haja ao Alfredo e à P., a minha mais preciosa caixinha de surpresas. E.

Dedicada ao Homem do Leme, Funes, o memorioso...

...isto porque os ovos Kinder são para quem os merece!

«E mais que uma onda, mais que uma maré.../Tentaram prendê-lo impor-lhe uma fé.../Mas, vogando à vontade, rompendo a saudade,vai quem já nada teme, vai o homem do leme.../E uma vontade de rir nasce do fundo do ser./E uma vontade de ir, correr o mundo e partir,/a vida é sempre a perder...

terça-feira, abril 7

E o camião quase a chegar e a estória por escrever


Sabes António, estou aqui numa situação inacreditável! Uma mesa, enorme, com pessoas à volta a analisarem um projecto urgente. Falam de estratégia, de campanha, de investimento, de retorno. Imensas coisas, António! E eu não entendo nada. E o pior, é que saem estas pessoas e entram outras, de seguida. Às vezes, nem consigo almoçar! Tem sido assim, por estes dias, António. Tenho a certeza que se enganaram! Só pode! Na terceira reunião [é assim que chamam a estes encontros em que se fala, fala, fala e nunca chega um bolo para cantarmos os parabéns...porque é evidente que quando se reúnem pessoas à volta da mesa, chega sempre um bolo e velas... mas aqui, não...] alguém se lembrou de me pedir a minha caneta emprestada, António! Acreditas? Pois! Nem eu acreditei! E depois, como não escrevia, disseram-me que não tinha tinta!! Imagina, António, tinta...
E eu, sempre a olhar para o relógio, disfarçadamente, claro.O tempo a passar e eu sem nenhuma estória! E o camião quase a chegar e ninguém arredava o pé dali! E eu sempre muito angustiada! Como ficarias desiludido, António, se entrasses ali, naquele momento! Até eu estava estranha. Sem sapatilhas! Estava com aqueles sapatos que tu não gostas, porque fazem barulho!
Para me abstrair pensei no Antonejo, o caranguejo, no Ouré, o ouriço do mar, no Guiminho, o lobo marinho, na Mariela, a estrela do mar, no Tubarel, o tubarão brincalhão e na Francibela, a sereia! Pensei, ainda, na Benedita, a bruxinha que veio de Praga, de avião, porque tinha a vassoura avariada! Pensei no quanto ela gosta de cerejas! [Lembras-te? Comeu as dela e as do José...]. E no quanto eu gosto de ti – tanto, tudo, íssimo António - e nas coisas que me ensinas.
E no que sinto, quando me ensinas a ver, com o rosto emoldurado entre as tuas mãos, a pedir em silêncio, olha para mim!
E eu olho e vejo que tudo faz sentido. Claro que faz, António!
Penso em todas as estórias e personagens das nossas brincadeiras para ver se o tempo passa mais depressa! [É engraçado António! Quando estou contigo, o tempo passa depressa de mais e, aqui, à volta de uma mesa, onde nunca chegam bolos de aniversário, o tempo emaranha-se e demora demasiado].
Estou apreensiva, António! Daqui a pouco, ouvirei o motor do camião, junto ao rio e temo não ter a estória pronta! Porque eles não saem daqui, António! Devem ter-se enganado, estes senhores das estratégias, das campanhas, dos investimentos e dos retornos!
Entraram na porta errada! Não sabem a verdade. Não sabem nada!
Não vêem como tu vês! Não descobrem, como tu descobres!

- Sabes tia, eu já sei o que fazes no teu trabalho! Escreves estórias com uma caneta mágica que tem sempre tinta! Depois, vai lá um camião, todos os dias, buscar as estórias para as lojas, para os pais comprarem e lerem à noite!

Pois é António! Mas só tu sabes, meu amor! Só tu descobriste!


[É tão bom crescer contigo! Feliz aniversário, António!]


[parabéns pais!]

Um hemisfério numa cabeleira

Deixa-me respirar por muito, muito tempo, o odor dos teus cabelos, mergulhar neles todo o meu rosto, como um homem sequioso na água de uma nascente,e agitá-los com a mão como um lenço perfumado, para sacudir as recordações no ar. Se tu pudesses saber tudo o que vejo! Tudo o que sinto! Tudo o que ouço nos teus cabelos! Minha alma viaja sobre o perfume como a alma dos outros homens viaja sobre a música. Os teus cabelos contêm um sonho inteiro, cheio de velas e de mastros; contêm grandes mares cujas monções me levam para climas adoráveis, onde o espaço é mais azul e mais profundo, onde a atmosfera tem o perfume dos frutos, das folhas e de pele humana. No oceano da tua cabeleira, entrevejo um porto a formigar de canções dolentes, de homens vigorosos de todas as nações e navios de todas as formas recortando as arquitecturas finas e complicadas sob um céu imenso onde se pavoneia um calor eterno. Nas carícias da tua cabeleira, encontro os langores das horas passadas sobre um divã no camarote dum belo navio, embaladas pelo arfar imperceptível do porto, por entre os vasos de flores e as bilhas que refrescam a água. No lume ardente da tua cabeleira, respiro o odor do tabaco misturado com ópio e açúcar; na noite da tua cabeleira, vejo resplandecer o infinito do azul tropical; nas praias acetinadas da tua cabeleira, embebedo-me com os odores combinados de alcatrão, de musgo e de óleo de coco. Enquanto mordisco os teus cabelos elásticos e rebeldes, parece-me que devoro recordações.


Charles Baudelaire in O Spleen de Paris, p.49, Relógio Dágua,1991
Imagem: Molin Rouge

segunda-feira, abril 6

Onde se confessam os pianistas?


«Todos os sentidos do homem têm um só ofício; só os olhos têm dois. O Ouvido ouve, o Gosto gosta, o Olfacto, cheira, o Tacto apalpa, só os olhos têm dois ofícios: Ver e Chorar. Estes serão os dois pólos do nosso discurso.
Ninguém haverá (se tem entendimento) que não deseje saber por que ajuntou a Natureza no mesmo instrumento as lágrimas e a vista; e por que uniu na mesma potência o ofício de chorar, e o de ver? O ver é a acção mais alegre; o chorar a mais triste. Sem ver, como dizia Tobias, não há gosto, porque o sabor de todos os gostos é o ver; pelo contrário, o chorar é o estilado da dor, o sangue da alma, a tinta do coração, o fel da vida, o líquido do sentimento.
Porque ajuntou logo a natureza nos mesmos olhos dois efeitos tão contrários, ver e chorar? A razão e a experiência é esta. Ajuntou a Natureza a vista e as lágrimas, porque as lágrimas são consequência da vista; ajuntou a Providência o chorar com o ver, porque o ver é a causa do chorar. Sabeis porque choram os olhos? Porque vêem.

Basta-me escutar. Escutar não tanto a superfície das conversas, mas a dor que dentro delas nada silenciosamente. Os pianistas confessam-se nas teclas, no modo de atacar as notas. Sei quem são Adriano Jordão e Theodor Paraschivescu, conheço-lhes a infância e os sonhos, porque os ouvi tocar. (...) Ah, a terrível bondade daqueles a quem nenhum sentido falta. Esmagam-me de compaixão. Falam-me alto, espaçadamente, como se eu também fosse surda. Agarram-me no braço, continuamente. Queria conhecer alguém que tivesse a sensibilidade de me tocar apenas com o olhar. (...)».

Inês Pedrosa in A Eternidade e o Desejo, pag. 136, 137, Dom Quixote,2007
Texto a bold: fragmento discursos de Padre António Vieira
Imagem: Di Cavalcanti


[para a minha querida E.]