terça-feira, fevereiro 28

Entre muitas coisas...


Entre muitas outras coisas, tu eras para mim uma janela através da qual podia ver as ruas.
Sozinho não o podia fazer.

Franz Kafka


imagem: José Luís

hoje chamei o teu nome



Hoje chamei o teu nome,

o teu dia cansado,

a tua ausência,

longo é o verbo da espera.

O dia também me fugiu,

foi um corrupio de ida em volta

ainda que breves tenham sido

as minhas conjugações.

Chegou ao fim o dia,

encontro‐me finalmente

de frente para este rosto

que também trago cansado.

 
São estes dias de suor

e esquecimento

que nos fazem esquecer

dos nomes, dos verbos,

de toda uma semântica

que nos aproxima – para além

de todo o esquecimento

que nos representa – assim.

 
Miguel Pires Cabral, in, «a sul de nenhum norte» n.º 3

Poema desviado daqui

imagem:henri cartier bresson

a noite pede música

O mundo vê Charlot pela primeira vez

‎28 de Fevereiro de 1914... O mundo vê Charlot pela primeira vez


A altura não podia ser mais apropriada para relembrar um dos nomes maiores do cinema mudo. “O Artista”, um filme em jeito de homenagem ao género, acaba de se sagrar o grande vencedor dos Óscares.

Aproveite-se então a onda de curiosidade momentânea para recordar o actor, director, produtor, bailarino, argumentista... e músico britânico.

Charles Spencer Chaplin foi um dos artistas mais famosos do período conhecido como “Era de Ouro” do cinema dos Estados Unidos. Tal como o protagonista do “Artista”, os seus maiores sucessos decorreram até ao aparecimento do cinema sonoro.

Tudo começou muito antes dessa “ameaça” da modernidade, em 1914, quando o actor se estreou em “Between Showers” (“Charlot e o Guarda-chuva”), uma curta-metragem realizada por Henry Lehrman e produzida pela Keystone Film Company. Charles tinha-se mudado para os Estados Unidos uns anos antes,
participando em peças de teatro, onde despertou o interesse da Keystone. Não foi fácil para o jovem actor, habituado aos palcos, adaptarse ao estilo cinematográfico e os primeiros papéis não foram consensuais. Com o tempo, contudo, Chaplin tornou-se inseparável da personagem “Charlot”, com o sucesso que se conhece. Na ressaca da cerimónia que celebra a indústria do cinema de Hollywood, valerá a pena recordar a relação pouco amistosa que Charlie Chaplin mantinha com a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Recebeu dois Óscares honorários e outro pela banda-sonora do filme “Luzes da Ribalta”, coleccionou algumas outras nomeações, mas não escondia o desprezo pelos prémios.

Conta-se que terá provocado alguma urticária junto da Academia por usar as estatuetas como auxiliares para impedir a porta de casa de bater.

Catarina Santos


Fonte: aqui

projecto" Espelhos"


«As quadrasoltas-espaço d'arte tem o privilégio de apresentar no próximo sábado dia 3 de março, pelas 16h30, o projecto" Espelhos" de musica barroca e contemporânea para duas guitarras e música para guitarra portuguesa com interpretação de Tiago Cassola e Eduardo Baltar Soares.


quadrasoltas // espaço d'arte// rua miguel bombarda, 529, porto».

segunda-feira, fevereiro 27

como são os teus dias, a tua respiração no silêncio?


como são os teus dias, a tua respiração no silêncio?


agora, na memória despovoada, o teu sorriso é uma planície sem fim. sem ti. sem ti, está esta tarde de sol, como se os dias fossem todos contigo e eu não soubesse encher de música o espaço entre os dedos.

como são os teus dias, o teu olhar no meu?

sei que o fogo acende noites claras como luas, o fogo acorda sonhos altos, como plátanos e tudo acontece sem ti, tão perto do teu coração sem som, tão longe dos teus sentidos sem nome. gostava de te sentir e que a luz inteira do teu corpo me ficasse na ponta dos dedos, para te ver sempre assim, mesmo quando não souber a cor exacta dos teus olhos demorados.

(...)

daqui
 
imagem: Candace Rose Rardon

a noite pede música

...borboletear por aí!


...Hoje assinalo o dia assim: com insectos no seu estado perfeito.E, borboletear deixa de significar divagar como as borboletas. Aliás, a ciência prova que elas sabem para onde vão!

«Uma equipa de investigadores ingleses do centro de investigação Rothamsted Research, em Hertfordshire, divulgou algo que vem alterar profundamente a visão tradicional que temos sobre o comportamento destes extraordinários insectos.


Os resultados de um estudo sobre os padrões de voo das borboletas, recentemente publicado na revista científica «Proceedings of the Royal Society», revelam que, mesmo quando voam aos ziguezagues, elas sabem precisamente para onde vão.

Depois de seguirem o voo dos lepidópteros com radares em miniatura, os cientistas concluíram que as borboletas são capazes de localizar um habitat favorável ou um bom sítio para hibernar, e de voar directa e deliberadamente até uma fonte de alimento.

Quando identificam estes alvos, elas empreendem um voo linear, que pode ir até aos 200 metros de extensão, e vão directas até ao objectivo identificado».

...ganha...mais uma vez :)


... terceiro óscar para a imensa Meryl Streep...

A mente livre está em perigo


A nossa espécie é a única espécie criativa, e tem apenas um único instrumento criativo, a mente e espírito únicos de cada homem. Nunca nada foi criado por dois homens. Não existem boas colaborações, quer em arte, na música, na poesia, na matemática, na filosofia. De cada vez que o milagre da criação acontece, um grupo de pessoas pode construir com base nela e aumentá-la, mas o grupo em si nunca inventa nada. A preciosidade reside na mente solitária de cada homem.

E agora existem forças que enaltecem o conceito de grupo e que declararam uma guerra de exterminação a essa preciosidade, a mente do homem. Através das mais variadas formas de pressão, repressão, culto, e outros métodos violentos de condicionamento, a mente livre tem sido perseguida, roubada, drogada, exterminada. E este é um rumo de suicídio colectivo que a nossa espécie parece ter tomado.
E é nisto que eu acredito: que a mente livre e criativa do homem individual é a coisa mais valiosa no mundo. E é por isto que eu estou disposto a lutar: pela liberdade da mente tomar qualquer direcção que queira, sem direcção. E é contra isto que eu vou lutar com todas as minhas forças: qualquer religião, qualquer governo que limite ou destrua o indivíduo. É isto que eu sou e é esta a minha causa. Posso até compreender que um sistema baseado num padrão tenha que destruir a mente livre, pois esta é a única coisa que pode inspeccionar e destruir um sistema deste tipo. Concerteza que compreendo, mas lutarei contra isso por forma a preservar a única coisa que nos separa das restantes espécies. Pois se a mente livre for morta, estaremos perdidos.

John Steinbeck in A Leste do Paraíso

Um óscar para o Senhor Lessmore

Jazz de jasm, ou espírito e energia...


«Jazz de jasm, ou espírito e energia, jazz do francês jaser, ou conversar animadamente, jazz de Jazbo Brown, um músico negro itinerante, e ainda jazz de jass, como na frase "Jass it up boy, give us some more jass!", que alguns pares entusiasmados exclamavam, quando a dança ao som do dixieland chegava ao fim, segundo um artigo de 1937.

A etimologia da palavra não é clara e são muitas as sugestões, até hoje, quanto à origem do termo jazz. O que sabemos com toda a certeza é que Livery Stable Blues é o primeiro disco de jazz gravado, e editado em Fevereiro de 1917, pelo colectivo Original Dixieland Jazz Band»:

Fonte: aqui

quinta-feira, fevereiro 23

porque sim



...e passam 25 anos após a morte de Zeca Afonso...

...Maria Bonita, na voz de Helena Sarmento...

...podia ser...


...podia ser assim, uma tarde cheia de paz no interior de um país farto de sol...

quarta-feira, fevereiro 22

...detalhes. palavras.


abajur



(francês abat-jour)


s. m.


1. Reflector. Refletor.
Refletor ou armação revestida que faz incidir a luz num outro plano ou lhe quebra a intensidade.

a noite pede música

terça-feira, fevereiro 21

...e ainda não estou acostumada à ausência dela.


Chorei porque não podia mais acreditar, e adoro acreditar. Ainda consigo amar apaixonadamente sem acreditar. Isso significa que amo humanamente. Chorei porque daqui por diante chorarei menos. Chorei porque perdi minha dor e ainda não estou acostumada à ausência dela.

Anaïs Nin  in  Henry & June

porque sim



...vou repetir, novamente: detalhes :)

...seus olhos pirilampiscavam.


[...] Aconteceu assim:

o gatinho gostava de passear-se nessa linha onde o dia faz fronteira com a noite.
Faz de conta o pôr do Sol fosse um muro.
Faz mais de conta ainda os pés felpudos pisassem o poente.
A mãe se afligia e pedia:
- Nunca atravesse a luz para o lado de lá.
Essa era a aflição dela, que o seu menino passasse além do pôr de algum Sol. O filho dizia que sim, acenava consentindo.
Mas fingia obediência.
Porque o Pintalgato chegava ao poente e espreitava o lado de lá.
Namoriscando o proibido, seus olhos pirilampiscavam.

Mia Couto in O Gato e o Escuro
imagem: Danuta Wojciechowska

a noite pede música



...eu também... :)