terça-feira, abril 14
Cotidiano nº 2
Há dias em que eu não sei o que me
passa
Eu abro o meu Neruda e apago o sol
Misturo poesia com cachaça
E acabo discutindo futebol
Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão...
Acordo de manhã, pão sem
manteiga
E muito, muito sangue no jornal
Aí a criançada toda chega
E eu chego a achar Herodes natural
Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão...
Depois faço a loteca com a patroa
Quem sabe nosso dia vai chegar
E rio porque rico ri à toa
Também não custa nada imaginar
Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão...
Aos sábados em casa tomo um porre
E sonho soluções fenomenais
Mas quando o sono vem e a noite
morre
O dia conta histórias sempre iguais
Às vezes quero crer mas não consigo
É tudo uma total insensatez
Aí pergunto a Deus: Escute, amigo
Se foi para desfazer, porque é que
fez
Vinicius de Moraes in Livro de Letras, pag. 139, Companhia da Letras, 1991
imagem: Fernando Penim Redondo
Etiquetas: poemas, Vinicius de Moraes
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5 Comments:
"... faz de conta que tinha um cesto de pérolas só para olhar a cor da lua..." Clarice Lispector
Clarice a brindar Vinicius!
A verdade é que Clarice, rima com tudo. Rima com o mundo!
lindíssimo
Esta música é brutal!Mas eu sou suspeito que sou um fanzaço do Vinicius!
é lindíssimo sim
e,
Jorge,
também sou fanzaça :)
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