quinta-feira, março 26
domingo, agosto 3
Não quero adultos nem chatos
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto;
e velhos, para que nunca tenham pressa"
Oscar Wilde
Escrito/editado por Marta 7 Terráqueos
A noite pede música
Escrito/editado por Marta 2 Terráqueos
A imprecisão sempre me irritou
- Sim, mas eu disse-lhe que não fiz outra coisa senão pensar em si - respondi. Não me disse que pensou em mim.
Decorreu um instante. Por fim ela respondeu:
- Disse-lhe que pensei em tudo.
- Não deu pormenores....
- É que tudo é tão estranho, foi tão estanho...estou tão perturbada...Claro que pensei em si...
O meu coração bateu com força. Precisava de pormenores. O que me emociona são os pormenores, não as generalidades.
Ernesto Sabato in O Túnel, pag.44, Relógio D'Água
Escrito/editado por Marta 1 Terráqueos
No fim de contas são poucas as palavras
que nos doem de verdade, e muito poucas
as que conseguem alegrar a alma.
E são também muito poucas as pessoas
que nos fazem bater o coração, e menos
ainda com o correr do tempo.
No fim de contas, são pouquíssimas as coisas
que na verdade importam nesta vida:
poder amar alguém e ser amado,
não morrer depois dos nossoa filhos.
Amalia Bautista
Escrito/editado por Marta 0 Terráqueos
sexta-feira, abril 4
Até sempre Jorge Fallorca
Até sempre Jorge Fallorca.
Escrito/editado por Marta 2 Terráqueos
sexta-feira, fevereiro 7
A Insegurança do Escritor
É certo que tudo o que concebi antecipadamente, mesmo quando estava com boa disposição, quer com todo o pormenor, quer casualmente, mas em palavras específicas, aparece seco, errado, inflexível, embaraçado para todos os que me rodeiam, tímido, mas acima de tudo incompleto, quando tento escrever tudo isso à minha secretária, embora eu não tenha esquecido nada da concepção original. Isto está naturalmente relacionado em grande parte com o facto de eu conceber uma coisa boa longe do papel durante apenas um momento de exaltação mais temido do que desejado, embora eu muito o deseje; mas então a plenitude é tal que eu tenho de ceder. Às cegas e arbitrariamente agarro pedaços da corrente, de modo que, quando escrevo calmamente, a minha aquisição não é nada comparada com a plenitude em que viveu, é incapaz de restaurar essa plenitude, e assim é má e perturbadora, por ser uma inútil tentação.
Franz Kafka, in 'Diário (15 Nov 1911)'
Escrito/editado por Marta 2 Terráqueos
quinta-feira, janeiro 16
quarta-feira, janeiro 15
Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
...
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza…
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel…
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves…
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!
Escrito/editado por Marta 0 Terráqueos
O jardineiro
(...) O jardineiro, como aqueles de que falo, não se dá bem com a luxúria das flores, os seus peristilos e estames, a sua fecundação e até o seu perfume. O jardineiro é um asceta da tesoura, um catedrático da uniformidade. Talha a sebe como quem folheia palimpsestos. Desvia os olhos da carnação da rosa; (...)
Agustina Bessa-Luís in A Quinta Essência, pag. 8, Guimarães
Fotografia: Paulo José S. Ferraz
Escrito/editado por Marta 0 Terráqueos
domingo, janeiro 12
Porque o amor é o ponto onde se encontram a verdade e a magia.
Então por que aspiramos continuamente a amar? Porque o amor é o ponto onde se encontram a verdade e a magia.
Julian Barnes in "Os Níveis da Vida", Quetzal
Escrito/editado por Marta 1 Terráqueos
sábado, janeiro 11
sexta-feira, janeiro 10
Não há mais sublime sedução do que saber esperar alguém
Não há mais sublime sedução do que saber esperar alguém.
Compor o corpo, os objectos em sua função, sejam eles
A boca, os olhos, ou os lábios. Treinar-se a respirar
Florescentemente. Sorrir pelo ângulo da malícia.
Aspergir de solução libidinal os corredores e a porta.
Velar as janelas com um suspiro próprio. Conceder
Às cortinas o dom de sombrear. Pegar então num
Objecto contundente e amaciá-lo com a cor. Rasgar
Num livro uma página estrategicamente aberta.
Entregar-se a espaços vacilantes. Ficar na dureza
Firme. Conter. Arrancar ao meu sexo de ler a palavra
Que te quer. Soprá-la para dentro de ti -------------------
----------------------------- até que a dor alegre recomece.
Maria Gabriela Llansol
Escrito/editado por Marta 0 Terráqueos
Tonto, Morto, Bastardo e Invisível
Juan José Millás nasceu em Valência, em 1946, mas tem passado a maior parte da sua vida em Madrid, onde alterna a actividade literária com o jornalismos, aparecendo regularmente nas páginas do diário El País. Está traduzido em diversas línguas, principalmente europeias, e foi já galardoado com diversos prémios no país vizinho, o Primavera, o Sésamo e, um dos mais prestigiados, o Nadal (este último com o romance Assim Era a Solidão).
Quanto a Tonto, Morto, Bastardo e Invisível, o tonto, o morto, o bastardo e o invisível, afinal, são apenas um. Jesus, de seu nome – o que talvez fosse de estranhar se a história acontecesse em Portugal e não em Espanha, onde a ninguém faz espécie que um homem se chame Jesus –, é tudo isso e muito mais, após ser informado pelo chefe de pessoal da empresa onde trabalha de que irá ser despedido. Do mal o menos, terá direito a um ano de salário e a umas palmadinhas nas costas; e depois, conta a certa altura Jesus, «Laura trabalhava, era médica-legista, portanto o horizonte de indigência encontrava-se ainda um pouco afastado». Mas Jesus não consegue encarar a mulher e o filho, sente-se invadido pelo medo e refugia-se na casa de banho. «... deixei que toda a cobardia adiada desde que entrou na empresa uma equipa social-democrata, autorizada a vendê-la em partes, se reunisse de chofre na percepção do espaço (...) fechei várias vezes as torneiras para transmitir a sensação de actividade, confiante de que a angústia se retiraria ao atingir determinada magnitude. Então, lembrei-me do bigode.» Será assim, com a ajuda do bigode, que Jesus vai começar uma vida nova, num mundo bem diferente daquele a que estava habituado e onde as regras são ditadas pela sua imaginação. Juan José Millás, um dos mais destacados nomes do actual panorama literário espanhol, consegue com as aventuras de Jesus levar o humor aos limites do absurdo, sem nunca sair dos ambientes quotidianos da vida moderna. Afinal, a vida que leva a sua personagem a empreender uma espantosa fuga, mesmo que para as terras da imaginação. Quantos de nós não terão já estado à beira de fazer o mesmo?
Fonte: http://www.citador.pt/biblio.php?op=21&book_id=394
Escrito/editado por Marta 1 Terráqueos
quinta-feira, janeiro 9
quarta-feira, janeiro 8
Soneto
exprimir quanto pesa ou quanto mede.
Se acaso a comoção falar concede
é tão mesquinho o tom que o desilude.
Busca no rosto a cor que mais o ajude,
magoado parecer aos olhos pede,
pois quando a fala a tudo o mais excede
não pode ser Amor com tal virtude.
Também eu das palavras me arreceio,
também sofro do mal sem saber onde
busque a expressão maior do meu anseio.
E acaso perde, o Amor que a fala esconde,
em verdade, em beleza, em doce enleio?
Olha bem os meus olhos, e responde.
António Gedeão
Escrito/editado por Marta 0 Terráqueos
terça-feira, janeiro 7
A mulher tinha a certeza. E escreveu
Se ao menos não tivesse escrito.
Se ao menos tivesse inventado.
Trata-se de uma mulher que gosta de inventar.
Se ao menos não gostasse de escrever.
Se ao menos não soubesse sonhar.
Se não gostasse de escrever não existia.
Se não soubesse sonhar não escrevia.
O certo é que a mulher tinha a certeza. E escreveu.
Se ao menos não tivesse certeza, como é seu hábito.
Se ao menos tivesse aquele dia mais um dia.
Trata-se de uma mulher que gosta de imaginar.
Deram-lhe estrelas e tiraram-lhe o céu.
Se ao menos a mulher soubesse chorar.
Escrito/editado por Marta 3 Terráqueos
Num dia de Maio chegou o carteiro
Escrito/editado por Marta 3 Terráqueos
A ver...urgentemente
Mais sobre o filme aqui e aqui
Escrito/editado por Marta 1 Terráqueos
Eu só troco a nossa história por uma melhor
Escrito/editado por Marta 3 Terráqueos
segunda-feira, janeiro 6
Soneto da fidelidade
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em louvor hei de espalhar meu canto...
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Vinícius de Moraes
Escrito/editado por Marta 2 Terráqueos
domingo, janeiro 5
Não é só futebol...
Como um clássico ordenava a própria força
Sabia a contenção e era explosão
Não era só instinto era ciência
Magia e teoria já só prática
Havia nele a arte e a inteligência...
Do puro e sua matemática
Buscava o golo mais que golo – só palavra
Abstracção ponto no espaço teorema
Despido do supérfluo rematava
E então não era golo – era poema.
Escrito/editado por Marta 1 Terráqueos
quinta-feira, janeiro 2
Sei esperar mas ainda não sei estar em sossego
Escrito/editado por Marta 1 Terráqueos
quarta-feira, janeiro 1
Da lembrança e da homenagem
Fui a dois concertos dela. Num deles consegui falar-lhe. Trocamos meia dúzia de palavras. Eu só queria dizer-lhe o quanto a admirava. A admiro. O quanto me faz sentir muito, o quanto me inspira.
Morreu no dia 1 de Janeiro de 2010. Eu ia no carro. Ouvi a notícia no rádio. Na berma da estrada liguei os quatros piscas. Coloquei um dos seus três CDs e deixei-me chorar. Enorme! Imensa Lhasa.
Notícia aqui
Escrito/editado por Marta 3 Terráqueos
A noite pede música
Escrito/editado por Marta 0 Terráqueos
Do dia que se celebra hoje
Pelas aves que voam no olhar de uma criança,
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
Pela branda melodia do rumor dos regatos,
...
Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos,
Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz.
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da História,
deixa passar a Vida!
Natália Correia, in "Inéditos (1985/1990)"
Escrito/editado por Marta 0 Terráqueos