domingo, novembro 22

Parabéns e muitas mais histórias

JARDIM DE INVERNO do TEATRO SÃO LUIZ
hoje 22 Novembro, ÀS 15h, Entrada livre

«A História Devida faz 4 anos e regressa ao Jardim de Inverno do São Luiz para mais um encontro com todos os que têm ajudado a construir este Projecto Nacional de Histórias.
Dinarte Branco, Inês Fonseca Santos, Miguel Guilherme e Nuno Artur Silva juntam-se aos actores Diogo Dória e Rui Morisson para contar as histórias que, nestes 4 anos, fizeram a história d'A História Devida.
Pela voz dos vários actores chegam-nos histórias de amor, ciúme, amizade e morte; da infância e da velhice; da guerra e de outras experiências coloniais; de animais domésticos e selvagens; episódios cómicos, tristes e brutais; gaffes hilariantes e mágoas profundas; pequenos e grandes dramas; coincidências bizarras e inesperadas; sonhos, pesadelos, pressentimentos, intuições e premonições; e também histórias com temas e formatos que comprovam o lema d' A História Devida: toda a gente tem uma história para contar.»
[queria muito estar aí, hoje. e fiz por isso, mas não consegui.PARABÉNS A TODA A EQUIPA. E A TODOS OS CONTADORES DE HISTÓRIAS.]

quinta-feira, outubro 22

A [minha] história devida


No passado dia 18 eu não estava em Portugal e, por isso, não ouvi o programa A História Devida, na Antena 1. Acabei de o ouvir, aqui.
O entrevistado foi Mark Deputter, director do Teatro Maria Matos que comemora hoje 40 anos. [parabéns.muitos]

Isto para vos dizer que ouvi o programa de forma diferente. Desta vez, uma das histórias foi escrita por mim e, confesso, é uma história que me é muito querida. «Era uma vez um mini azul escuro e um casaco vermelho» lida pelo actor Dinarte Branco comoveu-me. Porque é um episódio da minha infância. E porque Dinarte Branco a leu de uma forma muito divertida e muito, muito sei lá que mais... [Na minha opinião - absolutamente suspeita - claro! ] Agora esta história, é uma história mais longa, que escrevi para os meus seis sobrinhos e passou a chamar-se apenas «Os bolsos de papel».


«A História Devida é um programa apresentado pela Inês Fonseca Santos e Dinarte Branco e baseia-se num conceito posto em prática por Paul Auster nos Estados Unidos da América. A ideia passa por pedir aos ouvintes da RDP que enviem as suas próprias histórias para serem lidas em antena. A História Devida depende, assim, da participação dos ouvintes, já que o programa é praticamente «feito» por eles. Regras, há só duas: as histórias têm que ser curtas e têm que ser reais, e a sua selecção depende não de critérios literários, mas sim do mérito e da humanidade das mesmas. A História Devida não é nem um concurso nem uma competição. Ninguém anda à procura dos novos talentos da ficção portuguesa. O que verdadeiramente importa é que as histórias enviadas sejam histórias de vida – da vida dos ouvintes. Quanto ao mais, não há restrições de conteúdo nem de forma. As histórias podem ser episódios cómicos, tristes ou brutais; gaffes hilariantes ou mágoas profundas; pequenos ou grandes dramas; coincidências bizarras ou inesperadas; sonhos, pesadelos, pressentimentos, intuições ou premonições. Podem ser sobre a velhice ou sobre a infância, sobre a amizade, o ódio ou o amor; e podem ter a forma de poemas, diálogos, narrativas ou pequenos relatos. Podem ser escritas num estilo seco ou elegante, irónico ou sincero… Enfim, a lista de possibilidades é infinita.

A única certeza é que toda a gente tem uma história para contar

Vá...PARTICIPEM :)
imagem: Leonor Peralta Lopes

domingo, agosto 30

Ouvir um post na Antena 1 ou A História Devida


Foi assim: comecei por ouvir a história da Bola de Berlim. Achei o programa uma delícia. Por e-mail, no dia anterior, dei a dica a alguns amigos. Ouviram e gostaram. Mesmo os que ouvem habitualmente a Antena 1 e não tinham o hábito de ouvir rádio ao Domingo. Agora, aos Domingos, às 13 horas, estamos todos sintonizados. Hoje, graças a um amigo :) «Foi assim que comecei a amar Sophia», escrito em Abril, é lido nA História Devida. Apresentado por Inês Fonseca Santos e Dinarte Branco, o programa é baseado "no conceito do escritor Paul Auster e pretende dar a conhecer as histórias de vida dos ouvintes da RDP. Histórias de amor, de amizade, de saudade, histórias alegres, bonitas, eufóricas, histórias de paisagens, sonhos ou lugares. Histórias curtas e reais." Estão todos convidados a sintonizar a rádio e a ouvir. Todos os Domingos há uma história, um entrevistado e, claro, música. E..."participem... porque toda a gente tem uma história para contar"!


O meu amor mais antigo é a poesia. A seguir à minha mãe. Sendo que mãe e poesia são, tantas vezes sinónimo, no meu dicionário de afectos. Tenho a sensação de sentir poemas muito cedo. Mesmo antes de começar a ler. Uma vez, no início da infância, senti muito medo e a minha mãe abraçou-me com muita força. Foi um abraço extraordinário. E eu, dentro do abraço dela, tive uma sensação de poema, que ainda hoje se mantêm. Depois, na escola, os meus livros de leitura tinham poemas que decorei. E só aí percebi que os poemas também se fazem com letras. E recordo-me, por exemplo, que astronauta rima com pernalta. E flor com dor. E contou com enrolou. E lembro-me, de como a febre das rimas tomou conta do meu universo de palavras. Não havendo nenhum remédio para a baixar. Tal como não havia nenhuma palavra que eu não fizesse rimar com outra. Até à exaustão. Da minha mãe. Que dizia: deixa lá!Procuramos amanhã. Recordo-me de pôr o Meio Físico e Social, a rimar com jornal. E ainda sinto a tristeza de não ter sido eu a arranjar uma rima para a Matemática. Andava na primária.
Depois, foram as histórias mais compridas. Não rimavam. Mas a sensação de poema ficava cá dentro. Quando gostava muito delas. Até que, um dia, chegou a Menina do Mar. E eu percebi que os poemas e as estórias eram feitas por pessoas que conheciam outras pessoas, coisas e lugares que um dia, eu também queria conhecer. E pensei na sorte de Sophia! Por conhecer uma menina “de cabelos verdes, olhos roxos, com um vestido de algas encarnadas”. E um Rapaz de Bronze e uma Fada Oriana e um Cavaleiro da Dinamarca. E, depois, por Sophia, descobri que as estórias podiam ter poemas dentro. [Como os filhos, dentro dos abraços dos pais]. Como na estória A árvore, que tanto gostei de ler. E percebi, com clareza, que uma árvore pode transformar-se numa barca. E que, deste modo, uma árvore pode viver no mar. E descobri como um mastro se pode transformar numa guitarra e como essa guitarra pode ter voz. E como essa voz pode ser uma canção e como uma canção pode ser um poema. E como um poema pode ser a memória de uma árvore ou de um povo.
Ensinou-me o espanto. Foi assim que comecei a amar Sophia. Desde muito cedo. Ela cresceu em todos os meus sentidos. Em todo o meu sentir. E percebi, com ela, que não podia viver sem livros. Porque os livros dela me tinham ensinado a olhar para além do aparente. E foi, assim, que a fui procurar às livrarias. Pelo nome. E foi dela, o primeiro livro que eu comprei. Histórias da Terra e do Mar. E, depois, todos os outros que me chegaram. Até toda a sua poesia me entrar, letra a letra, nas veias. E circular como seiva. Até perceber a raiz do “inteiro” e do “original”. Até compreender todas as ilhas que habitam o mundo. Até me apaixonar pela Grécia. Até o mundo, não respirar sem ela. Sem a sua poesia.
E depois, ia-lhe escrevendo cartas. Até que um dia, em Viana do Castelo, durante uma Presidência Aberta, dei conta de nós, no mesmo lugar. Do lado de fora dos poemas. Peguei nas minhas cartas e nos seus livros. Na convicção mais funda do nosso encontro. E nas palavras iniciais que lhe queria dizer. Quando cheguei à Pousada de Santa Luzia, não havia santa que valesse a tanta ansiedade. Não sabia onde por as mãos e, muito menos, o coração. Não sabia nada. O seus poemas todos cá dentro. Como se fossem um só. As palavras apertadas na garganta. Os lábios colados. Quase não respirava. E acho que, mesmo assim, rezei. Para aquela gente ir toda embora. Mas não aconteceu. Até que ela se levantou e eu paralisei. Mas consegui ouvir e ver. E vi-a tão extraordinariamente bela. Tão extraordinariamente sábia. Tão extraordinariamente serena. Que não consegui fazer nada. Nem tão pouco aproximar-me. Admirei-a de longe. Como tinha de ser. Numa afasia total. Numa epifania absoluta. Dentro dos livros. No nosso lugar. Até ao dia da sua morte. Doze anos, depois, daquele dia, em que a vi. Sem a imaginar. Nessa noite de Julho, li-lhe as minhas cartas. Em voz alta. Só lá estava eu. E ela.
«Seu rosto seria a cintilante claridade/De uma praia/
E em sua humana carne brilharia/A luz sem mancha do primeiro dia»
Sophia de Mello Breyner e Andresen
imagem: Google