imagino que sobre nós virá um céu
de espuma e que, de sol em sol,
uma nova língua nos fará dizer
o que a poeira da nossa boca adiada
soterrou já para lá da mão possível
onde cinzentos abandonamos a flor.
dizes: põe nos meus os teus dedos
e passemos os séculos sem rosto,
apaguemos de nossas casas o barulho
do tempo que ardeu sem luz.
sim, cria comigo esse silêncio
que nos faz nus e em nós acende
o lume das árvores de fruto.
diz-me que há ainda versos por escrever,
que sobra no mundo um dizer ainda puro.
Vasco Gato in Um Mover de Mão, Assírio e Alvim, 2000
segunda-feira, maio 3
um dizer ainda puro
Etiquetas: Poemas que sinto; Escritores
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4 Comments:
Gostei imenso desses dedos sem rosto!
Um beijo, MARTA.
Excelente. Já conheço um tanto da produção de Vasco, gostei de conhecer mais.
(suspiro)
Eu nao conhecia o poema, mas conheço o sentimento. Adorei esta descoberta, obrigada.
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