está entre os livros que mais me disseram. que mais dei a ler. é uma história fortíssima. muito, muito bem escrita. em vez de capítulos, está dividido em refeições. já o li há uns anos e, agora, a caminho de Israel senti vontade de lhe pegar. como quem pega ao colo.
PELO AMOR DE JUDITH. chama-se assim. foi por ele que comecei a ler Meir Shalev. depois, li-lhe outros. mas este é tipo "não há amor como o primeiro".
«[...] O globo terrestre girava. O Inverno terminava. Como as criaturas da Primavera são submissas: os pombos cantavam, as flores da macieira agitavam a sua corola, à qual se apegavam as abelhas, suas damas de honor, e sob o olhar de Jacob vacilavam borboletas, entontecidas, presas na rede da sua memória.
Dominavam o dourado e o verde. O sol estava aceso - como eram familiares, como eram belas essas imagens - e já um pequeno pica-peixe planava por cima do seu reflexo, o vento rebolava-se nas folhas das bétulas, as raparigas partiam para o rochedo na curva do rio, para lavar os vestidos e os lençóis.
Então, contava-me Jacob, pintaram-se-lhe no coração as cores básicas do amor, porque no amor de uma criança, decretou ele, o espanto é mais importante do que a paixão, o encantamento leva a melhor ao ciume, e esse amor é maior do que todos os amores que hão-de vir, pois a sua força e o seu peso são os de todo o seu corpo.
Na sua infância, prosseguiu ele, não tinha gostado de uma mulher única, mas sim de todas as mulheres, tinha amado também a terra que lhes transportava a nostalgia do amor, e o céu que lhes protegia a beleza do rosto, e o Deus Um dos Judeus que as tinha colocado na ombreira da sua porta.
Invejava os joelhos delas sobre a ardósia negra.
Devido ao local e ao ângulo, as raparigas pareciam flutuar sobre as águas abundantes e radiosas de sol. O vento brincava com os seus vestidos, moldava, enfolava, desenhava.
«A imagem de sempre do amor», repetia-me Jacob, usufruindo não apenas a recordação, mas também a expressão que a sua língua hesitante tinha conseguido formular».
Meir Shalev in Pelo Amor de Judith, pag. 293, Difel, 1994
domingo, março 28
Pelo Amor de Judith
Etiquetas: Escritores, Meir Shalev
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3 Comments:
Não conheço. Vou procurar. Gostei muito da amostra.
Ainda não li. Mas não descarto.
Tem uma boa viagem, minha querida.
Depois quero as tuas estórias e crónicas todas.Pessoalmente.
Saudades.
Òtimo ter novas indicações de leitura. Vou atrás.
Marta, enviei-lhe um e-mail há alguns dias, para o endereço que está no blog. Você o recebeu?
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