quarta-feira, fevereiro 8

...é assustador!


...85 mil só [sós] em Lisboa!

Notícia aqui

Pausa...


...para um café!

Chegou a Outra...


Encerrada em casa faz hoje 3 dias!
As melhoras são visíveis. Graças ao antibiótico!
A sala está cheia de sol. Na varanda secam sementes de abóbora.
E eu sorrio à ideia de as semear num jardim público...
A Almedina acabou de me enviar uma SMS a dizer que a Outra já chegou!
No Sábado tenho mais uma avaliação.
Também tenho o meu trabalho todo atrasado!
Na varanda, as sementes.
Na sala, o sol.
Cá dentro, saudades.
No vaso, a borboleta de papel faz 3 anos.
E eu, vou  continuar a estudar. Pelo menos, por mais um.

terça-feira, fevereiro 7

Follow them...

Tirem o me e coloquem o them! Se estiverem por Lisboa, metam pernas ao caminho...
e sigam-nas... até ao Instituto Cervantes.
Eu se estivesse  por lá, contava os dias...

a noite pede música

...o hemisfério direito do cérebro...


(...) " As pessoas numa sociedade criativa são utilizadores preferenciais do hemisfério direito do cérebro, que trabalham em sectores criativos, como as ciências, as artes ou os serviços profissionais. Este tipo de sociedade, segundo a obra A Whole New Mind, de Daniel Pink, é o nível mais elevado de desevolvimento social na civilização humana. Este autor retrata a evolução humana desde o caçador primitivo, o agricultor e trabalhador manual que dependem dos seus músculos e que, em seguida, evoluem para executivos de escritório, que usam sobretudo o hemisfério cerebral esquerdo para, por fim, progredirem para artistas que recorrem principalmente ao hemisfério direito. A tecnologia é uma vez mais o motor primário desta evolução". (...)

Philip Kotler, Hermawan Kartajaya e Iwan Setiwan in Marketing 3.0, Actual, 2011

...a whole new mind...

Voltei à escola!


Voltei à escola! Pois é! É esse um dos motivos maiores que me traz arredada da blogosfera! O saber, diz a voz do povo, não ocupa lugar. Mas, digo eu, ocupa tempo! Lá isso ocupa! Muito tempo! E só tenho aulas às sextas e aos sábados, mas tenho tanto para ler, tantos trabalhos para fazer que não sei para que lado me vire! Retida em casa, com uma gripe imensa, que  até me tirou a voz, não resisti, claro, a vir aqui dizer:
- olá! saudades de andar por aí, de blog em blog... e por aqui, de post em post :)

porque sim

terça-feira, janeiro 31

...o que andam a ler?

                                                     

What they are reading?

domingo, janeiro 29

a noite pede musica



...e agora outra voz portuguesa por quem caí de amores na passada sexta-feira,
quando a descobri no FB! "A música portuguesa a gostar dela própria" e eu a gostar de encontrar música portuguesa assim... anotem aí, por favor: Elisa Rodrigues!

...o CD acabou de sair! e eu já saí para o comprar!

...oh se a pudesse ouvir cantar...no aniversário de um amigo :)))

"Mi casa es tu casa" não poderia estender-se ao Porto, um dia destes ???

Havia um homem que corria pelo orvalho dentro

Havia um homem que corria pelo orvalho dentro.


O orvalho da muita manhã.

Corria de noite, como no meio da alegria,

pelo orvalho parado da noite.

Luzia no orvalho. Levava uma flecha

pelo orvalho dentro, como se estivesse a ser caçado

loucamente

por um caçador de que nada se sabia.

E era pelo orvalho dentro.

Brilhava.



Não havia animal que no seu pêlo brilhasse

assim na morte,

batendo nas ervas extasiadas por uma morte

tão bela.

Porque as ervas têm pálpebras abertas

sobre estas imagens tremendamente puras.



Pelo orvalho dentro.

De dia. De noite.

A sua cara batia nas candeias.

Batia nas coisas gerais da manhã.

Havia um homem que ia admiravelmente perseguido.

Tomava alegria no pensamento

do orvalho. Corria.



Ouvi dizer que os mortos respiram com luzes transformadas.

Que têm os olhos cegos como sangue.

Este corria, assombrado.

Os mortos devem ser puros.

Ouvi dizer que respiram.

Correm pelo orvalho dentro, e depois

estendem-se. Ajudam os vivos.

São doces equivalências, luzes, ideias puras.

Vejo que a morte é como romper uma palavra e passar



— a morte é passar, como rompendo uma palavra,

através da porta,

para uma nova palavra. E vejo

o mesmo ritmo geral. Como morte e ressurreição

através das portas de outros corpos.

Como uma qualidade ardente de uma coisa para

outra coisa, como os dedos passam fogo

à criação inteira, e o pensamento

pára e escurece



— como no meio do orvalho o amor é total.

Havia um homem que ficou deitado

com uma flecha na fantasia.

A sua água era antiga. Estava

tão morto que vivia unicamente.

Dentro dele batiam as portas, e ele corria

pelas portas dentro, de dia, de noite.

Passava para todos os corpos.

Como em alegria, batia nos olhos das ervas

que fixam estas coisas puras.

Renascia.


Herberto Helder in "A faca não corta o fogo" Assírio & Alvim, 2008

porque sim



...este blog fez ontem 3 anos!
... quero agradecer a quem não se esqueceu e também a quem, como eu, não se lembrou :)))
...e para assinalar a data, deixo este vídeo enviado pelo CP! um belíssimo poema do imenso Herberto Helder! Obrigada CP! Obrigada queridos terráqueos!

Luísa Sobral: a cereja no bolo... de aniversário... da Dalila...

Tenho mesmo de partilhar isto convosco!
Foi uma surpresa deliciosa e inesperada!
Guimarães, todos sabemos, transborda de cultura. Lemos notícias aqui e ali. Ouvimos na rádio, vemos na televisão. Mas outra coisa é ir lá! E mesmo que não vamos com o intuito de ver algo programado pela Capital Europeia da Cultura isso pode acontecer! Mesmo!
O certo é que a partir de agora eu creio que tudo pode acontecer em Guimarães!
E mesmo que não nos mexamos, Guimarães mexe connosco!
Uma espécie de “se Maomé não vai à montanha, vai a montanha a Maomé”! Verdade que vai!
Eu explico: ontem fui ao aniversário de uma querida amiga.
Vimaranense com sangue azul. Pois é! Fui à sua festa de anos, como costumo ir. Mas, de repente, estava a assistir a um espectáculo da programação “Guimarães 2012”! Não, não fiz nenhum desvio nem desisti à última da hora da sua festa. Nem fui raptada, nem houve qualquer anomalia no caminho que sempre tomo para sua casa. Foi exactamente na sua casa que tudo aconteceu e me encantou.
Por muitos motivos e mais um. O mais um…chama-se… (já lá vou!)

Estávamos os amigos do costume e mais não sei quantos desconhecidos. Verdade! Muitas pessoas. Casa cheia. Literalmente! A casa dos meus amigos Ricardo e Dalila estava cheia como um ovo! Não cabia mais ninguém lá dentro. Só faltava que se pendurassem nos candeeiros! Velhos, novos, adolescentes, crianças. Uns sentados nos tapetes, como se fosse na relva, outros nas cadeiras e nos sofás da sala, outros de pé! Éramos nós, os que fomos ao aniversário e os outros, os que foram ao concerto!
Eu explico melhor: “Mi casa es tu casa”. Chama-se assim a iniciativa que levou vários concertos (e muitos desconhecidos!) às casas dos vimaranenses. Os domicílios foram convertidos em salas de espectáculos, em mini casas da música, se quiserem. E entrava quem queria. Daí estarem lá os tais ilustres anónimos, que ninguém sabia quem eram, na casa da aniversariante, a partilharem a sala e a mesa connosco!
Parece que a ideia - brilhante, eu acho – foi do Fernando Alvim! E, ao que me dizem, foi um sucesso. O que aconteceu na casa dos meus amigos, aconteceu noutras casas entre as 12 e as 24 horas do dia de ontem! As pessoas andavam de mapa na mão à procura das casas que recebiam os artistas! À porta estava um distintivo de que aquele domicílio tinha aderido à iniciativa. As pessoas tocavam à campainha e pediam para entrar. E os donos da casa abriam a porta até à lotação esgotada! Verdade!
Lá dentro os comentários eram muitos! Um que me chamou à atenção, na varanda, enquanto o concerto não começava foi: “isto é muito à frente! Mais parece uma iniciativa nórdica”! Outros diziam: “de facto…eu não sei se abria a porta a desconhecidos”… Mas que nos faz querer que o mundo pode ser perfeito, lá isso faz! “E porque é que a iniciativa foi baptizada com uma expressão idiomática estrangeira”, perguntavam uns! “Também já tinha pensado nisso”, diziam outros. Bem que podia chamar-se “A minha casa é a tua casa”, defendiam alguns! O certo é que se estava muito bem, fosse como fosse denominada a iniciativa. Porque o essencial estava lá! Uma iniciativa diferente a fazer querer que a cultura é mesmo humanidade, da humanidade, para a humanidade. Tão acessível a todos como ter um cantor na sala a dar um concerto íntimo para os amigos! É esse o património de valores que o berço da nacionalidade embala e cuida em episódios como este. A cultura devia ser assim, de acesso fácil, de proximidade...
A voz das crianças sobrepunha-se. Os adultos, conhecidos e desconhecidos falavam baixinho. Os adolescentes sorriam e perguntavam se a cantora já tinha chegado. Chegaram alguns adolescentes tímidos mas que na hora h sabiam de cor a letra das músicas cantadas! Eu, já disse e repito, estava encantada e ainda não imaginava que me iria encantar mais quando ouvisse Luísa e a sua caixa de música…


…o mais um… chama-se Luísa Sobral...

Da lista de artistas constavam nomes como Aldina Duarte e António Zambujo, Anaquim, At Freddy´s House, Best Youth, Capitão Fausto, Cavalheiro, Cipriano Mesquita, Guta Naku, Luísa Sobral, Mafalda Veiga, Marta Hugon, Nick Nicotine, Nuno Prata, Samuel Úria, Sandy Kilpatrick, Trio Pagú, Virgem Suta, We Trust.
Desta lista conheço, obviamente, alguns! Não os conheço a todos e – por mal que me fique, tenho de confessar, não conhecia a Luísa Sobral! É triste mas é (era) verdade!
O certo é que agora, até já sei de coisas que não sei de outros cantores de que gosto há muito tempo... Depois de a ouvir cantar, na sala da Dalila, que para nós tomou a dimensão do Olímpia de Paris, só tinha mesmo de deitar pés ao caminho, que é como quem diz, à internet, e tentar perceber quem é a menina jazzy que nos calhou na rifa. Uma rifa premiada, diga-se! Valeu mesmo a pena! Luísa Sobral não só é uma simpatia, uma perfeita comunicadora, como canta mesmo mesmo muito bem!
...E adorei a história de O Engraxador que nos contou...segura e divertida...
Depois, ainda no primeiro sete, ela disse que sempre gostou de caixas de música e explicou como fez a dela! Cantou a música onde brilhou a caixa de música e eu…rendi-me completamente! Voei! Lindo, lindo, lindo!
As adolescentes que lá estavam sabiam as letras de cor e salteado! Mesmo! Xico foi um sucesso com toda a gente a cantar em uníssono, menos eu, pasmada com tudo aquilo a acontecer à minha volta, inesperadamente.
Para a Dalila e para nós foi sem dúvida um dia memorável! Para os organizadores da iniciativa foi, sem dúvida, um sucesso. Esperemos que a Luísa Sobral também tenha gostado!
Não sei que dizer mais! Espreitem o site e encantem-se! De resto vou amanhã comprar o disco e aprender as letras! É que em breve, terei mais um aniversário e, sendo em Guimarães, não será de descartar a hipótese de a Luísa Sobral estar por lá, na sala do meu amigo Rui :)

domingo, janeiro 1

Happy New Year Jazz

Feliz Ano Novo!


Aqui fica uma excepção [à regra de Março :)] para vos desejar, no primeiro dia do novo ano, tudo de bom! Eu terei de continuar concentrada... [concentrar v. tr.v. tr. 1. Reunir num centro. 2. Fazer convergir. 3.Condensar. 4. Aplicar num só objecto (a imaginação ou algum sentimento)...in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa ]
Obrigada a todos pelas mensagens e e-mails. Pelo carinho e pela "blogoamizade" aqui criada :)
[querida Mafalda o teu postal deixou-me muito, muito, muito muito feliz! Gosto muito de ti. Saudades...]
e mais saudades de todos, marta.

a noite pede musica




Bom ano para todos!
Muitas realizações pessoais e profissionais! Saúde!

domingo, dezembro 11

Isto para dizer...


Há lugares e não-lugares, Marc Augé sustentou-o, no meu entender, muito bem.
O que é um blog? Certamente um lugar. Um lugar onde acontecem coisas tão estranhas como sentirmo-nos ligados a pessoas que não conhecemos. Entram no nosso quotidiano como a senhora demasiado real da lavandaria, ou o senhor risonho do café onde tomamos a bica [eu disse bica para não repetir café, porque eu digo café] todos os dias. Aqui, os afectos ganham uma nova dimensão - pelo menos para mim é nova - e pessoas a quem nunca ouvimos a voz ou olhamos nos olhos, passam a fazer parte do nosso dia-a-dia. Sabem de nós coisas simples que pessoas que trabalham connosco, que nos vêem todos os dias, não sabem. Ver não é conhecer, pois claro que não. Há pessoas com quem trabalho, por exemplo, que não imaginam que não vivo sem jazz. Nem têm de imaginar, é certo. Isto para dizer que um blog pode ser também um lugar de autenticidade, um lugar onde se é realmente. Onde encontramos pessoas deliciosamente reais.
Isto para dizer o que não me está a sair muito bem... porque ando há dias a pensar no que dizer e quando eu penso muito, nada me sai bem. Para dizer que aqui encontrei um espaço de partilha inigualável, que encontrei pessoas que me emocionam, que encontrei inspiração em traços e gestos que não consigo, agora, dizer o quanto significam para mim. Mas significam muitíssimo. Isto para dizer que tenho de pôr, aqui na porta "um volto já" que é como quem diz volto um dia destes. É que não gosto de dizer adeus, porque isto também não é um adeus, é mesmo uma forma de dizer vou porque tenho mesmo de ir e já estou com saudades. Isto para dizer obrigada a todos os que passam aqui, em silêncio ou não. E mandam e-mails e músicas e notícias e livros e desenhos. E vida e tudo.
Obrigada. De um fundo que não tem fundo.
Não é falta de tempo, é excesso de matéria. Acreditem! Tenho, de repente, ou quase, coisas para fazer acontecer. Com prazos umas, outras nem tanto. E um dia destes passo cá para vos contar o que tenho andado a fazer e vou bater à porta daqueles a quem conheço a porta. Isto para dizer que foram quase três anos absolutamente inesquecíveis aqui, convosco. E que aqui, convosco, me aconteceram coisas extraordináriamente boas e quase inacreditáveis. Algumas.
Isto para dizer que vos estou muito, mesmo muito, grata.

marta

P.S. Como disse J. Rentes de Carvalho, "um blog cria-nos a ilusão de estar alguém à nossa espera". E eu, pelo sim, pelo não, vou já dizendo que, se tudo correr bem, volto ...lá para Março.

P.S.2 Esta ideia que a Margarida me deu, por e-mail, pode resultar:
 «Marta, quando tiver algo urgente a dizer, um livro para recomendar, por exemplo, acrescente um P.S ao último post. É mais prático».
Já estou a pôr em prática. Obrigada:)

Estou perto do nó misterioso das coisas


Não cairei. Atingi o centro. Escuto o bater de não se sabe que relógio divino, através do delgado tapume carnal da vida cheia de sangue, de estremecimentos e de sopros. Estou perto do nó misterioso das coisas como à noite estamos por vezes perto de um coração.

Marguerite Yourcenar, in Fogos, pag.81, Difel, 1995

imagem: Tiago Taron

Há cidades cor de pérola onde as mulheres



Há cidades cor de pérola onde as mulheres

existem velozmente. Onde

às vezes param, e são morosas

por dentro. Há cidades absolutas,

trabalhadas interiormente pelo pensamento

das mulheres.

Lugares límpidos e depois nocturnos,

vistos ao alto como um fogo antigo,

ou como um fogo juvenil.

Vistos fixamente abaixados nas águas

celestes.

Há lugares de um esplendor virgem,

com mulheres puras cujas mãos

estremecem. Mulheres que imaginam

num supremo silêncio, elevando-se

sobre as pancadas da minha arte interior.


Há cidades esquecidas pelas semanas fora.

Emoções onde vivo sem orelhas

nem dedos. Onde consumo

uma amizade bárbara. Um amor

levitante. Zona

que se refere aos meus dons desconhecidos.

Há fervorosas e leves cidades sob os arcos

pensadores. Para que algumas mulheres

sejam cândidas. Para que alguém

bata em mim no alto da noite e me diga

o terror de semanas desaparecidas.

Eu durmo no ar dessas cidades femininas

cujos espinhos e sangues me inspiram

o fundo da vida.

Nelas queimo o mês que me pertence.

o minha loucura, escada

sobre escada.


MuIheres que eu amo com um des-

espero .fulminante, a quem beijo os pés

supostos entre pensamento e movimento.

Cujo nome belo e sufocante digo com terror,

com alegria. Em que toco levemente

Imente a boca brutal.

Há mulheres que colocam cidades doces

e formidáveis no espaço, dentro

de ténues pérolas.

Que racham a luz de alto a baixo

e criam uma insondável ilusão.


Dentro de minha idade, desde

a treva, de crime em crime - espero

a felicidade de loucas delicadas

mulheres.

Uma cidade voltada para dentro

do génio, aberta como uma boca

em cima do som.

Com estrelas secas.

Parada.


Subo as mulheres aos degraus.

Seus pedregulhos perante Deus.

É a vida futura tocando o sangue

de um amargo delírio.

Olho de cima a beleza genial

de sua cabeça

ardente: - E as altas cidades desenvolvem-se

no meu pensamento quente.

Herberto Helder