quinta-feira, abril 19

E voluntariado, faz?


Chama-se Patrícia Reis, é escritora e editora de uma revista ímpar: a Egoísta. Por Este Mundo Acima (Dom Quixote) é o título do seu mais recente livro, «onde nos é descrito um cenário de terrível desastre que assola a cidade de Lisboa, sendo que, entre os sobreviventes, há um velho editor que procura amigos e amores desaparecidos. Acaba por encontrar um manuscrito e um rapaz e, neles, a porta para uma outra dimensão da vida. Sem dúvida um livro que consagra a amizade como forma de amor e que descreve e realça a importância redentora dos livros».
A resposta aqui

imagem: Daniel Mordzinski

sexta-feira, abril 6

Profundamente cigana e encantadora...



Olga Mariano, presidente da Associação para o Desenvolvimento das Mulheres Ciganas Portuguesas



Romântica e realista


“Houve um retrocesso. Quando eu era criança o preconceito não era tanto”

Recorda com carinho a D. Mercedes, professora primária que lhe ensinou as letras e os números. A ela e à irmã, Idalina, que esperou por Olga três anos para que pudessem ir juntas para a escola. “O meu pai quis assim. Para nos apoiarmos uma à outra. Eu, a caçulinha da família, era um pouco preguiçosa, gostava de procrastinar. As contas de dividir, principalmente, davam-me sono. Mas, depois, fazia tudo”, explica Olga Mariano, 62 anos, nascida em Montemor-o-Novo e registada em Vila Franca de Xira. Recorda, ainda, o dia em que, com a prima, foi do Fogueteiro a Sesimbra no seu Fiat 1100, cinza, que o pai comprou a um alfaiate, por um lote de fazendas. Transação no valor de quarenta mil escudos, àquele tempo. Olga Mariano, ainda não tinha 18 anos quando começou a tirar a carta de condução. “Até hoje o carro é o meu confessionário. Lá dentro, choro, rio, rezo, falo. Tudo. É o meu veículo de liberdade, de vitória. Meu Deus! Sou eu e o carro, tantas vezes, sozinha, estrada fora, com os meus pensamentos. E isto tem grande significado para mim”, diz Olga Mariano, com toda a força que lhe vem da alma. Alma cigana. Profundamente cigana e encantadora.

“Fui uma criança muito feliz, tive uma juventude de sonho. Casei, aos 22 anos, quando quis e com quem quis. Tive um bom casamento e três filhos. Depois da morte do meu marido, a minha vida mudou muito”. Voltou a pegar nos livros e no computador, onde faz os seus power point para dar formação. Tem CAP (Certificado de Aptidão Profissional), mas, mais importante, tem conhecimentos e o dom da palavra para os transmitir. Tem uma voz forte e segura como as mensagens que passa. Anda pelo mundo, de conferência em conferência, a defender aquilo em que acredita e a ouvir o que outros dizem sobre o seu povo, a maior minoria étnica da Europa: os ciganos.

A FOCUSSOCIAL ouviu-a. Serena, luto integral, há 18 anos, pela sua viuvez. Saia cumprida, lenço a emoldurar o rosto e a esconder o cabelo que nunca mais deixou crescer. Como manda a tradição cigana. E a sua vontade também.

Como é ser mulher cigana, em Portugal?

Não se pode cruzar os braços. Aqui ou noutro país é preciso continuar a trabalhar no sentido de abolir os preconceitos. De resto, é respeitando as nossas tradições, tentar ser e fazer o melhor possível, tanto na vida pessoal como na profissional. É nisso que acredito.

E no que mais acredita?

Acredito que as comunidades ciganas podem e devem participar nas políticas que visam a sua própria integração. Acredito que se pode ser cigano, fiel às raízes e cultura cigana e, profissionalmente, sermos o que quisermos e tivermos vocação para ser. Acredito na diversidade cultural, nos benefícios que pode trazer a uma sociedade, e acredito na individualidade e no valor de cada cidadão, independentemente da sua raça. Eu, antes de ser cigana, sou portuguesa. Nós, ciganos, temos ainda de trabalhar muito para que a mudança ocorra. Em parte, algumas coisas já mudaram, mas as mentalidades não mudam do dia para a noite.

Foi por isso que se tornou dirigente associativa, presidindo à Associação para o Desenvolvimento das Mulheres Ciganas Portuguesas (AMUCIP)?

Não foi só por isso, apesar desta crença me acompanhar desde a minha juventude. Sou uma das cinco fundadoras da AMUCIP por destino. Quando o meu marido faleceu, passei por uma situação muito ruim. Foram-se os anéis e ficaram os dedos, como se costuma dizer. Gastei tudo com a doença dele e, depois, após a sua morte, voltei para casa dos meus pais, como aconselha a nossa tradição. Em minha casa, cobri tudo com panos negros e fui para casa Dos pais, para me apoiarem e ajudarem. Tinha três filhos adolescentes. Eu e o meu marido vivíamos da venda ambulante. Tínhamos uma vida boa. Uma casa de doutor, como dizem os ciganos. Mas, infelizmente, a vida teve de continuar sem ele e eu, na altura, tive de me candidatar ao Rendimento Mínimo Garantido. Para isso, tive de aceitar as condições, que passavam por ter de fazer uma formação, caso fosse aceite. E fui. Chorei. Não sabia o que me esperava. Queria viver o meu luto em paz, mas o certo é que tinha de sustentar os meus filhos. Fiz a formação durante um ano. Tornei-me mediadora sóciocultural, fiz um curso no Centro de Estudos e Minorias Étnicas. Foi assim que surgiu a AMUCIP.

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terça-feira, março 13

"Temos de dar um salto civilizacional"


[Maria Joaquina Madeira]

Alentejana dos “quatro costados” não sabe explicar bem porque tem, todos os anos, de regressar ao Minho e, por lá, recarregar energias que, “talvez, não sei ao certo, aquele verde intenso ajude a repor”. E intensidade, determinação, uma atenção acutilante à realidade que a circunda não faltam à coordenadora do Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da Solidariedade entre Gerações.


Maria Joaquina Madeira, 65 anos, garante que, apesar da diferença geracional entre ela e o ministro da Solidariedade e Segurança Social, o diálogo e o trabalho estão em perfeita sintonia. Diz que são uma “boa prática, daquilo que este Ano Europeu também defende: diálogo e solidariedade entre gerações". De Maria Joaquina Madeira, Pedro Mota Soares, 37 anos, disse, durante o discurso de abertura do Ano Europeu, a 28 de Fevereiro, que “a sua ação, determinação e experiência são garantia de que Portugal saberá aproveitar este 2012”, acrescentando que a coordenadora “é uma pessoa incontornável na área social, com provas dadas e uma experiência transversal que será capitalizada no desenrolar deste Ano Europeu, nas suas diversas frentes”.

Doroteia, nos tempos de colégio, Maria Joaquina Madeira revê-se na rebeldia e no secretismo do “Clube dos Poetas Mortos”, um dos seus filmes de eleição. De resto, aprecia quem sobe para cima da mesa e se dispõe a ver as coisas noutra perspetiva.

Partilha algumas ideias de “Saberes e Pilares para a Educação do Século XXI”, de Edgar Morin, que tem na mesa-de-cabeceira, mas o seu pragmatismo e a atual conjuntura levam-na a citar Peter Druker, que, nos últimos 50 anos da sua carreira, deu grande atenção à transição histórica do trabalho industrial para o trabalho do conhecimento.

A FOCUSSOCIAL subiu a uma mesa e conversou com Maria Joaquina Madeira. Para ver o Ano Europeu numa outra perspetiva. A sua.

Pode ler-se a entrevista aqui