Trrim, trrim, trrim. A campainha da bicicleta do Senhor Mário, carteiro, era a alavanca dos meus dias adolescentes. Ainda hoje é a onomatopeia da minha vida! Desde miúda que as cartas - todas as cartas – me seduzem. Quando comecei a recebe-las, dirigidas a mim, percebi o porquê da minha intuição. Era o mundo feito abecedário. Muito nosso.
[e era o que me apetecia. uma carta. com envelope e selo. daquelas que já quase não se recebem...nem escrevem]
domingo, outubro 3
Apetecia-me uma carta
Escrito/editado por Marta 6 Terráqueos
Etiquetas: cartas em vez de telegramas
segunda-feira, maio 4
a tua cadeira
eu não sabia que a luz se podia sentar no teu lugar.
dei conta hoje, quando na tua cadeira pousou a primeira luz da manhã.
eu não sabia como somos tão iguais quando se trata do princípio da vida.
e não sabia, ainda, que os nossos sonhos jamais se poderiam fundir
apesar de, um dia – eu sei que sim – termos acreditado que nos daríamos paz.
quem diz paz, diz amor.
eu não sabia que poderíamos ter sido um do outro. um.
um farol, apesar das intermitências, é sempre um sinal.
e eu também não sabia.
eu não sabia que se fosse ilha, em vez do mar que a circunda
podia, ainda, estar dentro do teu peito.
às vezes penso que estou.
mas deixo de acreditar.
tal como um ateu diante da vida. tal como um milagre diante de um ateu,
eu não sabia que tu, um dia, poderias vir ao meu encontro
com vontade de dançar.
eu gostaria que em vez da luz no teu lugar, ainda fosses tu.
dei conta, hoje, quando no meu coração se sentou, para ficar,
tanta ternura vivida, tantos anos depois do amor.
do amor sem nenhum adereço.
do amor silencioso como espuma.
tão silencioso como a ausência de luz
na tua cadeira.
imagem: Ana Rita Carvalho
Escrito/editado por Marta 8 Terráqueos
Etiquetas: cartas em vez de telegramas
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