quinta-feira, março 28

O meu sonho habitual




Tenho às vezes um sonho estranho e penetrante
Com uma desconhecida, que amo e que me ama
E que, de cada vez, nunca é bem a mesma
Nem é bem qualquer outra, e me ama e compreende.

Porque me entende, e o meu coração, transparente
Só pra ela, ah!, deixa de ser um problema
Só pra ela, e os suores da minha testa pálida,
Só ela, quando chora, sabe refrescá-los.

Será morena, loira ou ruiva? — Ainda ignoro.
O seu nome? Recordo que é suave e sonoro
Como esses dos amantes que a vida exilou.

O olhar é semelhante ao olhar das estátuas
E quanto à voz, distante e calma e grave, guarda
Inflexões de outras vozes que o tempo calou.

Paul Verlaine, in "Melancolia"
Tradução de Fernando Pinto do Amaral


3 Comments:

Luis Eme said...

não deixes de sonhar.

João Menéres said...

Quando retornas com regularidade, Marta ?

Um beijo num dia que se adivinha ventoso.

Unknown said...

Olá Marta! Que belo poema que transcreveu. Tem lido alguns da Gabriela Mistral? Vai gostar ainda mais. Um abraço

Porque dar um abraço a quem não conhecemos
É prova de afecto e consideração
Enviar-lhe alguns versos que fazemos
Só pode provir do coração
(Deste seu amigo Alberto Quadros)