sexta-feira, fevereiro 17

A ti que não tens nome...


[...]

A ti que não tens nome e que os outros ignoram,

O mar diz-te: sobre mim, o céu diz-te: sobre mim,

Os astros adivinham-te, as nuvens imaginam-te

E o sangue espalhado nos melhores momentos,

O sangue da generosidade

Transporta-te com delícias.


Canto a grande alegria de te cantar,

A grande alegria de te ter ou te não ter,

A candura de te esperar,  [...]


Paul Eluard, in Algumas das Palavras, Tradução de António Ramos Rosa


imagem: Paul Eluard por Henri Cartier-Bresson 

terça-feira, fevereiro 14

A Curva dos Teus Olhos



A curva dos teus olhos dá a volta ao meu peito


É uma dança de roda e de doçura.

Berço nocturno e auréola do tempo,

Se já não sei tudo o que vivi

É que os teus olhos não me viram sempre.



Folhas do dia e musgos do orvalho,

Hastes de brisas, sorrisos de perfume,

Asas de luz cobrindo o mundo inteiro,

Barcos de céu e barcos do mar,

Caçadores dos sons e nascentes das cores.



Perfume esparso de um manancial de auroras

Abandonado sobre a palha dos astros,

Como o dia depende da inocência

O mundo inteiro depende dos teus olhos

E todo o meu sangue corre no teu olhar.



Paul Eluard, in Algumas das Palavras, Tradução de António Ramos Rosa