quarta-feira, abril 22

À procura de um certo tom de azul


Quando estou triste, uma das coisas que mais gosto de fazer, é entrar em livrarias e ver livros. [e o mesmo se passa, quando estou contente. Só que de outra forma.

Depois, outro dia, explico a diferença].

Este livro de que falo, agora, comprei-o num desses dias, num impulso. Dizem os estudiosos do marketing que o acto da compra é, acima de tudo, emocional. Mas não foi a capa - muito importante - que impulsionou o meu acto de compra. Foi a pequena sinopse, na contra-capa.

A história passa-se na Veneza de 1295.

«Teresa Fiolaro, uma mulher que há muito tentava em vão ter um filho, encontra um bebé abandonado num estreito canal. Chama-lhe Paolo». E só a partir daqui a história me começa a prender. Paolo cresce numa família de vidreiros de Murano e, na sua juventude, terá por missão encetar uma longa viagem que visa procurar e encontrar o azul - o azul ultramarino - o certo tom de azul extraído das minas de lápis lazúli. É um pintor florentino que lhe dá essa tarefa e lhe financia a odisseia, pois precisa desse exacto tom de azul. Paolo (só a sua mãe adoptiva terá dado conta) vê mal ao longe mas, ao perto, tem uma visão apuradíssima e uma invulgar capacidade de distinguir tons e cores. Reconhecendo-lhe esta capacidade Simone Martini, o pintor, confia-lhe a missão de encontrar a cor do céu. «Essa viagem vai levá-lo para lá do mundo conhecido, através da Pérsia, Afeganistão e China, onde terá a oportunidade para aprender mais sobre as cores, a beleza e o amor, mas também sobre a derradeira diferença entre ver e olhar».

Sim. Mas não só do ponto de vista filosófico. Este livro, da Saída de Emergência, dá-nos um pouco de como a vida de quem vê mal, mudou com a invenção dos óculos. Paolo partiu sem eles, mas regressa com uns. Com uns óculos, um inevitável novo olhar sobre o mundo e...com um amor...

[esta parte do amor é muito bonita. muito bonita mesmo.]


«A data precisa da chegada dos óculos a Itália é desconhecida, mas a 23 de Fevereiro de 1306, na Igreja de Santa Maria Novella em Florença, o Fra Giordano di Rivalto leu um sermão em que observou: "ainda não passaram vinte anos desde que se conhece a arte de fazer óculos, uma das mais úteis artes da terra..."Isto colocaria a data em 1287, o que se ajusta muito bem à referência de Marco Polo ao uso de óculos pelos idosos na China». Mas, para além desta, o autor - James Runcie - faz outras interessantes referências históricas sobre os óculos e deixa-nos saber que em 1462 havia já quem os usasse apenas como ornamento começando aí «a sua história intermitente como acessório de moda». E confessa, em nota, no final do livro: «Ainda acho isto extraordinário: mas eu sou daquelas pessoas míopes que cresceram com óculos de aros de arame do Serviço Nacional de Saúde britânico, mantidos inteiros com fita-cola. Nos anos 60 e 70 isto certamente não era uma vantagem em termos de estilo».


[Um certo tom de azul. A cor do céu. Quem não a procura? Com ou sem óculos...]
imagem: Paulo Vasques