sexta-feira, março 13

Do chapéu e da forma de o usar II


(...) Mas não nos desviemos do significado da palavra chapéu. Ao longo desta pesquisa, encontramos muitos e diferentes vocábulos para o designar. Uns defendem que «ocapuz ou capucho, do latim, capitium, deu origem à palavra». Outros dizem que chapéu provém do latim antigo, cappa, que significa peça usada para cobrir a cabeça. Mas Ricardo Stokler remete-nos também para o uso de grinaldas ou capelas de flores frescas, em voga na corte francesa e que tinham o nome de chapel. Desta palavra, explica aquele autor,«procede o nosso chapéu». O dicionário-enciclopédico, de 1992, também refere que a palavra chapéu tem origem no francês antigo chapel.
As antigas civilizações já usavam coberturas de cabeça. Os egípcios, por exemplo, usavam a calantica, «espécie de coifa com pregas, presa à cabeça por meio de fitas ou de cintas que ficavam pendentes dos dois lados a descair sobre os ombros», diz Ricado Stockler. Adoptada pelos romanos, a calantica chegou a adornar a cabeça da deusa Ísis.
As civilizações do Médio Oriente usavam «uma espécie de boné pontiagudo ou baixo» parecido com o cofió, mas eram os turbantes que tinham a primazia de cobrir a cabeça. Chapéu, capuz ou carapuço também agradavam tanto a homens como a mulheres daquelas civilizações.
Mas são os gregos e os romanos que nos oferecem informações mais concretas sobre as coberturas de cabeça. Usavam o galenus; kyne para os gregos, que usavam também o causia, «um chapéu de feltro de copa alta, abas largas, levemente quebradas». Original da Grécia, Tessália, o petasus era maleável, prático, tomava muitas formas e tinha a copa baixa e abas largas e salientes». Tornou-se comum entre os viajantes e foi colocado em cabeças divinas: Hermes e Mercúrio foram assim representados em esculturas que, de acordo com Ricardo Stockler, chegaram aos nossos dias. Outros autores, crêem que o petasus perdurou durante toda a Idade Média.
O pileus era também uma cobertura de cabeça muito usada na antiguidade clássica: «era pequeno, semi-circular, frequentemente sem aba, feito de feltro ou de couro (...) confundia-se com o barrete frígio. A sua forma de cone, com a ponta caída para um lado, foi “reabilitado” pela Revolução Francesa, tornando-se um símbolo do partido republicano». Ainda hoje, os franceses, na sua mudança frequente do busto feminino que representa a República, o colocam na cabeça da mulher escolhida para simbolizar a liberdade. É também conhecido por “bonnett rouge”. [cont.]

quarta-feira, fevereiro 11

Do chapéu e da forma de o usar I

Do chapéu muito há para contar. Desde os tempos mais remotos, é conferido ao chapéu uma dupla função. A primeira é a de resguardar a cabeça contra as diferentes condições climatéricas e, por conseguinte, preservar a saúde. A outra prende-se com a carga social e simbólica que lhe é conferida ao longo dos séculos nas diferentes sociedades e geografias. Símbolo social e hierárquico, cultural e político, desportivo e religioso, o chapéu é usado desde tempos imemoriais. O chapéu é como uma bússola que nos orienta em múltiplas direcções. A partir dele vamos de encontro à história do traje, à origem da moda, às diferentes e constantes mutações sociais, aos códigos e normas que regem a forma de estar nos quotidianos de todos os séculos, ao despertar da civilidade, aos símbolos e significações, ao protocolo e à etiqueta e, por fim, ao uso do chapéu ao longo do tempo.
Sobre a história do chapéu encontramos alguns estudos e artigos mais ligeiros. Comecei por procurar o significado actual da palavra chapéu num dicionário de 1998, o mais recente que consultei, que refere o seguinte:«cobertura para a cabeça, geralmente formada de copa e aba;cobertura para a cabeça de senhoras, de feitios vários e com ou sem adornos; abrigo; resguardo». Num outro dicionário, de 1972, significa «cobertura de forma diversas, para a cabeça de homem ou de mulher». O primeiro dicionário especifica melhor o chapéu de senhora, talvez porque hoje em dia encontremos mais pessoas do sexo feminino a usarem chapéu.Os livros actuais sobre etiqueta e protocolo também reservam mais espaço ao chapéus de senhora e, mesmo as próprias revistas de moda, dedicam-lhe mais atenção. Mas nem sempre foi assim. Nas civilizações clássicas o chapéu era interdito aos escravos e à mulher. Mulheres nobres e plebeias, por lei renovada pelo imperador Séptimo Severo, não o podiam usar. Esta proibição serviu como inspiração à mulheres daquele tempo, que fizeram dos penteados a arte de adornar a cabeça. [continua]

Peço desculpa por não referir o autor da imagem. Mas não sei.