terça-feira, maio 19

Deu-lhe a mais limpa manhã


Deu-lhe a mais limpa manhã

Que o tempo ousara inventar

Deu-lhe até a palavra " lã"

E mais não podia dar

Deu-lhe o azul que o céu possuía

Deu-lhe o verde da ramagem

Deu-lhe o sol do meio dia

E uma colina selvagem

Deu-lhe a lembrança passada

E a que ainda estava por vir

Deu-lhe a bruma dissipada

Que conseguira reunir

Deu-lhe o exato momento

Em que uma rosa floriu

Nascida do próprio vento

Ela ainda mais exigiu

Deu-lhe uns restos de luar

E um amanhecer violento

(Que ardia dentro do mar)

Deu-lhe o frio esquecimento

E mais não podia dar.


Carlos Pena Filho in Vertigem Lúcida,1958
imagem daqui