quinta-feira, abril 16
Do desemprego
Só quem já esteve no desemprego, pode avaliar. Bem. Convenientemente. Com conhecimento. Como em [quase] tudo na vida! A expressão "eu já lá estive" ou "eu já estive lá" aplica-se para exprimir o quanto compreendemos como é passar por determinada situação.
Ser desempregado [é trazer a alma e o corpo e tudo num frangalho, é puxarem -nos até ao limite da nossa dignidade, e emparedarem-nos no conceito de desempregado de longa duração] é diferente de estar desempregado [algo mais provisório, que dura pouco tempo e mesmo o pouco tempo é sempre relativo, claro]. Eu, pelo menos, entendo-o assim. Pois já fiquei no desemprego, como se diz por aí. Já fiz parte, há alguns anos, das estatísticas desse flagelo social que, agora, sai do "volteio" para ir a galope, sabe-se lá até onde!
E fico, acreditem, agoniada. E fica a doer-me tudo. Como se a dor dos que lá estão, agora, realmente dolentes e tristes, me doesse a mim. De facto. Talvez porque, como disse, já soube o que é levantar-me e não ter para onde me dirigir. A não ser para as páginas dos jornais à procura de anúncios. A não ser para o computador, redigir cartas e curriculuns vitae. A não ser para entrevistas, tantas vezes, surreais. Mas isso seria o menos. Mau, mau, digo eu, é não obter nenhuma resposta, quando se responde a um anúncio de emprego ou se faz uma candidatura espontânea. Nenhuma. Como se não tivessem recebido nada! Como se as nossas esperanças e sonhos e anseios se tivessem extraviado! Para sempre! Será que custa muito responder por uma qualquer via: recebemos o seu CV. Ponto. Ficará em base de dados. Ponto. Obrigada. Ponto. Assim, tipo, como quem diz: olhe, recebemos. Nem tudo corre mal. Ao menos a sua candidatura não se perdeu. Ainda bem que lhe apetece vir trabalhar connosco. Mas, agora, não dá. Só podemos escolher um. Não desespere. Espere sentada. Porque a sua vez, chegará! Ponto final. Mudar de linha. Já não se pedia mais! Ao menos um feed-back. Qualquer sinal!
Será pedir muito? Aos Senhores dos Recursos Humanos. Aos gestores desses processos? Creio que não. Então se soubessem o que é ler o Expresso Emprego até à náusea, veriam que não! Que não é pedir muito! Ao menos que o trabalho da Revista Visão; ao menos, pelo muito menos, quem acompanhar diariamente estes desempregados dê conta da urgência de mudar atitudes, procedimentos. Sensibilizar para as pequenas coisas que em todo este processo e seus desdobramentos, podem ser feitas, sem investimento de dinheiros! Eu sei que as mudanças de mentalidade são difíceis e lentas! Mas, caramba, fazem a diferença. Principalmente para quem está emparedado no conceito de desempregado de longa duração!
Porque quem lê anúncios e envia CVs até ao desespero, precisa de um sinal. Precisa, ao menos, que lhe digam que a sua vida não se extraviou, nem foi trocada por outra!
Definitivamente!
Escrito/editado por Marta 15 Terráqueos
Etiquetas: desemprego, sociedade
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