sábado, maio 2

A Rosa Púrpura do Cairo




Diz assim, na contracapa do DVD:
«Um dos melhores filmes sobre filmes alguma vez feito» (Time Magazine), a Rosa Púrpura do Cairo, de Woddy Allen liberta-se da convenção do olhar cinematográfico para criar uma fábula mágica e "inebriante" sobre a vida, o amor, a ilusão e a esperança. (...) Mostra Allen "no pico da sua imaginação e compaixão, ao registar a magia do cinema em todo o seu esplendor.

Cecília encontra-se completamente viciada em filmes de Hollywood. Fascinada pelo seu novo filme favorito, A Rosa Púrpura do Cairo, fica espantada quando o protagonista (Tom) sai de repente do ecrã para a conhecer. Arrebatada pelo seu charme, Cecília apaixona-se por ele - até conhecer o actor real (Gil) que representa a personagem. Apaixonada simultaneamente por uma personagem de ficção e por um actor famoso, Cecília esforça-se para encontrar a fronteira entre a realidade e a fantasia, que tal como irá descobrir, encontra-se muitas vezes à distância de um sentimento».
Vi este filme, pela primeira vez, com vinte e poucos anos. Ontem, revi-o! E só o revi ontem, porque não havia forma de o encontrar em DVD. Agora, a fnac tem-no disponibilíssimo.
Deixo-vos com um excerto dos diálogos. Fabulosos e com muito humor. Um filme sempre a ver e rever. Digo eu! Entre o a cores e o preto e branco. Para nos situarmos entre ficção e realidade. Sem pipocas!

[Com Tom, a personagem do filme que se apaixona por Cecília e sai da tela do cinema para a ir buscar à sala do cinema ...e levá-la para dentro do ecrã...]

Cecília - Toda a vida quis saber como seria estar deste lado do ecrã.

Tom - Estás a ver a cidade a acordar? É toda tua.

Cecília - O meu coração está a bater tão depressa.

[Ele beija-a e, do outro lado da tela, ou seja, na vida real, aparece o actor (Gil) que representa a personagem e resolve ir até à sala de cinema vazia, mas onde o filme não pára de ser projectado]
Gil - Cecília!
Cecília - Gil, o que fazes aqui?

Gil - Vim aqui para pensar. E tu, o que fazes aqui?
Tom - Ela veio sair comigo. Podes deixar-nos em paz?

Gil - Não, não posso, tenho ciúmes.

Cecília - Tens ciúmes?

Gil - O que é que queres que diga? Não consigo esquecer-te.

Cecília - A sério, Gil?

Tom - Por favor, volta para Hollywood!

Gil - Tenho vergonha de admitir. Lembras-te de ter dito que tinha um brilho mágico? Mas és tu, tu é que o tens. E embora nos tenhamos acabado de conhecer, sinto que isto é verdadeiro.

Tom: Não podes gostar dela, ela gosta de mim.
Gil - Dá meia volta e entra para o filme.
Tom - Nunca mais volto para o filme.

[Entretanto, os restantes actores do elenco do filme que está na tela, observam a cena fora do ecrã e resolvem intervir]

Actor secundário - Não acredito nisto! Lá estão eles outra vez. Tom, volta para aqui.

Gil - Estás a ver Tom, estás a estragar tudo!
Tom - Tu é que estás!
Gil - Se não fosse eu, não existias.

Tom - Não estejas assim tão certo. Podia ter sido representado pelo March ou pelo Howard.

Actor secundário - Enganaste. O teu papel é muito insignificante para atrair uma estrela de renome.

Gil - Insignificante? Que raio de conversa é essa?
Tom - Não sou uma personagem de segunda!

Gil - Não penso em mais nada desde que nos conhecemos. Tenho de passar algum tempo contigo para te mostrar como é a vida quando duas pessoas se amam.

Cecília - A semana passada ninguém me amava, e agora duas pessoas gostam de mim e são a mesma pessoa.

Actor secundário - Fica com o verdadeiro. Nós somos limitados.

Outro actor secundário - Fica com o Tom. Ele não tem defeitos.

Outro actor secundário - Fica com alguém, porque isto está a ficar chato.

Tom: Ela vai ficar comigo. Estás a perder tempo.

Gil: Volta para o ecrã. Estou a tentar dizer à Cecília que a amo.
Tom: Eu amo-te, sou honesto, de confiança, corajoso, romântico e beijo bem.
Gil - E eu sou verdadeiro.
Actor secundário: Vá lá Cecília. Escolhe um, para acabarmos com isto. A maior característica humana é a possibilidade de escolha. [...]