"No dia seguinte,logo de manhã, o rapaz foi ao seu jardim e colheu uma rosa encarnada muito perfumada. Foi para a praia e procurou o lugar da véspera.
-Bom dia, bom dia, bom dia - disseram a Menina, o polvo, o caranguejo e o peixe.
-Bom dia - disse o rapaz. E ajoelhou-se na água, em frente da Menina do Mar.
-Trago-te aqui uma flor da terra -disse; chama-se rosa.
É linda,é linda- disse a Menina do Mar,dando palmas de alegria e correndo e saltando em roda da rosa.
-Respira o seu cheiro para veres como é perfumada.
A Menina pôs a cabeça dentro do cálice da rosa e respirou longamente. Depois levantou a cabeça e disse suspirando:
-É um perfume maravilhoso. No mar não há perfume assim. Mas estou tonta e um bocadinho triste. As coisas da terra são esquisitas. São diferentes das coisas do mar. No mar há monstros e perigos, mas as coisas bonitas são alegres. Na terra há tristeza dentro das coisas bonitas.
-Isso é por causa da saudade - disse o rapaz.
-Mas o que é a saudade?- perguntou a Menina do Mar.
-A saudade é a tristeza que fica em nós quando as coisas de que gostamos se vão embora."
Sophia de Mello Breyner Andresen in A Menina do Mar
sábado, agosto 28
-Isso é por causa da saudade - disse o rapaz.
Etiquetas: Escritores, Sophia de Mello Breyner Andresen
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5 Comments:
Depois que li o Geografia dela, nunca mais a larguei. Ela é mais que uma onda e mesmo que um mar, é um oceano de sentimentos e poesias.
Lindo. Penso, todavia, que a saudades é a vontade de ver e não poder. Se diferencia do amor, porque uma vez que ocorre o reencontro ela passa ainda mais rapidamente. Um grande abraço.
Belo enredo, lembrou-me de "Ana e o Mar" de Fernando Anitelli...
Gostei... Saudade...
Abraços
o cálice se derramou por aqui...
há cheiro de saudade pelo ar
Bípede: Sophia é o meu início do mundo. comecei a ver pela suas mãos.
Terráqueo: enquanto pensei, não senti saudades. devo-te essa.
abraço
Almyr: vou procurar conhecer...obg.
Zaclis, querida: pelo ar, pela terra, pelo mar, por todo lado.
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