Sim, quero dizer sim ao inacabado
sexta-feira, maio 15
SIM
que é o princípio de tudo
e o que não é ainda,
sim ao vazio coração que ignora
e que no silêncio preserva o sim do início,
sim a algumas palavras que são nuvens
brancas e deslizam amplas
sobre um mundo pacífico,
sim aos instrumentos simples
da cozinha,
sim à liberdade do fogo
que adensa o vigor da consciência,
sim à transparência que não exalta
mas decanta o vinho da pesença,
sim à paixão que é um ajuste ao cimo
de uma profunda arquitectura íntima,
sim à pupila já madura
que se inebria das sombras das figuras,
sim à solidão quando ela é branca
e desenha a matéria cristalina,
sim às folhas que oscilam e brilham
ao subtil sopro de uma brisa,
sim ao espaço da casa, à sua música
entre o sono e a lucidez, que apazigua,
sim aos exercícios pacientes
em que a claridade pousa no vagar que a pensa,
sim à ternura no centro da clareira
tremendo como uma lâmpada sem sombra,
sim a ti, tempestade que iluminas
um país de ausência,
sim a ti, quase monótona, quase nula
mas que és como o vento insubornável,
sim a ti, que és nada e atravessas tudo
e és o sangue secreto do poema.
António Ramos Rosa
[de No Calcanhar do Vento, 1987] in Os Quatro Elementos, pag. 39, ASA, 2004
imagem: pintura de Magritte
Etiquetas: António Ramos Rosa, Poemas que sinto; Escritores
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7 Comments:
Um belíssimo SIM à vida. A.R.R. o mais que for possível. Infatigável artesão de imagens.
Obrigada, Marta.
não conhecia, da obra do autor, este poema, pelo que foi uma boa surpresa, marta. adorei ler. um beijinho para ti.
Muito lindo. Gosto também do Magritte com todos os elementos enquadrados pelo muro.
Sim às janelas rasgadas
Um sim a muitos Sins que existem na vida_________não conhecia.
Eu digo SIM!!!
jocas
como gostei de ler e reler
jocas maradas menina linda
Gosto muito deste poema Marta!
Um beijinho
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